Jornadas de MGF e Encontro Regional de Internos e Jovens MF dos Açores
Foram cerca de 120 os participantes nas XVII Jornadas de Medicina Geral e Familiar (MGF) dos Açores e VII Encontro Regional de Internos e Jovens Médicos de Família dos Açores, iniciativas organizadas pela Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF) e Comissão de Internos de MGF dos Açores (CIMGFA), entre os dias 8 e 10 de novembro, em Ponta Delgada. Em destaque não só a atualização científica em áreas clínicas chave, mas também a troca de experiências que são muito diversas num arquipélago multifacetado e onde o isolamento profissional precisa de ser combatido.
Com quatro sessões clínicas, dois workshops, um simpósio e sessões dedicadas à apresentação de trabalhos (no total foram discutidas 16 comunicações orais e 15 pósteres), as XVII Jornadas de MGF dos Açores parecem ter atingido a «maioridade», assumindo-se como um evento científico capaz de atrair as atenções da especialidade a nível nacional. Foi isso que levou muitos médicos de família (MF) e internos da especialidade a viajarem até São Miguel a partir das outras ilhas (registaram-se participações de colegas de seis ilhas do arquipélago) e mesmo do território continental, para além de uma marcada afluência de médicos de especialidades hospitalares.
Mas os trabalhos começaram logo na quinta feira, dia 8 de novembro, com o VII Encontro Regional de Internos e Jovens MF dos Açores, que contemplou a apresentação oficial do guia do interno de MGF da Coordenação do Internato Médico de MGF dos Açores, uma sessão de esclarecimento com o Sindicato Independente dos Médicos (na qual os internos se puderam inteirar das vantagens de integrar um sindicato médico e de alguns direitos básicos) e uma reunião aberta a todos os médicos internos do arquipélago, destinada a debater os principais problemas e desafios da formação pós-graduada naquele grupo de ilhas. “O guia tem vindo a ser muito reivindicado e requisitado pelos internos dos Açores desde há vários anos, porque até agora não existiam normas de orientação dentro da região autónoma para o internato de MGF. Finalmente surgiu, mas não é uma peça estanque, pelo que ficou desde já claro que sempre que se revelar necessário fazer alterações elas serão realizadas. Foi interessante assistir, desde logo, à discussão deste guia por parte de internos e orientadores de várias ilhas, tendo ficado evidente que há pormenores que poderão vir a ser acrescentados a curto prazo”, explicita Tatiana Nunes da CIMGFA e da Comissão Organizadora da iniciativa.
Formação pós-graduada de qualidade também é ambicionada por poder político
Na cerimónia de abertura destas jornadas, o secretário regional da Saúde dos Açores, Rui Luís, reconheceu a existência de grandes diferenças nos apoios formativos aos mais de 40 internos de MGF das diversas ilhas e que é fundamental avançar para alguma uniformização a este nível: “uma vez que temos internos em várias ilhas dos Açores, é fundamental garantir que todos têm as mesmas condições de acesso à formação”. O governante sublinhou, por outro lado, que a reabertura da Delegação Regional dos Açores da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar deverá contribuir para o reforço da formação de qualidade. Relembrou, ainda, os jovens médicos presentes que o arquipélago necessita de fixar profissionais em unidades fora da Ilha de São Miguel, em comuidades onde existem populações carenciadas, e declarou que os MF são os “grandes aliados na implementação de medidas preventivas e no reforço da confiança dos utentes no Serviço Regional de Saúde”.
No arranque dos trabalhos o presidente da APMGF, Rui Nogueira, não quis deixar passar a oportunidade de estar nos Açores para este evento e convidou todos a marcarem presença no 9º Fórum da EURIPA, a rede da WONCA Europa dedicada à prática da Medicina Familiar em meios rurais e isolados, que se realizará em Ponta Delgada, entre 7 e 9 de novembro de 2019, em simultâneo com as XVIII Jornadas de MGF dos Açores.
Tratamento e acompanhamento de feridas em CSP mereceu abordagem prática
Um dos workshops integrados no evento incidiu sobre intervenções em doentes com feridas. “Na auscultação que fizemos, os internos foram unânimes em afirmar que sentem uma grande lacuna formativa no campo da ferida. Quase sempre quem faz o tratamento e seguimento das feridas é a equipa de enfermagem, mas devemos perceber que a ferida não é apenas uma responsabilidade destas equipas de enfermagem, pelo temos de estar cientes em que contextos devemos agir, que tipos de materiais existem à nossa disposição e que procedimentos podemos desenvolver, ou quando devemos referenciar. No final, os colegas valorizaram a formação e até afirmaram que valeria a pena que esta se prolongasse por mais horas e com maiores componentes práticas, já que uma hora e meia de workshop foi muito pouco para, por exemplo, a discussão de casos clínicos”, assegura Tatiana Nunes.
Sexualidade: persistem os tabus «escondidos no armário»
Uma das sessões clínicas mais concorridas nestas jornadas foi a subordinada ao tema da sexualidade, com comunicações sobre infeções sexualmente transmissíveis, menopausa e vivência sexual na terceira idade. “Existem muitos bichinhos escondidos no armário dos quais ninguém habitualmente quer falar. Um dos principais tabus neste domínio é a sexualidade na terceira idade, sobre a qual falámos com a ajuda de uma sexóloga que também faz terapia familiar, a Dr. Natália Bautista”, recordou a representante da Comissão Organizadora.
Ana Carolina Bronze, também da Comissão Organizadora, frisa que no segundo dia das jornadas teve lugar a sessão «Pele e Saúde Infantil», moderada pela dermatologista Patrícia Santos e envolta em particular interesse: “ouvimos apresentações sobre psoríase, dermatite seborreica/pele atópica e exantemas. A Dermatologia é uma grande carência que sentimos nos CSP locais, já que no Hospital do Divino Espírito Santo não existe um serviço de Dermatologia bem estruturado – depende de médicos que fazem prestação de serviços – o que significa que o nosso contacto com a Dermatologia é tudo menos fácil”.
Balanço claramente positivo
Para Ana Carolina Bronze, o saldo das duas iniciativas é bem positivo, a começar pelo facto de terem sido apresentados interessantes trabalhos “não só por internos, mas também por especialistas de MGF que trabalham na região, trabalhos esses que como referenciou o júri, foram de um nível muito elevado”.
A jovem médica acrescenta “que se detetaram algumas falhas logísticas, naturais se pensarmos que a maioria dos internos que contribuiu para a organização nunca esteve envolvida num evento desta magnitude. Pese embora tudo isto, julgo que estamos todos de parabéns, porque as coisas correram muito bem no cômputo geral”.
Homenagem mais do que merecida ao Dr. Adelino Dinis
A APMGF promoveu uma homenagem ao Dr. Adelino Dinis na cerimónia de encerramento das XVII Jornadas de Medicina Geral e Familiar dos Açores. Rui Nogueira e Fontes e Sousa realçaram os valores humanistas e o intenso trabalho desenvolvido pelo Dr. Adelino Dinis, que nos deixou em 2017. A Assembleia Geral da APMGF aprovou um voto de louvor na altura do seu falecimento, mas agora perante os colegas dos Açores foi homenageado o médico de família, fundador da APMGF e grande impulsionador da Medicina Geral e Familiar na Região Autónoma dos Açores como médico de família, como dirigente da APMGF, como Coordenador de Internato de MGF dos Açores, mas principalmente como médico disponível e de projeto idealista. O Dr. Adelino Dinis foi um cultor da Medicina holística, um promotor da formação, um defensor do rigor e um símbolo da generosidade.