Rede Médicos Sentinela
A Rede Médicos Sentinela reuniu mais de quatro dezenas de profissionais na sua reunião anual, realizada na Escola Superior de Enfermagem de Coimbra. “Nesta iniciativa foram apresentados os resultados da vigilância da gripe sazonal, tendo sido dado um feedback aos colegas sobre, por exemplo, a efetividade da vacina ou os principais vírus a circular. Isto também de forma a motivar as pessoas a participarem na próxima época”, explica Ana Paula Rodrigues, coordenadora da Rede Médicos Sentinela.
Na ocasião, foram também evidenciados resultados de dois estudos levados a cabo recentemente no âmbito da rede. O primeiro relacionado com a evolução de fatores de risco e de eventos cardiovasculares ao longo do tempo na rede (diga-se que a Rede Médicos Sentinela é o único instrumento de observação que tem as estimativas de incidência destes fatores). O segundo prende-se com os padrões de solicitação de testes do VIH na prática do médico de família (MF), estudo relativamente ao qual foram apresentados dados preliminares. Segundo Ana Paula Rodrigues, este estudo está em fase de notificação até ao final do corrente ano e foi bem acolhido: “tivemos 540 notificações até ao momento. Trata-se de um projeto que tem tido boa adesão, até porque envolve algo que interessa muito aos colegas, saber quais os motivos para solicitação de testes e as expetativas associadas a esses pedidos”.
Avaliação dos doentes com necessidade de cuidados em fim de vida e caracterização do impacto da insónia na calha para 2019
Como sempre acontece nestas reuniões anuais, foram divulgados potenciais projetos que a rede talvez venha a desenvolver em 2019, mediante a valia científica e clínica que possam comportar. Exemplo disso mesmo é a adaptação a Portugal de um projeto já em curso nas Redes de Médicos Sentinela de Castela e Leão e Comunidade Valenciana (Espanha), que pretende identificar e caracterizar os pacientes com necessidades de planificação de cuidados em fim de vida. Nos próximos meses a rede portuguesa vai averiguar da possibilidade de dar sequência a este projeto entre nós, adaptando à realidade portuguesa o questionário que é utilizado para recolher informações junto dos profissionais. O segundo projeto sugerido para 2019 concentra-se na incidência de insónia nas listas de utentes dos médicos sentinela, a caraterização de fatores de risco para a mesma, o registo das medidas farmacológicas e não farmacológicas encetadas pelos médicos, complementado por um estudo satélite destinado a perceber o impacto da insónia na vertente psicológica e na qualidade de vida dos pacientes, impacto esse medido através de uma escala.
De referir que, no passado, já foram realizadas na rede notificações de novos casos de insónia detetados em lista, tendo o último destes esforços de monitorização sido concretizado em 2013. Assim, caso esta proposta avance, poderão daqui surgir interessantes dados comparativos que abarcam uma janela temporal alargada. Cláudia Penedo, uma das proponentes do estudo, relembra que “esta é uma queixa muito comum nos CSP. Estima-se que dois terços da população adulta viva com este problema”. Já Raquel Magalhães, outra das dinamizadoras da ideia, contextualiza o estudo satélite sobre o impacto da insónia na qualidade de vida do paciente: “a qualidade de vida é de certa forma um conceito subjetivo. Mas podemos procurar avaliá-la por intermédio da saúde física da pessoa, do seu estado psicológico, do nível de independência, relacionamentos sociais, características ambientais e espiritualidade… No decurso da nossa pesquisa, deparámo-nos com uma escala validada para português de Portugal com 26 itens, que pode ser aplicada em cerca de cinco minutos”.
Médicos sentinela convidados a ter um papel ativo no 36º Encontro Nacional
No encerramento da reunião, o presidente da APMGF frisou que “a Associação colocará sempre à disposição dos médicos da rede todos os recursos disponíveis para que possam desenvolver o seu trabalho, que é fundamental”. Rui Nogueira convidou ainda todos os médicos sentinela a participarem de modo enérgico no 36º Encontro Nacional de MGF, que terá lugar em Braga no próximo ano: “gostaríamos de ter os médicos sentinela a colaborarem ativamente, com apresentação de trabalhos, a integrarem debates e a proporem as suas ideias de discussão”.
A APMGF decidiu, inclusive, atribuir cinco inscrições gratuitas no 36º Encontro Nacional para serem distribuídas a membros da rede, enquanto gesto simbólico da vontade que tem de reforçar laços com a rede e acarinhar o trabalho «sentinela» nos eventos científicos que organiza.
O dirigente associativo recordou, por último, que em 2019 a Rede Médicos Sentinela perfaz 30 anos de existência, efeméride que deveria inspirar “um salto em frente. Deixo este repto aos médicos sentinela e seja qual for o sentido que decidam tomar para subir tal degrau qualitativo, é importante que saibam que continuaremos de certeza a apoiar as iniciativas da rede”.