Política de saúde

Cada ACeS deverá ter uma consulta multidisciplinar de atividade física

Coordenador do PNPAF anuncia em evento internacional:

O coordenador do Programa Nacional para a Promoção da Atividade Física (PNPAF), Pedro Teixeira, garante que está a trabalhar em conjunto com a sua equipa para apresentar uma proposta que levará à criação de uma consulta multidisciplinar por cada agrupamento de centros de saúde (ACES), para a qual possam ser referenciados os utentes que necessitem de obter aconselhamento e recomendações especializadas na área do exercício. Este anuncio foi feito no âmbito do simpósio internacional «The European Initiative for Exercise is Medicine», realizada recentemente em Lisboa.

Pedro Teixeira revelou ainda que deverá ser publicado, em breve, um despacho sobre a promoção de atividade física no Serviço Nacional de Saúde (SNS) e compartilhou com a audiência do evento uma ambição sua de longa data, que poderá ser crucial para evitar que Portugal continue a ser um país no qual três em cada quatro adultos são inativos: “o meu sonho é que se possa criar um processo de reconhecimento de competências e de certificação dos profissionais que trabalham no domínio do exercício”. O mesmo dirigente sublinhou que os três eixos centrais do programa que lidera envolvem mudanças importantes nos cuidados de saúde primários (CSP), com alterações na oferta de serviços, na formação dos profissionais e na melhoria da articulação com os recursos humanos e infraestruturas disponíveis na comunidade. Este último ponto parece ser crítico para Pedro Teixeira, que destaca a necessidade de se apostar em sinergias que envolvam os agentes da promoção da atividade física (médicos, enfermeiros, nutricionistas, psicólogos, farmacêuticos, especialistas em fisiologia do exercício, técnicos de desporto, etc.) no sentido de parar a vaga de imobilismo que tomou conta da sociedade portuguesa: “é fundamental estabelecer uma rede de confiança. Para tal, são precisos procedimentos e acordos que ainda não se tornaram uma realidade”.

O coordenador do Programa Nacional para a Promoção da Atividade Física recordou também que a canalização de mais verbas para esta área de intervenção daria origem, com certeza, a melhores frutos: “somos especialistas em fazer muito com pouco dinheiro. Mas não podemos fazer tudo sem apoio financeiro. É essencial que a sociedade portuguesa invista a fundo nesta área e infelizmente ainda não estamos lá”.

Curiosamente, alguns minutos antes Michael Brannan, responsável pelo programa Adult Health and Wellbeing – Public Health England, adiantara que no presente ano fora alocada àquele programa inglês uma verba superior a um milhão de libras.

Ir mais longe nos CSP é possível e desejável, se existirem recursos e tempo

Ana Barata, membro da direção nacional da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF) frisou neste simpósio as dificuldades sentidas pelos médicos de família (MF) no seu dia a dia e que, muitas vezes, acabam por condicionar a sua ação no âmbito da promoção da atividade física: “sentimos que cai tudo em cima de nós e é muito difícil trabalhar assim. Dispomos de vinte, por vezes quinze minutos para cada consulta e para tratar de um conjunto vasto de problemas do utente”. De qualquer forma, Ana Barata julga que é possível incrementar a eficácia dos CSP e dos MF neste campo, caso se opte por soluções inovadoras: “é ótimo já podermos contar com uma avaliação da atividade física do utente integrada no SClínico, mas como seria excelente podermos contar com uma app para este acompanhamento. Algo que faz sentido até porque uma grande parte dos nossos doentes utiliza um smartphone”.

A escassez, nos CSP, de muitos dos profissionais com competências indispensáveis para alterar comportamentos de sedentarismo e estimular a prática de exercício a longo termo é outro dos problemas crónicos no SNS. Alexandra Bento, bastonária da Ordem dos Nutricionistas recordou a presença anémica dos profissionais que representa no patamar mais importante de prestação de cuidados: “temos cerca de 100 nutricionistas nos CSP, o que significa que não existe sequer um nutricionista por cada centro de saúde”.

Face a esta e a outras condicionantes sentidas no quotidiano, Alexandra Bento considera que “não há uma verdadeira política nutricional no nosso país”, apenas algumas medidas avulso que vão surgindo e que por vezes contêm mérito intrínseco, como acontece com a penalização fiscal associada às bebidas açucaradas. Este baixo índice de efetividade na transformação de maus comportamentos alimentares não pode, como é evidente, ser desligado da alteração dos padrões de atividade física da população, já que os dois objetivos representam dois lados da mesma moeda.

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