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Formação é intensiva mas… vale a pena!

Escola de Medicina Familiar

A Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF) realizou, entre 2 e 5 de Maio, no Hotel Atlântico Golf, em Peniche, mais uma edição da Escola de Medicina Familiar. Participaram cerca de cem formandos, entre médicos de família e internos da especialidade, do Continente e das Ilhas. Num regime de semi-internato, formandos e formadores tiveram oportunidade de partilhar conhecimentos e conviver num ambiente informal, embora de trabalho intenso
 
Na edição de Primavera da Escola de Medicina Familiar, os médicos de família e internos da especialidade tiveram a oportunidade de optar por cinco áreas de grande relevância da Medicina Geral e Familiar (MGF): cuidados paliativos, comunicação na consulta e método clínico centrado no paciente, alimentação e nutrição, saúde do adolescente e perturbações depressivas em Medicina Geral e Familiar.
O curso de Alimentação, Nutrição e Saúde teve a coordenação científica de João Breda. Entre outras questões, foram abordados os conceitos de alimento e nutriente, os diferentes grupos de nutrientes, as especificidades da alimentação em diferentes fases da vida, erros alimentares e o valor da intervenção dietética.
Portugal tem cada vez mais gente com excesso de peso mas “também há mais médicos interessados em desenvolver as suas competências na área da nutrição e ajudar os doentes”. Nomeadamente, “porque reconhecem que o excesso de peso está directamente relacionado com a hipertensão ou a diabetes”.
Na opinião do especialista, “qualquer programa de saúde e, particularmente, no campo da obesidade, estará condenado ao fracasso se não envolver os profissionais de saúde. Nessa perspectiva, a iniciativa da APMGF neste domínio é notável”.

Clima de incerteza faz disparar casos de depressão
Na sequência da actual crise socioeconómica, as perturbações depressivas têm vindo a aumentar e a constituir um motivo crescente de consulta dos médicos de família. Coordenado por José Carvalho Teixeira, o curso sobre perturbações depressivas em Medicina Geral e Familiar abrangeu as áreas recomendadas por organizações internacionais em termos da formação específica dos MF: identificação precoce dos casos de depressão, desenvolvimento de competências de diagnóstico clínico para a diferenciação dos diferentes tipos e gravidade da depressão, avaliação do risco de suicídio e actualização sobre medicamentos antidepressivos.
José Carvalho Teixeira recorda que “à consulta de MGF acorrem muitos pacientes deprimidos que apresentam, em primeiro lugar, queixas corporais, deixando para segundo plano as queixas depressivas”. Isso poderá atrasar a identificação precoce destas situações que, na sua grande maioria, “podem ser tratadas pelo médico de família”.
O curso deu especial relevo à prevenção. Nomeadamente, através do “desenvolvimento de competências em termos da identificação de pessoas que ainda não estão deprimidas mas que, por razões ligadas à sua saúde física, doença crónica, situações de trabalho precário ou desemprego, se encontram em risco e sobre as quais é necessário actuar preventivamente com diferentes recursos”.

Competências comunicacionais permitem aumentar o desempenho na consulta
O curso Comunicação na consulta, coordenado pelo médico de família José Mendes Nunes, assenta no Método Clínico Centrado no Paciente. Basicamente, pretende-se que os formandos compreendam a utilização do médico como “agente terapêutico” e conheçam as principais técnicas de comunicação e intervenções motivacionais que podem ser usadas na consulta.
“A consulta é a parte mais nobre da consulta”, diz o médico de família. “Existe desde sempre, só que as pessoas, deslumbradas com a tecnologia médica, não lhe dão importância”. Contudo, “é através da comunicação, da identificação dos problemas dos doentes, do escutar e do ouvir que conseguimos envolver o doente e torná-lo, de facto, parte da equipa terapêutica”.

Maximizar a qualidade de vida dos doentes
Maximizar a qualidade de vida dos doentes em situação de doença avançada ou incurável, numa atitude de prevenção do sofrimento dos doentes e seus cuidadores (familiares e profissionais de saúde) é o principal objectivo do curso básico de Cuidados Paliativos, que teve Cristina Galvão e Rita Abril como coordenadoras científicas. Entre os principais conteúdos temáticos, apoiados pela apresentação de casos clínicos, salientam-se a filosofia dos cuidados paliativos, o apoio à família no luto, o trabalho em equipa e a comunicação com o doente em fim de vida”.
Cristina Galvão refere que “todos os médicos de família podem fazer cuidados paliativos. A formação nesta área representa, de facto, uma mais-valia” até porque “a maior parte das famílias aceita cuidar dos doentes até ao fim, desde que tenha a garantia de apoio permanente”.
A adesão ao curso proporcionado pela Escola de Medicina Familiar da APMGF “ultrapassou as nossas expectativas”, refere Rita Abril. “São colegas muito interessados que procuram respostas para as dificuldades do dia-a-dia, dos doentes e suas famílias”.
A médica sublinha a necessidade de desmistificar os mitos relacionados com os cuidados paliativos, acompanhar os doentes numa fase mais precoce da sua doença e “demonstrar que há muito a fazer pelos doentes, pelas famílias e pela qualidade de vida de todos”.

Uma oportunidade de formação excelente
Para os médicos de família e internos de MGF que frequentam a Escola, esta representa uma excelente oportunidade de formação. “São muitas horas de trabalho mas vale a pena. O nosso objectivo é diagnosticar e tratar devidamente os pacientes”, diz Vladimir Calugareanu, interno do 1º ano da USF Vale do Soraia, em Coruche.  
Para Pedro de Sousa, interno da USF Locomotiva (Entroncamento), o programa de formação é “exigente” mas representa “uma oportunidade excepcional” de expandir os conhecimentos adquiridos na faculdade.
Esse é também o propósito de Andreia Luís, interna da USF Planalto, em Santarém. “O meu objectivo é melhorar as competências na área da comunicação na consulta, até porque essa aprendizagem irá permitir rentabilizar e gerir melhor o tempo que temos disponível para cada doente”.
Telmira Gaia, da unidade de saúde da Ilha de São Miguel, nos Açores, já tinha ouvido falar da Escola de Medicina Familiar e este ano, decidiu participar no curso sobre depressão. “A formação é intensiva e, no final do dia, sentimo-nos um pouco cansados mas o esforço vale a pena!”.

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