Médico, político e pensador da saúde
O médico e ex-coordenador nacional do Bloco de Esquerda, João Semedo, faleceu esta terça-feira (dia 17 de julho) aos 67 anos, após doença prolongada. Nascido na capital, a 20 de junho de 1951, frequentou a Faculdade de Medicina de Lisboa no final dos anos sessenta e primeira metade dos anos setenta, em pleno período revolucionário, facto que certamente terá despertado a sua apurada consciência política. Tornou-se militante do Partido Comunista Português (PCP) ainda durante a ditadura, em 1972, e depois funcionário do partido entre 1978 e 1991. Fez ainda parte do Comité Central do PCP e foi sempre uma das vozes mais respeitadas do partido no que diz respeito à visão sobre o setor da Saúde. A partir do final da década de 70 mudou-se para a cidade do Porto, onde exerceu primeiro a sua atividade partidária e depois se tornou diretor do Hospital Joaquim Urbano, unidade vocacionada para o tratamento de doenças infecciosas e respiratórias que ajudou a refundar.
Em 2003 desvincula-se do PCP e um ano depois integra a lista do Bloco de Esquerda às eleições europeias, na condição de independente. Desempenha funções como deputado na Assembleia da República e mais tarde assume a militância no Bloco de Esquerda, do qual será coordenador nacional em conjunto com Catarina Martins, entre 2012 e 2014.
Um dos últimos legados essenciais de João Semedo foi a obra “Salvar o SNS”, redigida em parceria com António Arnaut – entretanto também desaparecido – na qual se desenha uma proposta estrutural para a nova Lei de Bases da Saúde. João Semedo foi também um conhecido defensor da despenalização da eutanásia. Neste campo, organizou um livro intitulado “Morrer com Dignidade – A decisão de cada um”, lançado nas vésperas do debate e votação no parlamento da proposta de alteração da lei.
Esta figura emblemática da Saúde em Portugal esteve presente no 31º Encontro Nacional de MGF, organizado pela APMGF em 2014, numa sessão promovida pelo Jornal «MGF Notícias». Na ocasião, teve a oportunidade de debater o contexto e as oportunidades de mudança na Saúde com outras figuras de renome, como Isabel Galriça Neto, Ricardo Baptista Leite e Álvaro Beleza.
Em visita oficial a Cabo Verde, o Presidente da República já lamentou através de nota oficial no site da Presidência o desaparecimento de João Semedo, recordando-o como um homem de causas e defensor do Serviço Nacional de Saúde. Marcelo Rebelo de Sousa garante que “foi pelas escolhas que fez que se destacou, sempre com uma afabilidade acentuada, convencendo pelo exemplo, afirmando-se pela força do seu pensamento lúcido e clarividente”, sublinhado ainda que “o país sentirá a sua falta”.