Gerais

Erro médico…

29º Encontro Nacional de Clínica Geral
Erro médico lesa o doente… mas também o profissional de saúde
 
Uma das mais interessantes (e certamente polémicas) sessões do 29º Encontro Nacional será construída em torno de uma temática cada vez mais relevante para todos os intervenientes do sistema de saúde: o erro médico. Deletério para o doente, como é óbvio, o erro médico exerce também um forte impacto na performance das equipas e instituições de saúde, bem como na estabilidade emocional daqueles que falham, num determinado momento do seu percurso profissional. Pese embora o assunto seja muitas vezes sentido como fastidioso, até maçador, não pode de maneira alguma ser empurrado para debaixo do tapete
 
O Erro em Medicina: Uma Oportunidade?” será, seguramente, uma das mais concorridas sessões projectadas para Vilamoura pela Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF), atendendo ao enorme interesse que o assunto gera entre a classe médica portuguesa (mesmo que nem sempre seja discutido de forma franca).
Como refere o título do debate, esta será uma oportunidade única para analisar uma problemática que, não raras vezes, acaba por se esgotar em tímidas conversas de corredor entre colegas, ou em processos punitivos, resolvidos dentro das quatro paredes de um gabinete.
A sessão será moderada pela vice-presidente da APMGF e médica de família (MF) na USF Ria Formosa, Rubina Correia, tendo a participação activa de quatro convidados: Helena Beça (MF na USF Espinho, habituada a apresentar em eventos da APMGF casos clínicos que incidem sobre o erro médico), José Fragata (director do Serviço de Cirurgia Cardiotorácica do Hospital de Santa Marta e responsável por inúmeras obras sobre o erro em Medicina), Maria José Ribas (presidente do conselho clínico do ACES Porto Ocidental e autora de um recente artigo publicado na Revista Portuguesa de Clínica Geral, sobre eventos adversos) e José Augusto Simões (MF na USF Marquês de Marialva e responsável do Núcleo de Bioética da APMGF). 
Em declarações ao nosso jornal, Rubina Correia fez a antevisão da iniciativa: “pretende-se com este debate desmistificar o conceito de erro médico e debater o erro em Medicina – mais concretamente no âmbito da MGF –, com discussão de casos clínicos do nosso dia-a-dia de consulta. Queremos, também, levar os colegas da audiência a interagir. O desejo é que este tema não se torne tabu, que seja assumido uma oportunidade de aprendizagem, criando uma cultura que valoriza esta vertente, em detrimento da culpabilização ou da punição”.
Ainda de acordo com a vice-presidente da APMGF, os convidados da mesa foram escolhidos, não só por contarem com trabalho científico e um historial associado à avaliação do erro médico e à Bioética, mas também porque reúnem, entre todos, um variado leque de opiniões sobre uma matéria que suscita interpretações quase sempre divergentes: “o que cada um destes ilustres colegas poderá trazer, como valor acrescentado para a discussão, é o seu ponto de vista e a sua experiência, sendo que o conceito de erro e suas implicações têm um peso único para cada um de nós. Para além disso, todos os intervenientes são profissionais que se têm dedicado a estudar e a debater este assunto, sob várias perspectivas”.
Embora as apresentações de todos os oradores devam estar focadas, sobretudo, na exposição e análise de casos clínicos associados ao erro médico, a organização deste debate garante que não haverá lugar a trabalhos demasiado formais. Com esta estratégia, pretende-se libertar tempo para que quer os convidados, quer a audiência, possam lançar propostas e pontos de vista sobre a mudança cultural que é preciso implementar, no sentido de aprender realmente com os erros médicos.
Rubina Correia adianta, ainda, que uma das metas fundamentais da organização do Encontro Nacional, quando idealizou este debate, foi a de trazer à tona uma problemática que muitas vezes os MF portugueses preferem deixar na semiobscuridade, uma atitude que acaba por ser prejudicial para si mesmos: “para além das graves repercussões do erro em Medicina para os utentes e para o sistema de saúde, existem as não menos importantes repercussões para os médicos envolvidos, que originam muitas depressões e vidas pessoais e profissionais destruídas. Alguns casos culminam mesmo em suicídio”.
 
TR

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