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Centenas de médicos exigem investimento real no SNS e universalização das USF

Concentração à frente do Ministério da Saúde no primeiro dia de greve nacional

Por entre frases fortes como “Adalberto não dá para entender, o SNS não é para vender”, “Adalberto desaparece, o SNS agradece”, “Queremos formação, não à indiferenciação”, ou “O público é de todos, o privado é só de alguns”, centenas de médicos concentraram-se à porta da sede do Ministério da Saúde, em Lisboa, no primeiro dia da greve nacional de médicos, numa iniciativa organizada pela Federação Nacional de Médicos (FNAM).

Para o presidente daquela estrutura sindical, João Proença, “esta concentração e este apoio à greve mostram que os médicos estão unidos e que desejam um SNS revigorado, que as carreiras tenham concursos atempados, que os jovens tenham boa formação e que surjam mais verbas e maior motivação para que possamos permitir aos nossos utentes não esperarem meses por uma consulta ou recorrerem – por ausência de opção – às urgências. Os doentes merecem uma saúde com dignidade, sem serem empurrados para as alternativas dos privados”.

O secretário-geral da CGTP também se dirigiu aos manifestantes, assegurando que os médicos que participaram na concentração e na greve “estão a dar um grande exemplo de coragem e de determinação”. Arménio Carlos sublinhou que apesar do ditado afirmar que com a saúde não se brinca, “o governo tem estado a brincar com os profissionais da saúde e não tem respeitado a saúde dos portugueses. E se é verdade que nos últimos tempos há sempre a invocação da falta de verbas, também não se percebe por que motivo este governo não pestaneja quando tem de libertar centenas de milhões de euros para os bancos privados e, simultaneamente, recusa dar resposta aos problemas e às reivindicações dos médicos”.

Segundo o membro da direção do Sindicato dos Médicos do Norte, Bernardo Vilas Boas, a atual tutela só tem um caminho a seguir no âmbito dos cuidados de saúde primários, se quiser evitar um confronto com a classe médica e com a sociedade portuguesa: “aquilo que conquistámos nas USF de modelo B nos últimos anos é a melhor promoção e a melhor defesa do SNS e é preciso generalizar tal modelo. Isto significa generalizar melhores condições de trabalho, a que deve acrescer uma carreira e uma grelha salarial dignas, assim como qualidade de cuidados, mais acesso e mais eficiência para todos os utentes. O que defendemos gera qualidade no sistema e eficiência de gestão, pelo que é inadiável, tem de ser feito agora! Hoje começa o aperfeiçoamento e o reforço do SNS!”.

A aposta na universalização das USF foi também «patrocinada» com base em dados concretos por João Rodrigues, presidente da USF-AN, junto dos participantes na concentração: “recentemente foi publicado um estudo do próprio Ministério da Saúde, que nos diz que se o país estivesse todo coberto por USF teríamos uma poupança de 100 milhões de euros. O que se pede é que se acabe com as quotas para USF, para que possamos reinvestir esses 100 milhões de euros no SNS”. Aquele representante não percebe como “30% dos médicos de família continuam a emigrar porque não têm lugar nos centros de saúde deste país, sabendo nós que 40% da população ainda não tem acesso a uma USF”. João Rodrigues recordou, inclusive, que nem no tempo da troika existiram quotas como as que existem hoje para as USF em modelo B, “algo de inacreditável. Os profissionais exigem ter acesso às USF de modelo B, onde existe uma discriminação positiva do salário, onde se paga pela acessibilidade organizada e onde os cuidados têm obviamente melhor qualidade para os portugueses, sempre dentro do SNS”.

Também o presidente da APMGF, Rui Nogueira, falou aos muitos colegas presentes na João Crisóstomo, explicando por que razão a entidade que representa os MF em Portugal decidiu dar o seu apoio à paralisação de três dias: “apoiamos esta luta porque não queremos ver destruir o SNS, porque desejamos dignidade na nossa profissão e porque acreditamos que é necessário criar condições para que o SNS evolua e as carreiras médicas sejam uma realidade. Desejamos também médicos de família para todos, mas exigimos dignidade no exercício da profissão”.

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