Protagonista chave dos sistemas de saúde homenageado…
Celebrou-se, no dia 19 de maio, o Dia Mundial do Médico de Família 2014, uma iniciativa da responsabilidade da Organização Mundial dos Médicos de Família (WONCA), apoiada em Portugal pela Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF), que em julho deste ano organizará em Lisboa o maior congresso a nível mundial de médicos de família, o 19º Congresso Europeu da WONCA (www.woncaeurope2014.org/pt).
O Dia Mundial do Médico de Família foi celebrado pela primeira vez em 2010 e tem por objetivo destacar e divulgar o papel destes profissionais de saúde para o desenvolvimento sustentado dos sistemas de saúde e para a garantia de bem-estar por parte das populações, sempre numa perspetiva de proximidade às comunidades e às famílias.
Em Portugal, o contributo dos médicos de família tem sido fundamental para a consolidação dos bons resultados do Serviço Nacional de Saúde (SNS), bem como para o sucesso das estruturas recentemente criadas no âmbito da reforma dos cuidados de saúde primários com vista a melhor servirem os portugueses, as Unidades de Saúde Familiar (USF). Mas independentemente do modelo organizativo onde estão inseridos, os médicos de família contribuem de forma decisiva para os melhores resultados em saúde.
A Medicina Geral e Familiar é uma especialidade essencial para garantir a sustentabilidade dos sistemas de saúde. Oferece cuidados centrados na pessoa, dentro do seu contexto familiar e comunitário, de forma contínua, independentemente da idade, género ou condição socioeconómica, integrando no processo de cuidados fatores físicos, psicológicos, sociais e culturais, que contribuem para o processo terapêutico.
O médico de família tem uma responsabilidade profissional, social e ética com a comunidade que serve. Desempenha o seu papel crucial através de ações de prevenção da doença e promoção da saúde, da prestação de cuidados assistenciais, de reabilitação e paliativos, em linha com as necessidades de saúde identificadas, respeitando a diversidade cultural e otimizando os recursos disponíveis no seio do sistema de saúde e na sociedade da qual faz parte. Face aos ganhos que permite obter em termos de saúde individual, familiar e pública, é legítimo esperar que os diferentes países zelem pelo desenvolvimento e manutenção das competências, valores e equilíbrio pessoal dos médicos de família, de modo a que estes tenham a possibilidade de prestar cuidados efetivos e seguros.
De acordo com dados de 2012, da Fundação Francisco Manuel dos Santos, existem em Portugal cerca de 5600 médicos de família. Já o Estudo de Evolução Prospetiva de Médicos no Sistema Nacional de Saúde (realizado por uma equipa de investigadores liderada por Paula Santana – Universidade de Coimbra) publicado em 2013 e baseado em dados de 2011, mostrou que 77,9% deste total corresponde a profissionais com mais de 50 anos de idade. Nessa altura, o rácio nacional era de um médico de família por cada 1.767 habitantes, valor abaixo daquele encontrado em países como Inglaterra e França, mas que compara bem com contexto geral europeu. Apesar do considerável envelhecimento do perfil do médico de família no nosso país, o alargamento das vagas nas escolas médicas portuguesas, nas últimas duas décadas, acompanhado do crescimento sustentado das vagas para o Internato da Especialidade de Medicina Geral e Familiar, nos últimos oito anos, está a permitir formar uma nova vaga de especialistas, o que significa que se alcançou um ponto de equilíbrio. De acordo com os analistas, a partir de 2016/2017 Portugal tem condições para deixar de ter falta de médicos de família. Aliás, no presente apenas nas Regiões de Lisboa e Vale do Tejo e do Algarve se verifica escassez acentuada de médicos de família (que perdurará mais três a quatro anos para além de 2017). Os problemas sentidos e relatados pelas populações no restante território estão, quase sempre, relacionados antes com uma deficiente distribuição dos recursos humanos.