IX EURIPA Forum e 18ªs Jornadas de MGF dos Açores
O segundo dia do IX Fórum da EURIPA e 18ªs Jornadas de MGF dos Açores ficou marcado por visitas clínicas de mais de 60 médicos de família estrangeiros a duas unidades dos cuidados de saúde primários açorianos: o Centro de Saúde de Nordeste e o Centro de Saúde da Povoação. Tratou-se de uma oportunidade singular para ver de perto as condições de trabalho e a organização que rege o quotidiano dos especialistas de MGF no arquipélago. Os participantes ficaram bem impressionados não só pelas excelentes instalações e equipamentos existentes numa região tão remota do Velho Continente, como pelos métodos de trabalho e resultados em saúde obtidos pelas equipas açorianas.
“Ficámos muito invejosos com esta visita e pelo sistema que têm implantado aqui. A população parece ser muito bem tratada e receber cuidados otimizados, inclusive com uma unidade de internamento. Também foi a primeira vez que ouvi esta lógica de uma equipa completa visitar o doente, com médicos, enfermeiros e outros profissionais. É fenomenal e outras nações deveriam aprender com este exemplo”, sugere Sody Naimer, médico de família israelita e docente da Ben-Gurion University of the Negev.
Igualmente surpreendido pela positiva estava Oleg Kravtchenko, médico de família na Noruega: “estou deveras impressionado pela qualidade de cuidados prestados. Todos os clínicos com quem falámos parecem bem atualizados e acompanham o progresso da Medicina. É óbvio que existem diferenças face ao panorama norueguês, onde fazemos muitos exames e análises nas nossas próprias unidades, enquanto aqui são reencaminhados para laboratórios externos. De qualquer forma, encontrei uma unidade muito bem equipada, com MF e internos extremamente dedicados.
Já Elena Klusova, médica que exerce em Espanha, ressalva as rotinas seguidas pelos colegas dos Açores, que lhes permitem garantir qualidade nos cuidados prestados: “os colegas dispõem de amplo tempo para observar os doentes, por vezes com meia hora disponível quando o doente tem vários problemas de saúde. Em Espanha, o tempo disponível é em média de 6 minutos. Também é interessante que seja dada prioridade ao follow-up das doenças crónicas e que deem muita atenção à prevenção. Por outro lado, os colegas portugueses parecem menos ligados aos cuidados emergentes e agudos, enquanto que em Espanha há um balanço mais igualitário entre estas duas componentes”.
Gabriela Amaral, médica de família no CS de Nordeste que acompanhou os visitantes, destaca o facto da unidade na qual trabalha disponibilizar não apenas cuidados ambulatórios, mas também uma unidade básica de urgência e uma enfermaria de cuidados continuados com oito camas: “temos uma carteira de serviços que inclui não apenas consultas de MGF, mas também consultas de enfermagem, de Medicina Dentária, apoio ao nível da nutrição, psicologia, fisioterapia, fisiatria e cardiopneumologia”. Segundo Gabriela Amaral, “é interessante que os colegas internacionais venham conhecer a nossa realidade, como nos organizamos e trabalhamos em equipa nuclear. Houve alguns médicos que manifestaram a sua admiração pela forma como trabalhamos e pelos recursos de que dispomos”.
A sua colega Isabel Almeida, do CS da Povoação, recorda que uma parte significativa da população coberta por aquela unidade enfrenta dificuldades económicas e de acesso a cuidados de saúde secundários, pelo que a oferta abrangente de serviços deste centro de saúde torna-se imprescindível na sua vida. “Os médicos de família que aqui trabalham acataram o desafio da ruralidade, com situações clínicas e exigências que não seriam colocadas a médicos que atuam num meio citadino”.
Serviço de saúde açoriano tem vindo a fortalecer-se
Para todos os que não tiveram a possibilidade de participar numa das visitas a centros de saúde, para aferir in loco o estado de desenvolvimento dos CSP na região autónoma, a organização proporcionou vários momentos de partilha da experiência açoriana, desde logo uma sessão dedicada ao sistema de saúde do arquipélago e os seus fundamentos. Nela, o vogal executivo do Conselho de Administração da Unidade de Saúde da Ilha de São Miguel (USISM), Jorge Morgado, sublinhou a importância do trabalho em equipa: “temos adotado uma abordagem multidisciplinar, que tem sido muito bem-sucedida ao nível de resultados em saúde alcançados nos últimos anos”. O mesmo dirigente defendeu ainda que a consolidação do sistema de saúde açoriano tem beneficiado em grande medida da estabilidade crescente que caracteriza o exercício dos profissionais: “a mobilidade dos profissionais entre ilhas tem diminuído, de forma ininterrupta, desde 2010. Isto porque o apoio aos especialistas médicos (e em particular aos MF) foi melhorado por parte da estrutura administrativa”.
Várias mesas redondas das 18ªs Jornadas de MGF dos Açores também permitiram identificar com detalhe singularidades do serviço de saúde açoriano, porventura merecedoras de replicação noutros locais. Realce, neste domínio, para o bem estruturado Programa de Intervenção no Cancro da Cavidade Oral nos Açores – PICCOA – que abarca mais de 130 mil açorianos e que pretende detetar de forma precoce lesões pré-malignas ou malignas na cavidade oral e encaminhá-las para avaliação e acompanhamento hospitalar.
Outra área que tem sido cada vez mais acarinhada no arquipélago (e que foi alvo de análise em sessão específica) é a dos cuidados paliativos, que contam já com uma unidade de cuidados paliativos no Hospital do Divino Espírito Santo e uma equipa comunitária de suporte em cuidados paliativos na USISM.