Escola de Outono de Medicina Geral e Familiar 2018
Foram 117 os profissionais de saúde (92 formandos e 25 formadores) que deram corpo aos quatro cursos (Cuidados Paliativos, Trabalhar com as Famílias, Doenças Respiratórias e Doenças Cardiovasculares) realizados este ano na Escola de Outono de MGF, organizada pela Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF) na Praia da Consolação (Peniche).
Regresso especialmente saudado foi o do curso de Doenças Cardiovasculares, preparado pelo Grupo de Estudos de Doenças Cardiovasculares da APMGF, que nos dois últimos anos não se havia realizado e que nesta edição esgotou as inscrições, com 30 participantes. Helena Febra, membro da equipa científica que coordenou o curso, relembra que “uma das grandes mais-valias do curso deste ano foi o enfoque nos aspetos práticos e o envolvimento direto dos participantes, com a apresentação de casos clínicos discutidos em pequenos grupos. Julgamos que esta é uma forma muito prática e consciente de trabalhar, que se suporta em situações reais do dia-a-dia e da nossa prática clínica, que necessitam de ser resolvidas. Isto acaba ainda por ajudar muitos participantes – que são internos da especialidade – a prepararem-se para o exame final, já que o mesmo integra hoje a resolução de casos clínicos”.
Projeto CAPA sensibilizou participantes de todos os cursos
O Curso de Doenças Respiratórias está “cada vez mais baseado em histórias clínicas e aspetos práticos e corresponde, pensamos, às necessidades e expetativas dos formandos”, explica Jaime Correia de Sousa, formador do curso e membro do GRESP – Grupo de Estudos de Doenças Respiratórias, que organiza esta formação. O GRESP aproveitou também a Escola para divulgar durante 15 minutos, em cada curso, o Projeto CAPA, que congrega o contributo de sociedades cientificas como a APMGF, a SPP, a SPAIC, a Sociedade Portuguesa de Pediatra, as três associações de farmácias portuguesas e várias associações doentes asmáticos. “O projeto CAPA está centrado na vontade de prestar cuidados adequados à pessoa com asma e o objetivo principal passa por melhorar as boas práticas na gestão da doença. Neste momento, estamos concentrados na questão do uso abusivo dos ß2-agonistas de curta duração, sobretudo o salbutamol, mas também a terbutalina, que muitas vezes são utilizados para fazer terapêutica sintomática, ao invés de um verdadeiro tratamento adequado da asma”, explica Jaime Correia de Sousa. Portugal foi um dos quatro países onde o projeto foi lançado em fase piloto e este conta já com um site, onde os profissionais podem recolher informação útil e obter acesso a conteúdos como os minutos CAPA (curtos vídeos de um minuto, que chamam a atenção para melhores práticas na gestão da asma). Será também feita uma ponte de especial importância com os farmacêuticos (que não raras vezes contactam, em primeira mão, com os doentes quem vêm buscar à farmácia medicação de alívio e que os podem encaminhar para o seu MF) e com os clínicos das urgências, no sentido de os aconselhar a não medicar sem levar em consideração o futuro controlo da doença.
Curso de cuidados paliativos é um excelente «trampolim» para formações mais avançadas na área
Quando o primeiro curso de cuidados paliativos foi organizado nas Escolas da APMGF quase não existia formação neste campo, em Portugal, para os especialistas de MGF e internos da especialidade. Hoje em dia, as opções formativas em cuidados paliativos são felizmente significativas em quantidade e qualidade, com referência particular para os cursos intermédios realizados nas diversas ARS. Contudo, a relevância do curso ministrado nas Escolas é inegável, segundo Rita Abril (formadora e uma das responsáveis pela coordenação científica da formação): “os médicos que vêm as Escolas são, regra geral, colegas em início de carreira que estão sedentos de formação e que revelam uma enorme abertura, pelo que este curso tem a capacidade de moldar as suas práticas de atuação no futuro. Depois, o curso da Escola tem uma carga horária um pouco maior do que aquela que caracteriza a maioria dos outros cursos de formação básica neste domínio, algo que permite explorar outro tipo de abordagens, como seja o foco da comunicação, com exercícios práticos e de role-play, que fazem mergulhar os formandos em cenários do quotidiano”. Rita Abril considera, aliás, que o curso de cuidados paliativos da Escola pode ser visto como “um trampolim, uma formação que dá às pessoas algumas ferramentas para realizarem ações paliativas com os utentes e famílias que seguem e as prepara para mais tarde, quem sabe, procurarem formações mais complexas e específicas na área, como pós-graduações ou mestrados”.
Carina Falhas (interna do 4º ano de MGF na USF Pinhal de Rei) esteve pela primeira vez nas Escolas da APMGF e escolheu o curso de cuidados paliativos por sentir que ao longo da sua formação “não tinha tido a oportunidade de reunir conhecimentos nesta área”. Esta jovem médica ficou muito satisfeita com a experiência: “o curso superou as minhas expetativas iniciais, porque veio ao encontro das minhas dúvidas e de temas que gostaria de aprofundar, mas aflorou ainda outros aspetos que eu não esperava que fossem abordados”. Por outro lado, Carina Falhas confessa que após esta formação se vai inteirar melhor sobre os recursos disponíveis no seu ACeS no âmbito dos cuidados paliativos.