Escola de primavera
É de prever que as consequências da crise económica que o País atravessa comecem a ter reflexo na consulta de MGF, sob a forma de doenças orgânicas ou do seu agravamento. “As famílias portuguesas que têm médico de família atribuído contam com um fator protetor, na medida em que este as pode ajudar a lidar com os seus problemas, tratar a depressão e a ansiedade quando são identificadas ou encaminhá-las para serviços que lhes possam proporcionar algum apoio. Contudo, as famílias muito isoladas ou que não têm médico de família atribuído, correm maior risco”, afirma Josefina Marau, mestre em Saúde Mental nos CSP e coordenadora científica do curso “Trabalhar com as famílias”, da Escola de Medicina Familiar da APMGF, que decorre no Atlântico Golfe Hotel, em Peniche. Dotar os formandos das capacidades e instrumentos necessários para o diagnóstico precoce das disfunções e das doenças associadas à disfunção familiar, são os objetivos desta acão de formação médica contínua, muito focada na utilização prática dos vários instrumentos de avaliação e intervenção familiar.
O indivíduo e a família estão, aliás, no cerne das várias ações de formação da Escola de Medicina Familiar, nas quais participam cerca de 160 médicos e internos de MGF de todas as regiões do país, incluindo as Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira. Nomeadamente, o objetivo principal do curso básico de cuidados paliativos, coordenado pelas médicas de família Cristina Galvão e Rita Abril, é maximizar a qualidade de vida dos doentes em situação de doença avançada ou incurável, numa atitude de prevenção do sofrimento dos doentes e seu cuidadores. De acordo com Cristina Galvão, coordenadora da equipa de cuidados paliativos Beja +, da Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo, “o interesse dos médicos de família em fazer aprendizagem básica em cuidados paliativos tem vindo a aumentar”. Contudo, no terreno, “verifica-se que há muito poucos especialistas com horário disponível para prestarem cuidados nas equipas de cuidados paliativas domiciliárias, que têm que ter médico e enfermeiro permanente, todos os dias da semana”.
Face à pressão assistencial na consulta de MGF, onde o médico de família tem cada vez menos tempo disponível para cada doente, é preciso aprender a geri-lo bem, “sabendo comunicar a transmitir as ideias”, defende José Mendes Nunes, coordenador científico do curso “Entrevista clínica em MGF”. Neste âmbito, o médico de família assinala particularmente que “o respeito pelo local de trabalho, a tranquilidade e a ausência de interrupções, são condições essenciais para o êxito da consulta”. Ali, “tomam-se decisões sobre a vida e a morte das pessoas”. Essas interrupções, para além de interferirem na relação com o doente, favorecem o erro. “Depende de todos nós valorizarmos aquelas regras, lutando por isso e dando o exemplo”.
Além destes cursos de formação, a Escola de Medicina Familiar apresenta, nesta edição de primavera, outros dois “clássicos”: os curso sobre “diabetes tipo 2 em MGF”, coordenado pela médica de família Rosa Gallego, e “Alimentação e nutrição”, com João Breda, senior technical officer da Organização Mundial da Saúde, e Ana Rito, investigadora do Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge.
À vasta equipa de formadores juntou-se, nesta ocasião, o presidente da Sociedade Portuguesa de Neurologia (SPN), com o curso “Atualização em Neurologia”. De acordo com Vítor Oliveira, a SPN considera prioritário o contato estabelecido com a APMGF, de modo a realizar cursos regulares, “centrados nas patologias neurológicas, nas formas mais acertadas de avaliar a situação do doente e na concretização de uma boa referenciação”.