O PiicL (Projeto de Integração de Informação Clínica), um dos três trabalhos internacionais de investigação premiados este ano pelo Movimento Vasco da Gama (MVdG), já está em marcha. Da autoria dos internos de Medicina Geral e Familiar, João Sarmento, Conceição Alves, Paula Oliveira e Rita Sebastião, visa melhorar os cuidados de saúde prestados aos utentes do SNS, através do desenvolvimento de novas funcionalidades da Plataforma de Dados da Saúde.
João Sarmento explica que “no atual contexto de envelhecimento da população, com a crescente prevalência de doenças crónicas, resultante em necessidades acrescidas de cuidados, o foco tradicional do sistema hospitalocêntrico de tratamento da doença aguda deixa de fazer sentido. Na perspetiva da organização dos sistemas de saúde, esta é uma situação relativamente recente, para a qual ainda não há uma resposta definitiva. Apesar disso, a integração de cuidados tem sido apontada como a melhor forma de melhorar a satisfação dos utentes, a qualidade dos cuidados e a eficiência dos sistemas”.
Entre as varias dimensões de integração, está provado que “a integração clínica e de informação são as que mais contribuem para os resultados”. Em Portugal têm sido dados passos largos para a integração da informação clínica, de que são exemplos a Consulta a Tempo e Horas e, mais recentemente, a Plataforma de Dados da Saúde.
Na opinião de João Sarmento, esta última iniciativa “será estruturante dos cuidados de saúde prestados em Portugal a curto/médio prazo”. No entanto, “pensamos que algumas funcionalidades devem ser melhoradas para apoiar, de forma mais efetiva, a prática diária”. Tratando-se de uma plataforma passiva, os médicos de família teriam de consultar diariamente o processo de cada utente para obter informação atualizada sobre os eventos ocorridos na sua lista. O PiicL (Projeto de Integração de Informação Clínica) visa resolver este problema: “pretendemos que, na sequência dos internamentos hospitalares, a nota de alta seja enviada ao médico de família sob a forma de um alarme claramente visível no software de apoio à prática clínica. Além disso, no caso de alta após um Internamento por Causa Sensível a Cuidados de Ambulatório (ICSCA) – um conjunto de patologias que podem e devem ser prevenidas e tratadas ao nível dos cuidados de saúde primários – a consulta do médico de família deverá acontecer no espaço de sete dias”. Com esta intervenção, João Sarmento estima uma redução significativa nas taxas de reinternamento a 30 dias e na taxa anual de ICSCA.
O projeto de investigação inclui quatro fases: em primeiro lugar, a definição da lista de ICSCA portuguesa, seguida de um estudo baseline para descrição das taxas de reinternamentos, dos ICSCA e tempo decorrido entre a alta hospitalar e a primeira consulta nos cuidados de saúde primários. Na terceira fase, terá lugar a realização de um ensaio clínico multicêntrico aleatorizado por clusters para medição do impacto da intervenção. Por último, a fase IV integra a aplicação de questionários aos utentes e médicos de família participantes no projeto, com o objetivo de identificar eventuais melhorias.
Apoio da APMGF foi essencial
João Sarmento explica que “após termos tido conhecimento da abertura das candidaturas ao prémio do MVdG, submetemos a nossa proposta de investigação. A avaliação das candidaturas portuguesas foi efetuada por um conjunto de peritos que consideraram o nosso projeto pertinente e metodologicamente bem estruturado. Fomos, assim, selecionados para representar Portugal. A nível europeu, seguiu-se uma nova ronda de avaliação, tendo sido selecionados três trabalhos, entre os quais se encontra o PiicL”.
Para João Sarmento, o Junior Research Award constitui, por um lado, “um incentivo para procurarmos implementar o nosso projeto” e, por outro, “um reconhecimento internacional da qualidade do nosso trabalho, que será muito útil nas várias fases do projeto”.
Em termos monetários, o prémio consistiu na atribuição de uma inscrição na Conferência Mundial da WONCA – realizada este ano em Praga, entre 25 e 29 de Junho – para um dos investigadores. Nesse sentido, João Sarmento refere a sua satisfação pelo apoio essencial da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF), “ao ter contribuído monetariamente para a nossa deslocação” a Praga, onde a equipa teve a oportunidade de apresentar e discutir publicamente o projeto de investigação atualmente em curso.