Arranque do 22º CN e 17º ENIJMF
Um total de 294 formandos participou em cerca de dezena e meia de workshops e um curso no arranque do 22º Congresso Nacional de Medicina Geral e Familiar e 17º Encontro de Internos e Jovens Médicos de Família, nas Caldas da Rainha. Uma das ações de formação em destaque neste dia foi o curso «Obesidade: Um Peso a Reduzir!», organizado em parceria pela Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF), Sociedade Portuguesa de Estudo da Obesidade (SPEO), Sociedade Portuguesa de Cirurgia da Obesidade e Doenças Metabólicas (SPCO) e Associação de Doentes Obesos e Ex-Obesos de Portugal (Adexo). Segundo Davide Carvalho (presidente da Sociedade Portuguesa de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo e diretor do Serviço de Endocrinologia, Diabetes e Metabolismo do Centro Hospitalar de São João), um dos dinamizadores do curso, “cada vez mais a participação dos doentes neste tipo de formação é valorizada. Neste momento, as recomendações de diversas associações internacionais e da própria OMS vão no sentido de que os doentes devem ter um papel importante na partilha das orientações terapêuticas”. Para Davide Carvalho, existe uma “lacuna na formação pós-graduada sobre o tratamento da obesidade, no que diz respeito a muitas especialidades. Sendo os colegas da MGF aqueles que em primeiro lugar e ao longo da vida do doente vão contactar com ele, é indispensável que tenham uma melhor preparação. Desde logo, é importante que estejam atentos, que retenham uma percepção aumentada face a esta situação clínica. Por outro lado, necessitam de mais «armas», de ter ao seu lado mais nutricionistas, mais profissionais do exercício físico, que os ajudem a tratar os seus doentes”.
Uma das responsáveis por esta formação foi Paula Freitas, presidente da SPEO. “Desenvolvemos um curso que oferecesse conhecimento na área da obesidade para todas as idades, desde a obesidade pediátrica até à obesidade no idoso. Por outro lado, tentámos sempre manter a abordagem multidisciplinar. Por isso é que tivemos connosco formadores da área médica, mas também da nutrição, da psicologia e a cirurgia”. A dirigente frisou ainda que este curso permitiu aos formandos perceber “como o doente vê a sua doença, como encara o estigma imposto pela sociedade e às vezes pelos próprios profissionais de saúde”.
O dia terminou com outra formação de grande relevo, o workshop “Prevenção-ação para o uso adequado de benzodiazepinas”. Ali, foi apresentado o protocolo clínico de desabituação de benzodiazepinas (BZD) testado no âmbito de um interessante ensaio clínico (Programa BEDS) realizado em unidades de saúde familiar. Vasco Maria (médico de família e responsável da Unidade de Farmacoepidemiologia da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, estrutura que preparou esta formação) garante que “os médicos de família têm a noção de que o consumo desadequado de BZD é um problema muito importante e maioria deles tem uma percentagem muito significativa de utentes que é utilizadora crónica de BZD. A partir de um estudo que realizámos, foi possível perceber que os médicos de família são dos profissionais de saúde que mantêm atitudes mais adequadas quanto à utilização racional de BZD, mas transmitiram-nos que se sentem muitas vezes sem capacidade para ajudar os doentes a fazer essa desabituação, porque não têm o treino, os skills e o apoio de outros profissionais para ajudarem as pessoas”. Ora o que o protocolo do Programa BEDS, partilhado neste workshop, mostrou foi que é exequível num contexto de prática clínica diária e que tem sucesso na reversão deste tipo de consumos. “Demos assim a noção aos colegas de que está aqui um instrumento, apenas um entre outros que estão disponíveis, que é eficaz – para além de facilmente aplicável – na tarefa de envolver o doente num processo de desabituação”, sublinhou Vasco Maria.