No último dia do 23º CN e 18º ENIJMF
O terceiro dia do 23º Congresso Nacional acolheu uma mesa muito especial, dedicada a promover o Projeto Ler+ Dá Saúde, integrado no Plano Nacional de Leitura e que visa estimular a leitura em crianças entre os 0 e os 6 anos e respetivas famílias, através da disponibilização de livros nas unidades de saúde e envolvimento dos profissionais que ali trabalham. Isto porque todas as investigações levadas a cabo a nível mundial demonstram que o aumento da literacia e hábitos de leitura regulares nas crianças contribuem para melhor capacitação em saúde e melhores indicadores de saúde e bem-estar, em fases ulteriores da vida.
O Projeto Ler+ Dá Saúde conta com a participação da APMGF enquanto parceira, foi relançado recentemente e reúne já muitas unidades de saúde aderentes no terreno. Estas recebem uma caixa com livros para serem folheados, lidos e apreciados pelas crianças que por lá passam. Com esta mesa, os promotores do projeto pretendem aumentar a visibilidade da ideia e levar mais equipas de saúde a aderirem, algo que podem fazer através do website do Ler + Dá Saúde ou da página de Internet da APMGF.
Rizério Salgado, médico de família na USF São Julião de Oeiras e um pioneiro no campo da literacia em saúde acredita que iniciativas como esta têm diversos méritos, não só com vantagens para as crianças e famílias diretamente tocadas por elas, mas também no que respeita ao incremento da coesão e equidade social: “nos EUA, os estudos mostram que este tipo de programas tem sempre maior impacto nas famílias mais desfavorecidas, com menor nível de escolaridade”.
Já Elsa Conde, responsável pelo Ler + Dá Saúde, garantiu que trabalhar para a literacia em saúde é atuar num terreno em permanente evolução e estar atento às novas formas de captação de conhecimento e de histórias, por parte das crianças, pelo que o livro é apenas uma vertente em que se posiciona o Ler + Dá Saúde: “capacitar as crianças para ler e dar-lhes competências em literacia implica focar a atenção não só no livro, mas também em outros meios, como os ecrãs dos dispositivos eletrónicos a que elas estão hoje expostas. Tudo isto é muito novo e estamos a procurar adaptar-nos a estas realidades, mas nunca podemos ignorar este contexto”.
Desprescrever depende da vontade do doente, mas também da persuasão do médico
Tema forte da iniciativa, a desprescrição para além de dois workshops deu origem a uma sessão muito esclarecedora, durante a qual se esmiuçaram os receios dos doentes, as dúvidas dos médicos relativamente às melhores abordagens e as pressões institucionais e sociais que dificultam o concretizar da desprescrição. Luiz Miguel Santiago (Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra) relembrou que “a desprescrição é um trabalho de equipa” e instigou os colegas a insistirem num esforço que é, porventura, mais importante do que possam pensar: “se pedirem aos doentes que tragam o seu saco de medicamentos de casa, vão ficar espantados. Peçam para eles trazerem o saco todo e façam pelo menos uma revisão anual”. Já sobre a conjuntura atual, que favorece a agregação ad infinitum de novas terapêuticas farmacológicas, Luiz Miguel Santiago deixou um pequeno recado: “se queremos todos seguir as normas e guidelines à risca, inclusive por receio de incumprimento, porque é que andámos nas escolas médicas a estudar?”.
Nesta mesma sessão Pedro Augusto Simões, interno da USF Pulsar e doutorando na área da prescrição médica, revelou que de acordo com um estudo realizado em Portugal 60,3% dos doentes ponderariam retirar medicação do seu plano se a decisão final fosse imputada a si próprio, enquanto 39,2% se fosse imputada ao médico. “Para 40% destes doentes, está praticamente nas nossas mãos o ato de pararem a medicação de que não necessitam”, avançou Pedro Simões.