Décimo aniversário da vacinação contra HPV em Portugal
No âmbito da cerimónia comemorativa do 10.º aniversário da vacinação contra HPV no nosso país, o Presidente da República fez ver que muitos especialistas em Saúde Pública defendem na atualidade que “talvez faça sentido alargar o rastreio e a vacinação aos homens e que se deve fazê-lo rapidamente”. Marcelo Rebelo de Sousa refletiu sobre a nova fase em que vivemos, de verdadeira “revolução cultural”, na qual as questões associadas ao cancro do colo do útero e às infeções provocadas pelo HPV não são já encaradas apenas como “um problema de mulheres, mas também um problema de homens”. Sobre o sucesso que as campanhas de vacinação contra o HPV têm tido em Portugal, o Chefe de Estado considera que se devem a “uma política definida e consistentemente aplicada” e que os resultados vacinais surgiram porque “houve a exata noção da prioridade da intervenção pública neste domínio. Era preciso intervir – através de uma discriminação positiva – para um público-alvo e era preciso fazê-lo rapidamente. Tratava-se de uma corrida contra o tempo…”.
Durante
esta cerimónia a Ministra da Saúde atribuiu também louvores a
individualidades e organizações que se destacaram no impulso à
vacinação contra o HPV. Foi neste contexto que a Associação
Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF) recebeu um louvor
“como reconhecimento pelo seu trabalho meritório na vacinação
contra infeções por vírus do Papiloma Humano”.
Um caminho feliz, com início incerto
Graça Freitas, diretora-geral da Saúde, recorda que a vacinação começou em 27 de outubro de 2008 “com dúvidas e receios. Não se tratava de vacinar crianças pequenas, que não exprimem livremente a sua vontade, mas sim de adolescentes, que mesmo que aderissem à primeira dose, dificilmente completariam um esquema de três doses então recomendado”. Porém, a realidade encarregou-se de desmentir as teorias mais pessimistas e a vacinação contra o HPV revelou-se um enorme sucesso em termos de adesão, como reforça Graça Freitas: “quase todas as coortes vacinadas ultrapassam a taxa de 85% de vacinação e muitas ultrapassam os 90%, e isto para todas as doses. Tais valores de cobertura colocam Portugal na vanguarda mundial da prevenção primária do HPV”.
De facto, um total de 750 mil mulheres no nosso país perfizeram um esquema completo de vacinação e de acordo coma diretora-geral da Saúde, “o impacto já se faz sentir na doença benigna, com ainda alguns indícios de que tal poderá estar a acontecer também ao nível das lesões pré-cancerígenas”.
A dirigente garante, contudo, que é possível sempre fazer mais e melhor, pelo que a Comissão Técnica de Vacinação (CTV) está a “revisitar a vacina do HPV, nos seus aspetos de proteção individual, imunidade de grupo, relação custo-efetividade, controlo da doença e o valor para a Saúde Pública, a fim de emitir uma recomendação relacionada com a inclusão dos rapazes na vacinação universal contra a HPV”.
Precisamente a presidente da CTV, Ana Leça, lembrou o notável percurso que Portugal fez nas últimas duas décadas, já que em 2002 “era o país com maior incidência de cancro do colo do útero ao nível europeu, situando-se também no lote daquelas nações com maiores índices de mortalidade por esta doença. Mais de metade das mortes ocorriam em mulheres com menos de 60 anos e o total de anos de vida potencialmente perdidos até aos 70 anos era bastante elevado. Ou seja, o nosso país possuía uma carga de doença bastante elevada”. Embora o impacto da vacinação, em termos de morbilidade e mortalidade provocada pelo cancro do colo do útero, só se venha a conhecer a médio e longo prazo (porque se trata de uma doença com evolução lenta), Ana Leça não tem dúvidas de que já existem pistas positivas que podem pressagiar bons resultados no futuro: “a cobertura vacinal é muito elevada e realizou-se uma campanha para envolver as coortes mais velhas, algo que muitos autores consideram fundamental para adiantar os efeitos benéficos da vacinação”.