Para alcançar melhor literacia em saúde:
No sentido de promover a utilização de um sistema de informação que permita ao cidadão não somente aceder à sua informação em saúde, mas também registá-la, geri-la e partilhá-la, é preciso que tal sistema esteja realmente centrado no utente, seja universal e interoperável. Esta foi uma das principais conclusões apuradas por um grupo de peritos convidado pelo projeto “Saúde que Conta” a produzir contributos que possibilitem a implementação de uma estratégia nacional de literacia em saúde.
Entre as principais propostas apresentadas publicamente em Lisboa, no dia 15 de novembro, realce ainda para a ideia partilhada pelos peritos de que é fundamental, para assegurar uma comunicação efetiva entre o profissional de saúde e o cidadão (com vista à decisão partilhada e à negociação em cuidados de saúde) um reforço da formação pré, pós-graduada e contínua dos profissionais em processos comunicativos. De facto, os especialistas acreditam que a melhoria das competências de comunicação dos profissionais de saúde só poderá acontecer mediante a introdução de modelos de aprendizagem de técnicas comunicacionais, obrigatórias e comuns aos curricula dos diferentes perfis profissionais na saúde.
Ao comentar as propostas dos peritos durante a apresentação pública do projeto, o presidente da APMGF, Rui Nogueira, reconheceu que “a comunicação em saúde tem de ser aperfeiçoada por parte dos profissionais, mas também por parte dos doentes. Não nos devemos esquecer de que estamos perante uma questão bidirecional”. O dirigente associativo acrescentou ainda que “existe muita iliteracia em saúde em Portugal até na população licenciada. É, pois, importante que consigamos capacitar estas pessoas para interpretarem dados em saúde e para conseguirem ser resolutivas, porque há muita coisa em saúde que pode ser solucionada por um doente capacitado”. Ainda na perspetiva de Rui Nogueira, é vital perceber que o país está tão mal classificado ao nível da literacia em saúde por múltiplos motivos, sendo um dos mais influentes a “quase inexistência de veículos de comunicação ao dispor dos profissionais de saúde com verdadeiro impacto, que possam competir com outros meios de grande força e de grande marketing, que por vezes transmitem noções erróneas às pessoas”.
Ana Escoval (Centro Hospitalar de Lisboa Central) sublinha que muito foi feito até hoje de positivo na área da comunicação em saúde, contudo afirma ser “imprescindível que se partilhem as boas experiências e que se simplifiquem as mensagens”. Já Ricardo Mestre (ACSS) confia que “devem existir os incentivos certos dentro dos serviços de saúde para que possa ser desenvolvido um novo paradigma no setor, em que o doente desempenha um papel ativo e está envolvido nas decisões, ao invés de ser apenas o objeto de cuidados de saúde”. O dirigente da ACSS deu nota, aliás, de que a organização que representa pretende cada vez mais introduzir esta variável de análise nos processos de contratualização.