Gerais

«Sacralidade» da relação médico-doente

Mensagem chave na abertura do 22º CN e 17º ENIJMF:

“Ainda
não
possuímos na nossa realidade o IPatient,
que
é mais do âmbito dos cuidados hospitalares.
Mas
esse
risco existe, de com os registos eletrónicos passarmos a olhar mais
para a interligação dos dados de que dispomos acerca dos doentes e
menos para o doente que temos à frente. Deixarmos de recordar a sua
cara e aspetos particulares da mesma, em detrimento das últimas
análises e da nossa preocupação com um achado em ecocardiograma”,
declarou na conferência de abertura do Congresso Nacional Ana Coelho
Rodrigues (UCSP São Pedro do Sul – ACeS Dão Lafões). Esta
jovem médica de família, que terminou há muito pouco tempo o seu
internato da especialidade, considera
que “é necessário que regressemos às origens e à relação
médico-doente”.

Na ótica desta recém-especialista, há que saber preservar a todo o custo os princípios fundamentais da MGF, em particular o carácter quase sagrado da relação e do tempo entre médico e paciente.

Isto não quer dizer que a nova geração de médicos de família deva resistir às mudanças, pelo contrário, como atestou Ana Coelho Rodrigues: “é importante mudar na continuidade de cuidados. Devemos entender que aquilo que fazemos hoje, pode não ser necessariamente o mais adequado no futuro”.

Presente na cerimónia de abertura da iniciativa, o bastonário da Ordem dos Médicos (OM) concordou que o “caminho de desenvolvimento da tecnologia e a falta de comunicação visível na sociedade moderna são preocupantes e transmitem maus sinais à gerações vindouras”. Mas a própria OM tem dado passos relevantes para romper com esta tendência no universo da Medicina, com fez questão de salientar Miguel Guimarães: “já foram definidos internamente os tempos padrão para todas as especialidades médicas, para que assim possamos proteger o tempo de que necessitamos para estar com os nossos doentes. Temos de estar mais perto deles, de ouvir as suas histórias. Na MGF; sobretudo, isto é um aspeto especialmente crítico”. O bastonário recordou, também, que a OM já deu início ao processo que poderá culminar com a consagração da relação médico-doente enquanto património imaterial da humanidade: “esperamos ter o apoio de todos os colegas, sociedades científicas e associações médicas para atingir esta meta”.

Os médicos de família têm pois a oportunidade de olhar para o futuro com dose razoável do otimismo, sabendo que muitos dos fundamentos base da sua especialidade (como a já referida proximidade com o utente e a comunidade) estão a ser defendidos. E as grandes organizações internacionais também estão empenhadas no fortalecimento da Medicina Familiar e dos cuidados de saúde primários, como sublinhou na ocasião Rui Nogueira , presidente da APMGF: “note-se que em breve deverá ser aprovada – desejamos todos nós – a Declaração de Astana, no final de outubro, em plena Conferência Mundial da Organização Mundial da Saúde (OMS). Pela primeira vez, a especialidade de Medicina Familiar (que não existia com os contornos que hoje em dia lhe reconhecemos na altura em que a OMS criou a Declaração de Alma-Ata) ficará inscrita num documento de referência global como esta declaração. Mas a Conferência Mundial de Astana ficará marcada não só por esta valiosa declaração, como pelo facto de termos uma jovem médica de família portuguesa e membro da direção nacional da APMGF, a Dr.ª Ana Barata, a realizar uma comunicação numa sessão paralelo do evento, a convite da OMS”.

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