35º Encontro Nacional de MGF:
“Acredito que a idade de ouro para a nossa especialidade possa chegar. Acredito porque vejo a quantidade de jovens colegas muito bem preparados, que são uma lufada de ar fresco, que representam um novo elã. Mas esta nova era não vai cair de paraquedas. Só vai acontecer se fizermos por isso”, declarou na conferência de abertura do 35º Encontro Nacional Victor Ramos, médico de família, docente na Escola Nacional de Saúde Pública e vencedor do Prémio Miller Guerra 2017.
Na sua conferência, esta figura incontornável da Medicina Familiar revelou alguns dos pontos mais importantes de um trabalho de auscultação que fez com 125 profissionais de saúde conhecedores dos cuidados de saúde primários, no sentido de sintetizar os eixos estratégicos mais importantes a desenvolver no novo ciclo da MGF, que decorrerá até 2030. No âmbito deste trabalho – que deverá ser potenciado e sistematizado nos próximos meses, dando posteriormente origem a um documento programático – Victor Ramos conseguiu identificar 15 a 20 prioridades major e 60 focos críticos. Foram muitas e diversas as sugestões deixadas pela mais de uma centena de participantes neste “exercício”, com vista a melhorar a MGF e a qualidade dos cuidados que esta presta à população. Houve quem referisse a necessidade de se apostar em instalações que permitam acolher os muitos recém-especialistas que se avizinham para os próximos anos, quem indicasse a necessidade da criação de um rating para os sistemas de informação usados pelos MF. Outros apontaram como área urgente de intervenção a autonomia de gestão (o modelo de governação centralizado parece não ter acabado com a reforma dos CSP e alguns «tiques» parecem mesmo impor-se ao nível micro), ou o reforço de mecanismos de incentivo à investigação nos CSP. Estas e outras ideias/propostas estarão contidas num documento a disponibilizar em breve para consulta pública e comentário, no site da APMGF.
Um salto qualitativo está «à mão de semear»
Também Rui Nogueira, presidente da APMGF, afirmou na cerimónia de abertura do evento que acredita que uma idade de ouro está prestes a chegar para a Medicina Familiar, arriscando que tal acontecerá mais cedo do que muitos pensam: “nos próximos quatro anos vamos ter de renovar metade da força de trabalho na nossa especialidade. Este período permitir-nos-á rearrumar as unidades e equipas de saúde, se tivermos o apoio de todos os colegas e as indicações precisas e certas para o fazer”. Mas para que tal se concretize a APMGF acredita que é fundamental reavaliar e reponderar a lista de utentes dos MF, razão pela qual tem insistido na sua proposta de uma nova métrica. Uma proposta que, aliás, tem desenvolvido em parceria com o Ministério da Saúde e que procurou dar a conhecer a todas as forças partidárias e ao Presidente da República. “Temos de começar a ter em atenção o contexto sociogeográfico do exercício da MGF, sob pena de definitivamente não podermos desenvolver a nossa missão com dignidade”, afirmou em Vilamoura Rui Nogueira.
Também presente no arranque dos trabalhos, o bastonário da Ordem dos Médicos defendeu que “avançar na capacidade da MGF e dos CSP é algo que está dependente de evoluirmos naquilo em que é possível evoluir. Por isso, o trabalho desenvolvido pela APMGF com a nova métrica é hoje tão importante”. Miguel Guimarães foi também muito elogioso do caminho percorrido pelos médicos de família, enquanto classe: “a MGF foi a especialidade que mais cresceu nos últimos anos. Já está, inclusive, a servir de modelo para outras especialidades, em particular ao nível da formação, isto apesar de ser uma área de especialização relativamente nova”.