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Futuro da MGF está ligado ao sucesso ou insucesso da reforma

30 anos APMGF- Conferência Luís Pisco

Concluir a reforma dos cuidados de saúde primários “parece-me não só crucial como um imperativo ético”, defendeu o médico de família Luís Pisco, vice-presidente da ARS de Lisboa e Vale do Tejo e ex-presidente da APMGF, na conferência que proferiu sobre “Qualidade: o Futuro para a Medicina Geral e Familiar em Portugal.
 
A sua intervenção, realizada a 16 de novembro no Hotel Atlântico Golf, em Peniche, e que se insere no ciclo comemorativo dos 30 anos da APMGF, focou-se na análise da situação internacional e nacional do setor da Saúde, a qualidade da Medicina Geral e Familiar e o futuro.
 
Ao longo dos últimos dez anos, a despesa com Saúde nos países da OCDE cresceu quase duas vezes mais rápido do que a economia, referiu Luís Pisco, sublinhado a necessidade de uma melhor utilização dos recursos. Nomeadamente, porque “as pessoas vivem cada vez mais tempo, por vezes com doenças que alguns anos atrás teriam sido mortais. Mas isso tem um preço: o aumento da prevalência de pessoas com múltiplas doenças crónicas”. Nessa medida, o médico de família defende a necessidade da continuidade de cuidados para “melhorar a qualidade dos cuidados e a experiência dos doentes”, e de procurar soluções que visem colmatar as carências de coordenação na prestação desses mesmos cuidados, tal como é preconizado pela OCDE.
 
Referindo-se concretamente à situação nacional, Luís Pisco enfatizou a necessidade de terminar a reforma dos cuidados de saúde primários, até porque esta já se traduziu em ganhos documentados. Especificamente, o médico de família apontou os ganhos ao nível da acessibilidade (através da intersubstituição de profissionais e da consulta de situações agudas no próprio dia), do acolhimento, da qualidade assistencial, da satisfação dos utilizadores e prestadores e da eficiência. Com efeito, “o custo por utilizador é mais baixo pela racionalização da prescrição, tendo em conta a discussão clínica interpares e a aplicação das normas de utilização clínica”.
Recordando Donald Berwick quando diz que “todos na área da saúde têm um papel a desempenhar na redução dos custos e do desperdício, mas são aqueles que trabalhando em ambulatório e participando em programas de melhoria, são a chave para a prestação de melhores cuidados de saúde com menores custos”; Luís Pisco apontou como principais dimensões da qualidade a “centralidade no cidadão”, a “segurança”, a “oportunidade”, a “efetividade”, a “equidade” e a “eficiência”.
 
Nessa medida, o médico de família refere que as prioridades para o futuro dos cuidados de saúde primários passam pelo “aumento da acessibilidade, nomeadamente nos casos de doença aguda”, “centrar a atenção na prevenção e na prevenção precoce”, “melhorar a gestão da doença crónica”, “apoiar a integração e prestação de cuidados multidisciplinares”, “selecionar a evidência disponível para a prestação efetiva de cuidados de qualidade” e “utilizar a tecnologia para apoiar boas práticas”.
 
Quanto ao futuro da Medicina Geral e Familiar, Luís Pisco considera que “está cada vez mais interligado ao sucesso ou insucesso da atual reforma dos cuidados de saúde primários”, da formação e da investigação e ainda “de se ganhar ou perder a batalha dos sistemas de informação e comunicação, de se perder ou ganhar a batalha pela eficiência, pela gestão, pela governação clínica, pela qualidade e pelas boas práticas”.
 
Tudo isto, sem esquecer a necessidade de apostar nas pessoas, no trabalho em equipa, numa cultura de saúde, de organização e de intervenção na comunidade, “com profissionais motivados, que gostem do seu trabalho e de lidar com os outros”.

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