Rede Médicos Sentinela
A Rede Médicos Sentinela realizou a sua reunião anual no dia 29 de novembro, no Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), num momento em que comemora 30 anos de existência. O encontro, que juntou cerca de 80 participantes, teve este ano uma dinâmica diferente e foi precedido, no dia 28, pela conferência «Rede Médicos Sentinela: uma Rede com História». De acordo com Ana Paula Rodrigues, coordenadora da rede, esta conferência serviu “sobretudo para contarmos a história da rede na primeira pessoa, convidando colegas que lhe pertencem desde há longa data, mas também colegas mais jovens, com o intuito de todos poderem partilhar experiências e testemunhos. A reunião contou com muitos colegas na audiência que estão na rede há apenas um ano ou dois anos e que, assim, puderam ficar a conhecer o percurso já realizado e, de certo modo, a identidade da rede e a sua origem”.
A Rede Médicos Sentinela está no presente de boa saúde, com cerca de 160 médicos ativos e 141 listas em vigilância. Ainda mais importante, tem conseguido chamar para as suas hostes sangue novo, com 30 novos elementos inscritos entre a reunião anual de 2018 e a de 2019, um nível de adesão que a Rede pretende “manter nos próximos anos”, assegura Ana Paula Rodrigues .
Nesta reunião, para além da análise do trabalho de vigilância epidemiológica da gripe na época 2019/20, os participantes familiarizam-se com os resultados preliminares de dois estudos que têm vindo a fazer o seu caminho na rede, sobre a insónia na população da Rede Médicos Sentinela e as correlações entre a patologia benigna da tiróide e o cancro da mama.
Foram, também, apresentados três estudos que poderão vir a desenvolvidos na rede em 2020, relacionados com a insuficiência cardíaca, o ponto da situação em termos do planeamento de cuidados em fim de vida e subnotificação de reações adversas a medicamentos. Se os primeiros dois estudos são propostos por médicos dos cuidados de saúde primários, o último tem a sua génese na Unidade de Farmacovigilância de Coimbra e deverá ter os requisitos necessários para arrancar rapidamente, como explica Ana Paula Rodrigues: “parece-me ser o que está em melhores condições de ser implementado logo no início de 2020, uma vez que está já mais estruturado e possui um protocolo, abarcando também um tema muito pertinente e que despertou grande interesse nos colegas presentes na reunião”.
Rede conserva a sua matriz e enorme utilidade em termos de saúde pública
Fernando de Almeida, presidente do INSA, não tem dúvidas de que a Rede Médicos Sentinela faz tanto sentido hoje como fez nos tempos em que arrancou, pese embora a miríade de ferramentas de medição em saúde disponível no presente: “já percebemos todos que alguns arautos que vaticinavam outras coisas que não a manutenção da rede se equivocaram. Esta rede, independentemente de todos os sistemas informáticos e tecnologias que possam existir, retém um elemento fundamental de sensibilidade, que é a pessoa, neste caso o médico. E é nele que vamos apostar de forma séria. Em algumas regiões do país (com referência especial para o Algarve, Alentejo e determinadas zonas do distrito da Guarda) ainda não existem médicos sentinela e o nosso intuito é o de desenvolver sessões de esclarecimento, em conjunto com a Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF), com vista a trazer mais colegas para esta rede que é tão viva e possui uma cultura muito própria”. O presidente do INSA agradeceu também a todos os médicos de família pelo seu empenho em defesa de uma “rede que nunca irá acabar”.
Já Rui Nogueira, presidente da APMGF, reforçou que a Associação que lidera “continua a estar disponível para a Rede Médicos Sentinela” e apelou para que os membros da rede “peçam à APMGF tudo o que entenderem como útil e válido para fazerem desenvolver o espírito e a cultura da rede, um património que interessa enaltecer”.
O dirigente assinalou, ainda, que é importante que “todos façam um esforço para garantir a ampliação da rede, o grande desafio que temos pela frente. Nele, a APMGF será o grande aliado. A Associação tem perto de 4 mil membros fidelizados em todas as regiões do país e esta implantação dos médicos de família é uma mais valia significativa, que devemos aproveitar. Da mesma forma que devemos potenciar o manancial incrível de informação de que dispomos hoje nas unidades dos cuidados de saúde primários e que permanece por explorar”. Rui Nogueira sublinhou, por fim, que na era digital e em convivência com múltiplos sistemas informáticos de recolha de dados em saúde, a Rede Médicos Sentinela continua a desempenhar um papel crucial, pelo “seu rigor e interpretação”.