Daniel Pinto conclui provas de doutoramento
Daniel Pinto, médico de família da Unidade de Saúde Familiar São Julião (Oeiras), docente e investigador da NOVA Medical School/Faculdade de Ciências Médicas – Universidade Nova de Lisboa, terminou com sucesso as suas provas de doutoramento, defendendo a tese “Fatores modificadores do comportamento de prescrição de medicamentos em cuidados primários”. O júri destas provas foi constituído por Fernando Teixeira Xavier – presidente – Maria Emília Monteiro e Isabel dos Santos (os três da NOVA Medical School), António Vaz Carneiro (Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa), Jaime Correia de Sousa (Escola de Medicina da Universidade do Minho) e Julian Perelman (Escola Nacional de Saúde Pública).
A tese de Daniel Pinto foi construída em torno de um ensaio e dois estudos efetuados com o apoio e participação ativa de médicos de família voluntários que integram a Rede Médicos Sentinela. No que respeita ao ensaio (que já deu origem a três publicações distintas em revistas internacionais), Daniel Pinto e a sua equipa de investigação da NOVA Medical School reuniram um grupo de 120 médicos de família que receberam visitas de divulgação educacional a cargo de colegas da Medicina Geral e Familiar, (três visitas a cada médico, num total de 360 visitas para todo o projeto). Em paralelo foi definido um grupo de controlo, também composto por 120 médicos prescritores, mas que ao invés do primeiro coletivo não recebeu qualquer visita de divulgação educacional. Isto para tentar, segundo o também coordenador do Internato de MGF na Região de Lisboa e Vale do Tejo, “tentar perceber se é possível mudar um pouco o comportamento dos médicos de família ao nível da prescrição”. Este ensaio foi iniciado em 2014, tendo originado dados finais no fecho de 2016. Já no que se refere aos dois estudos feitos com o apoio de médicos integrados na Rede Médicos Sentinela, estes estiveram focados na prescrição dos fármacos nimesulida e trimetazidina e na procura de saber se os médicos portugueses estão a seguir as recomendações da Agência Europeia do Medicamento, que reforçou a necessidade de reduzir a utilização destes dois medicamentos.
Do acervo de trabalhos nasceu um conhecimento mais aprofundado sobre os padrões de prescrição dos médicos de família portugueses e sobre os factores que podem influenciar esses mesmos padrões de prescrição, esperando-se que tais esforços de investigação extravasem a academia e se tornem úteis para racionalizar a prescrição, poupar recursos e tornar os médicos mais conscientes sobre a sua forma de atuar. O próprio Ministério da Saúde e instituições dependentes podem ganhar muito em potenciar os resultados destes trabalhos, de tal forma que Julian Perelman (recentemente nomeado para coordenar a Estrutura de Missão para a Sustentabilidade do Programa Orçamental da Saúde) alertou durante as provas que irá, com toda a certeza, ouvir Daniel Pinto num futuro próximo e no âmbito das rondas de contactos que fará nos próximos meses com vista a preparar orientações para a tutela.
“Quando analisamos o comportamento dos médicos de família relativamente aos dois medicamentos analisados nos estudos levados a cabo com profissionais integrados na Rede Médicos Sentinela, percebemos que existem outros fatores para além da decisão do próprio médico que influenciam a sua prescrição. As medidas da Agência Europeia do Medicamento podem ter algum impacto na utilização dos fármacos, mas existem outros fatores (como a informação que circula nos media, por exemplo) que podem ser determinantes”, testemunha Daniel Pinto.
Já sobre o ensaio, aquele investigador recorda que a esmagadora maioria dos médicos que participou voluntariamente no projeto fazia parte de unidades de saúde familiar de modelo A e B em Lisboa e Vale do Tejo (apenas seis estavam em unidades de cuidados de saúde personalizados), tendo-se comprovado que “eram já muito bons prescritores, sendo portanto difícil melhorar ainda mais o seu comportamento nesse aspeto. Razão pela qual o ensaio não revelou um resultado muito diferente entre o grupo de intervenção e o grupo de controlo. Provavelmente, interviemos sobre os médicos que menos necessitavam de intervenção, pelo facto de terem sido estes a oferecerem-se para participar e a revelarem-se motivados”.
No desenvolvimento dos trabalhos que estiveram na base desta tese de doutoramento, Daniel Pinto e os demais elementos do grupo de investigação depararam-se sempre com um obstáculo de monta, a incapacidade das entidades ligadas ao Ministério da Saúde que detêm a informação de prescrição individualizada nos CSP de fornecerem dados em tempo e formato útil: “as instituições do Ministério da Saúde estão pouco vocacionadas para fornecerem dados orientados para a investigação. Tivemos muita dificuldade em aceder aos dados e percebemos também que haveria que fazer alguma validação fundamental da informação que nos era dada. Para mim, faz sentido que o Ministério da Saúde pense que a investigação é uma componente importante na melhoria dos cuidados de saúde prestados à população e que precisamos, em Portugal, de analisar os dados do que acontece entre nós e produzir conhecimento. Isto não necessita de ser feito pelo próprio Ministério, pode ser realizado pela academia. Contudo, a tutela tem de ponderar sobre como pode facilitar este acesso a dados estatísticos e de atividade clínica, que até agora se tem revelado muito difícil”.