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Médicos de família olham para o futuro

34º Encontro Nacional de MGF no Estoril:

O primeiro dia do 34º Encontro Nacional de Medicina Geral e Familiar (MGF), organizado pela Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF) no Centro de Congressos do Estoril, entre os dias 16 e 18 de março, revelou pistas importantes do que poderá ser o futuro da prática clínica dos médicos de família em território nacional, profundamente marcado (antevê-se) pela gestão da doença crónica, pela articulação com múltiplos atores da área da saúde e da esfera social e pela capacitação dos utentes.
 
No debate “Acolher o futuro… Clínica” – o primeiro de três debates de um ciclo que pretende, ao longo deste Encontro Nacional, mapear o futuro da especialidade e da prestação de cuidados de saúde – Rui Portugal (coordenador do Plano Nacional de Saúde) sugeriu que daqui em diante os médicos de família possam ter uma ação menos circunscrita ao espaço das unidades de saúde, uma mudança que lhes permitiria acompanhar os sinais deste tempo em que vivemos: “penso que a MGF deveria ser mais audaz (…) Julgo que seria muito interessante, por exemplo, que o médico de família da minha mãe a acompanhasse no hospital, quando se encontra internada”. 

     

Tentar encontrar a combinatória certa de cuidados para uma população idosa e cada vez mais afetada por multimorbilidade, bem como o local adequado para prestação de tais cuidados, parece ser, aliás, um dos grandes desafios clínicos do futuro.

Em paralelo, verifica-se o problema do recurso abusivo e reincidente aos serviços de urgência, um traço tão português. Adelaide Belo, especialista de Medicina Interna da ULS do Litoral Alentejano e coordenadora da Unidade Funcional Consulta a Tempo e Horas da ACSS, relembrou que Portugal ocupa o primeiro lugar na lista dos países com maior número de episódios de urgência por 100 habitantes, com um resultado de 70 episódios (dados de 2015), um valor muito acima da média da OCDE. Na sua unidade hospitalar de origem, apurou-se que 8,6% dos utilizadores das urgências são «clientes» habituais, sendo responsáveis por 30% de todos os episódios de urgência. “São doentes complexos, para os quais por vezes não é fácil encontrar soluções”, acrescentou Adelaide Belo. 
 
Na região do Litoral Alentejano tem vindo a ser tentada uma nova abordagem, mediante uma colaboração entre cuidados primários e secundários.  A estes doentes é facilitado o acesso a equipas específicas, com contactos específicos, de maneira a que não recorram de imediato aos serviços de urgência, sempre que emergem os seus problemas de saúde e/ou sociais. Muitas vezes o direcionamento para este apoio é feito pelos médicos do hospital, outras pelos médicos de família. Para Adelaide Belo, este é certamente um caminho de futuro que vale a pena explorar: “temos de sair das nossas «casinhas» e partilhar, partilhar. É importante que o façamos, até porque existem muitos recursos na comunidade que por vezes desconhecemos e que podem ajudar estas pessoas”.
 
Um repto científico
 
Na jornada inaugural do 34º Encontro Nacional realizou-se também a tradicional receção aos novos sócios internos da APMGF. As boas vindas ficaram a cargo de Rui Nogueira (presidente da APMGF) e de Ana Barata (coordenadora do Departamento de Internos e Jovens Médicos de Família da APMGF). Aos internos que agora começam o seu percurso de parceria com a APMGF, Rui Nogueira aconselhou: “a Associação tem um grande potencial e ótimos recursos à vossa disposição para crescerem. Façam bom uso deles!”.

     


A receção aos novos sócios internos foi este ano um pouco diferente, na medida em que incluiu uma curta mas intensa conferência, proferida pelo médico de família, docente da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa e investigador do Centro de Estudos de Doenças Crónicas (CEDOC) Bruno Heleno, sobre o tema “Porquê fazer ciência em Medicina Geral e Familiar?”. A resposta mais direta e esclarecedora a esta questão foi dada pelo próprio Bruno Heleno: “devemos fazer ciência porque existem problemas que afetam os nossos doentes e para os quais ainda não temos respostas”.

 
Veja aqui os vídeos do 1º dia do 34º Encontro Nacional de MGF:
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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