Política de saúdeSindicatos

Sindicatos exigem que acabem as mistificações e se iniciem reais negociações

No rescaldo da greve nacional de médicos

Após três dias de uma greve nacional com forte repercussão (marcada pela quase ausência de cirurgia programada e de consultas externas nos hospitais centrais e paragem de atividade programada num elevado número de unidades dos CSP), o Sindicato Independente dos Médicos (SIM) e a Federação Nacional de Médicos (FNAM) consideram que a paralisação constituiu um “momento de combate e de demonstração de força”, saudaram “a compreensão da maioria dos portugueses pelos incómodos causados por esta muito expressiva adesão” e exigiram “o início imediato do processo negocial, com presença dos Ministros da Saúde e das Finanças”, algo que segundo as estruturas sindicais representaria o fim da “insensibilidade política para a resolução dos problemas dos utentes e dos médicos”.

“Uma greve é uma coisa aborrecida e os médicos não gostam de a fazer. O Sr. Ministro diz que compreende as razões da greve e que concorda com 90% daquilo que dizemos, mas a verdade é que não apresenta soluções para coisas muito simples, como repor as condições anteriores à presença da troika. Quando pedimos, por exemplo, que o Sr. Ministro contrate desde já os colegas que terminaram a especialidade em abril, é porque sabemos que se não o fizer, muitos deles vão para o estrangeiro ou serão contratados pelos privados”, explicou em conferência de imprensa o secretário-geral do SIM, Jorge Roque da Cunha. O sindicalista acusou Adalberto Campos Fernandes de “torturar os números” e de ignorar a evidência da falta de médicos em especialidades e locais específicos quando se dirige aos portugueses e apresenta estatísticas ao nível dos recursos médicos em Portugal: “o Sr. Ministro apenas precisa de ir ao IPO, ou de visitar o Serviço de Obstetrícia de Santarém ou de Setúbal, para perceber que há falta de médicos”. Jorge Roque da Cunha recordou que o ministro da Saúde tem dito amiúde e em tempos de maior crise no setor que é impossível dar tudo a todos, mas que tal argumento não passa de um logro, inconciliável com números concretos e relevantes: “com a redução de seis horas semanais no período normal de trabalho em serviço de urgência de milhares de médicos, cria-se disponibilidade para a realização de cirurgias e consultas programadas. O Dr. Adalberto é médico de Saúde Pública, sabe perfeitamente fazer contas e sabe também quanto custa ao SNS um cálculo encravado numa vesícula que resulta numa colecistite com peritonite, por comparação com um cálculo retirado em fase prévia e em cirurgia programada. É este o tipo de contas que gostaríamos de fazer com ele e com o Sr. Ministro das Finanças, porque no final entenderiam que se iria poupar dinheiro caso as nossas reivindicações fossem concretizadas”. Por último, o dirigente do SIM deixa um repto a Adalberto Campos Fernandes, depois de 72 horas tensas: “vamos negociar a sério! Não mistifique! Dizer que os médicos ganham mais 340 euros e outras coisas que tal não passam de falsidades. Podemos provar que os médicos do SNS, tal como outros funcionários públicos, perderam 20% do seu poder de compra e isso explica em parte porque os profissionais saem do setor público para o privado. E se nada for feito para contrariar esta tendência, se não forem revistas as grelhas salariais, abertos concursos e descongeladas as carreiras médicas, continuaremos a pagar alegremente os 120 milhões às empresas de serviços médicos”.

Por seu turno, João Proença (presidente da comissão executiva da FNAM) adiantou que os dois sindicatos vão considerar outras formas de luta a breve trecho, até que o governo “perceba que é preciso mudar de atitude política. Aliás, a diferença de atitude política que existe entre o atual ministro da Saúde e o anterior é pouca ou nenhuma. Não tem resolvido um único problema, não abre vagas, não abre concursos atempados, continua a utilizar as empresas de trabalho temporário e usa o mesmo tipo de estratégia que era preferida pelo anterior governo. Assim, o que precisamos é de uma mudança de política, que permita sustentar o SNS e motivar as pessoas a continuarem a trabalhar nele”. Para João Proença, resulta claro que no presente a situação da Saúde em Portugal é dramática, “não só para os médicos, que se sentem desmotivados, mas também para os utentes, que não têm a resposta necessária para resolver os seus problemas nas fases aguda e crónica da doença”.

O presidente da FNAM reiterou também perante os jornalistas que na sua perspetiva o atual ministro da Saúde tem uma agenda escondida: “permitir que o SNS se vá esvaziando e que os grupos económicos tomem conta não só dos cuidados hospitalares, como dos cuidados primários”.

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