19º Congresso Nacional de MGF
A medicina indiferenciada não é algo de utópico, mas um perigo real, alertou Carlos Cortes, presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos, na cerimónia de encerramento do 19º Congresso Nacional de Medicina Geral e Familiar.
“Ainda há pouco tempo o Ministério da Saúde abriu 2.147 vagas para o Ano Comum, que correspondem ao número de médicos que se formam nas faculdades mais aqueles (cerca de 300) que provêm de universidades estrangeiras”. Uma vez que “o SNS e os hospitais da área privada têm uma capacidade que dificilmente ultrapassará as 1.600 capacidades formativas, temos um diferencial de 500 médicos. Muitos deles encontrarão outras oportunidades, provavelmente no estrangeiro, mas muitos irão ficar em Portugal a praticar, infelizmente, medicina indiferenciada. E não é isso que queremos para o nosso país”.
Considerando que os médicos de família e a Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF) “não andaram todos estes anos a lutar pela dignidade e exigência de formação da sua especialidade para agora, com o maior dos facilitismos, serem substituídos nos centros de saúde por médicos indiferenciados”, Carlos Cortes endereçou um pedido “ao futuro ministro da Saúde”, para que “não fique para a história como aquele que, tal como o atual ministro da saúde, quer retroceder na qualidade dos cuidados de saúde várias décadas, bem como na elevada formação de qualidade que a Medicina Geral e Familiar possui”.
O excesso de médicos, a par de capacidades de formação insuficientes poderá conduzir, na perspetiva de Rui Nogueira, presidente da APMGF, ao “caos no Serviço Nacional de Saúde”, com implicações sérias na saúde dos cidadãos.
“Ao longo de décadas construímos as condições ótimas para a formação médica. As nossas faculdades, os nossos hospitais e os centros de saúde permitiram, e ainda permitem, fazer uma formação médica considerada das melhores da Europa e do Mundo”. Mas “não vamos conseguir formar dois mil médicos por ano”, referiu o dirigente da Associação.
Por outro lado, o elevado número de estudantes que todos os anos entram nas faculdades de Medicina faz antever que, no futuro próximo, cerca de 1/3 dos médicos recém-licenciados “irá encontrar grandes dificuldades para exercer” no nosso país.
Entretanto, com as eleições à porta, “muito temporal pode acontecer”, considera o presidente honorário da APMGF, Mário Moura. “Temos de estar mobilizados para a defesa do Serviço Nacional de Saúde, a grande conquista pós-25 de Abril, e também para a defesa da Medicina Geral e Familiar”. Chefias infetadas com “partidarite”, incompetência, fortes ventos de privatização, pressão da tecnologia “sobre a clínica verdadeira”, são algumas das ameaças identificadas pelo decano da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar.
Neste ambiente, Mário Moura pediu aos especialistas e internos de MGF reunidos na Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Viseu para defenderem a especialidade “até à exaustão”.