Política de saúde

Mário Moura galardoado com Prémio Prof. Miller Guerra

Decano da MGF distinguido pela OM e Fundação MSD

O presidente honorário da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF) é a figura distinguida na edição inaugural do Prémio Prof. Miller Guerra, um galardão atribuído pela primeira vez este ano e criado em parceria por duas instituições: a Ordem dos Médicos (OM) e a Fundação Merck, Sharp & Dohme (MSD). A entrega do prémio decorrerá amanhã (29 de Maio), pelas 12h, na sede nacional da OM. O ministro da Saúde, Paulo Macedo, presidirá à cerimónia da entrega do prémio. Trata-se de uma distinção (com um valor pecuniário de 50 mil euros) batizada com o nome de um dos mais prestigiados médicos portugueses, que foi também um reputado pedagogo e interveniente político. Em todas as dimensões da sua vida pública e privada, o Prof. Miller Guerra foi, antes de mais, um expoente máximo do Humanismo.

De facto, a OM e a Fundação MSD consideraram que, “na conjuntura atual, faria todo o sentido criar um prémio que privilegiasse a vertente humanista da Medicina, um pouco esquecida na vertigem tecnológica dos nossos tempos”, segundo comunicado da própria OM. Assim, o galardão visa celebrar carreira de um clínico que, ao longo do seu percurso profissional, tenha colocado sempre à frente das suas prioridades o serviço aos doentes e o progresso da assistência médica em Portugal, indo muito além da mera competência técnica e científica. Por decisão das entidades promotoras, a primeira edição do prémio selecionou um representante da Medicina Geral e Familiar (MGF), sendo que daqui a dois anos (quando for entregue o segundo Prémio Prof. Miller Guerra) a honra caberá a um médico da carreira hospitalar.

O júri deste prémio foi presidido pelo bastonário da OM, José Manuel Silva, tendo como vice-presidente Toscano Rico (presidente da Fundação MSD). Os restantes elementos do júri incluíram os presidentes das secções regionais do Norte, Centro e Sul da OM, um membro da direção da Fundação MSD, o Dr. António Rendas (indicado pelo Conselho de Reitores), os presidentes da Associação dos Médicos de Medicina Geral e Familiar (APMGF) e da Associação Portuguesa dos Médicos de Carreira Hospitalar (APMCH) e o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa, em representação da sociedade civil.

Mário Moura: protótipo do Médico de Família

Mário Moura nasceu e estudou em Coimbra, mas foi em Setúbal que fez o essencial da sua carreira. É inegável que, no presente, representa aquilo que de melhor tem para oferecer a MGF, aliando um enorme espírito de sacrifício em prol dos doentes, à competência clínica e à compreensão da natureza do Homem.

Profissional de exceção, Mário Silva Moura distinguiu-se também na Medicina do Trabalho e na Medicina do Desporto. Em 1989, o Jornal «Médico de Família« escolheu-o para “Clínico Geral do Ano” e, em 1994, recebeu a “Medalha Hipócrates” concedida pela Societas Internacionalis Medicinae Generalis, correspondente a “Clínico Geral Europeu do Ano”.

A cidade de Setúbal distinguiu-o com a Medalha de Honra “Paz e Liberdade” e – em 1998 – o então Presidente da República Jorge Sampaio entregou-lhe a comenda de Grande Oficial da Ordem do Mérito da República. Por fim, em 2007, o Ministério da Saúde atribui-lhe a sua Medalha de Ouro.

Das candidaturas apresentadas, esta foi para o júri a que melhor se adequava a um prémio que pretende distinguir médicos que se tenham notabilizado pela vertente humanística do exercício da sua profissão. De referir que este prémio está consagrado a médicos ainda em atividade ou recém-reformados, não pode ser atribuído a título póstumo e carece de uma candidatura prévia interposta por terceiros. No caso de Mário Moura, a distinção é fruto de uma candidatura apresentada por um grupo de colegas da Medicina Familiar, comprometidos com a vontade de dar a conhecer, fora do meio da especialidade e junto de toda a população portuguesa, o intenso trabalho assistencial desenvolvido pelo médico radicado em Setúbal, bem como o seu insuperável espírito de abnegação.

Instado a comentar este ponto alto no seu singular trajeto, Mário Moura assegura tratar-se de um gesto de reconhecimento ímpar: “é evidente que estou muito satisfeito em receber este prémio da OM, porque abrange e considera toda a vida de uma pessoa; a atividade clínica, o contributo para o progresso organizativo da nossa Medicina e a participação como cidadão na vida cívica e na vida política da sociedade onde nos integramos. Uma consideração do Homem todo… e isso alegra-me que seja reconhecido em vida, com testemunhas que o podem atestar, e não «post-mortem», quando todo o bom malandro é chorado e considerado um grande cidadão”.

O presidente honorário da APMGF revela grande simplicidade numa circunstância em que os seus méritos são, mais uma vez, valorizados junto da opinião pública, sem embarcar porém em falsas modéstias: “não deixo de considerar que exista um qualquer outro colega que o merecesse mais do que eu, mas é evidente que o prémio me deixa muito satisfeito e com a consciência do dever cumprido. E ainda vai a caminho o resto da minha vida, que nem sei para onde me levará. Por tudo isto, dou graças a Deus!”.

Galardão evoca um grande vulto da Medicina Portuguesa

De recordar que o Prof. João Pedro Miller Pinto de Lemos Guerra (que dá nome a este prémio agora instituído pela OM e Fundação MSD) é uma das mais notáveis figuras da Medicina Portuguesa do século XX. Nascido em 1912, em Vila Flor (Trás-os-Montes), licenciou-se em Medicina pela Universidade de Coimbra – em 1939 – e lecionou na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa (onde se doutorou em 1952, na especialidade de Neurologia). Entre 1968 e 1970, desempenhou o cargo de Bastonário da OM, destacando-se ainda no seu currículo o facto de ter sido membro da Societé de Neurologie de Paris e da Sociedade Portuguesa de Neurologia e Psiquiatria. Exerceu um mandato na qualidade de deputado da Assembleia Nacional, mas renunciou em Fevereiro de 1973, face a divergências insanáveis com o regime e em protesto aberto contra os exageros da Censura.

Foi, também, um dos principais responsáveis do Relatório das Carreiras Médicas, publicado em 1961. Este documento deu origem às carreiras médicas em vigor no país, constituindo-se como a pedra basilar para todo um percurso histórico de qualificação da classe médica portuguesa e da melhoria da prestação de cuidados de saúde à população.

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