Efetividade das vacinas antigripal e antipneumocócica
Realizou-se no anfiteatro do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) a reunião de encerramento do IMOVE+, um projeto europeu de larga escala (financiado pelo programa Horizonte 2020 e desenvolvido em Portugal pelo INSA) que teve como objetivo nos últimos anos avaliar a efetividade e o impacto das vacinas antigripal e antipneumocócica na população com 65 ou mais anos de idade. No entanto, o estudo EuroEVA (Efetividade da vacina antrigripal na Europa), no qual muitos dos médicos sentinela participam e que esteve integrado no projeto IMOVE+, vai continuar a fazer o seu caminho no nosso país, já tendo assegurado financiamento por mais três anos.
De acordo com Baltazar Nunes, da Unidade de Investigação Epidemiológica do Departamento de Epidemiologia do INSA, em relação à vacina antipneumocócica, “a Rede de Médicos Sentinela apenas participou num estudo piloto de efetividade. A avaliação incidiu sobre um ciclo longo, durante o qual foram introduzidas as vacinas antipneumocócica 7 valente e 13 valente, abrangendo um período de 1998 a 2015 e partindo de uma análise de registos eletrónicos, com o objetivo de verificar se as taxas de hospitalização por pneumonia pneumocócica se tinham alterado com a introdução das duas vacinas. Verificámos, pois, que essa alteração é muito significativa a partir da introdução da vacina pneumocócica conjugada (PCV13). Isto através um efeito indireto, já que a vacina tem uma cobertura elevada junto das crianças e observamos uma redução das hospitalizações na população idosa”.
Já no que concerne ao impacto da vacina antrigripal e ao estudo EuroEVA, Baltazar Nunes garante que as novidades são surpreendentes: “quando iniciámos este tipo de estudos, tínhamos a perspetiva de que a efetividade da vacina da gripe não variava muito, que andaria em torno dos 60%. A informação nova que obtivemos mostra-nos que a capacidade de proteção da vacina, em termos globais, se situa perto dos 50%, mas com variações em função da época, ou do «match» entre o vírus que está a circular e aquele que está na vacina. Depois de termos reunido dados de várias épocas, percebemos também que para o vírus influenza A(H3) se regista uma atenuação do efeito da vacina ao longo do tempo, que ela perde efetividade em épocas muito tardias”. O investigador assegura que todos os dados demonstram algo irrefutável; mesmo nas épocas de baixa efetividade vacinal – como sucede quando circula o influenza A(H3) – os benefícios de um programa de vacinação largamente disseminado são evidentes: “deparamos-nos sempre com uma redução muito significativa do número de consultas, de hospitalizações e de mortes na população. A vacina da gripe continua a ser a única medida ao nosso dispor com uma efetividade observável para reduzir o risco de desenvolver gripe e as suas complicações. Dito isto, torna-se clara a mensagem que devemos transmitir. Mesmo tendo uma efetividade vacinal moderada, seria benéfico aumentarmos mais a cobertura vacinal e fazermos todos os esforços nesse sentido, porque quanto mais aumentarmos essa cobertura maiores serão os ganhos do programa de vacinação antigripal”.
O responsável da Unidade de Investigação Epidemiológica do Departamento de Epidemiologia do INSA confirmou também que, apesar do encerramento do projeto IMOVE+, o estudo EuroEVA vai ser prolongado e ampliado em Portugal com o apoio da Rede Médicos Sentinela, até porque já conta com financiamento para três anos por parte do Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças, o promotor inicial do estudo. De recordar que, no âmbito do estudo EuroEVA, os médicos sentinela colhem junto dos seus doentes com sintomas de síndrome gripal informação adicional através de um questionário, obtendo elementos relevantes sobre, por exemplo, história vacinal ou comorbilidades, de modo a que possa ser medida a efetividade da vacina. Este estudo tem um desenho de caso-controlo.
Aprofundamento do EuroEVA depende, em muito, dos médicos sentinela
Ana Paula Rodrigues, coordenadora da Rede de Médicos Sentinela, reforça a importância das redes como aquela que orienta para o sucesso e continuidade de investigações como o EuroEVA: “é fundamental contar com redes de médicos que, nos centros de saúde, se mostram sensibilizados para problemáticas como a efetividade da vacina da gripe, uma doença de grande importância e impacto a nível europeu e mundial. Se não forem os médicos a investirem cinco minutos do seu tempo de consulta (que já de si é curto) para recolher e enviar-nos esta informação, nunca conseguiríamos responder a perguntas cruciais, como a de saber se a vacina disponível está a funcionar ou não, quem está a proteger em maior grau, ou se vamos necessitar de estratégias alternativas para proteger as pessoas mais vulneráveis”. O momento é de balanço e análise para todos estes projetos colaborativos de investigação e Ana Paula Rodrigues diz-se “muito satisfeita por este estudo ter crescido no seio de uma rede motivada como a nossa”.