Escola de Outono de MGF 2019
Durante três dias e meio, a Escola de
Outono de Medicina Geral e Familiar (MGF) da APMGF acolheu 113
participantes na Póvoa de Varzim, para quatro cursos com impacto
óbvio sobre a qualidade do trabalho dos médicos de família:
Atualização em Doenças Cardiovasculares, Sexologia Clínica em
MGF, Reumatologia em MGF e Curso Básico em Cuidados Paliativos.
“Penso
que as pessoas ficaram muito satisfeitas e podemos considerar que a
Escola foi um sucesso. Tivemos colegas especialistas e internos de
todo o país e pela primeira contámos com o curso dedicado à
Sexologia Clínica, formação muito apreciada pelos formandos e que
tem sido, de alguma forma, descurada no currículo da especialidade,
o que é significativo, porque é chegada à altura de saber abordar
estas problemáticas no dia-a-dia da consulta de MGF”, considera
Regina Sequeira Carlos, membro do Departamento de Formação da APMGF
e coordenadora pedagógica de dois cursos da Escola.
A
coordenar cientificamente o curso de Sexologia Clínica em MGF, que
de modo muito célere esgotou as vagas, esteve Vasco Prazeres. O
médico que pertence os quadros da Direção-Geral da Saúde acredita
que a enorme apetência por esta formação estará relacionada como
facto de “ter havido escassa formação pré e pós-graduada nestas
áreas. Muitos dos colegas que aqui estiveram são jovens internos,
saíram há pouco tempo das escolas médicas e são os primeiros a
afirmar que no decurso da sua graduação em Medicina nunca tiveram
acesso a abordagens sistematizadas nesta área. Isto é
particularmente grave no caso da MGF, porque estamos a falar de uma
especialidade que atua no domínio das relações familiares,
conjugais e de intimidade. Quando não existe preparação prévia
para lidar com estes temas e nem sequer orientações práticas, é
natural que as pessoas se sintam sem referências para trabalhar o
assunto”.
Filipa
Araújo, interna da USF Lavradio, frequentou este curso de Sexologia
Clínica em MGF e reconhece que as suas competências nesta dimensão
não foram muito desenvolvidas nos anos de formação que leva: “em
termos pré-graduados, não recebemos quase formação nenhuma neste
campo e depois percebemos que não temos capacidade de resposta na
consulta, quando as pessoas nos chegam com questões relacionadas com
estes temas, que são cada vez mais atuais. O que tentava fazer até
agora era procurar informação em diversas fontes, mas senti a
necessidade reunir e sistematizar conceitos, aprofundar conhecimentos
até em matérias como a transexualidade e a orientação sexual.
Julgo que a partir de agora ficarei mais à-vontade para aflorar
estes aspetos e para orientar os utentes, quando surgirem situações
mais complexas”. Já Vera Leitão Esteves (USF Descobertas), também
formanda do mesmo curso, garante “que existe uma procura maior por
parte dos doentes relativamente a estes tópicos, talvez até pela maior disponibilização de informação nos media e nas redes
sociais. Isto faz com que as pessoas se sintam mais confortáveis
para expor estas questões da sexualidade e nós temos a
responsabilidade de lhes dar respostas”. Esta jovem médica
valorizou no curso sobretudo “as diversas tipologias de abordagem
da sexualidade” e as “pequenas dicas de como podemos, do ponto de
vista comunicacional, aceder às pessoas e empatizar com elas”.