Ricardo Mexia, epidemiologista do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge e presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública (ANMSP), acredita que é “importante melhorar a estratégia de comunicação” desenvolvida pelas entidades do Ministério da Saúde e todas as organizações da Saúde em Portugal relativamente ao contágio pelo novo coronavírus (COVID-19).
O dirigente da ANMSP reconhece que há uma “sensação entre os profissionais de que existe escassez de informação ou de materiais claros, para que todos possam perceber qual o seu papel e o que devem fazer, assim como para esclarecer os cidadãos e utentes sobre modos de encarar este problema”. Assim, Ricardo Mexia sublinha que “é importante reforçar a informação para as pessoas, através de todos os mecanismos possíveis, para que elas se possam proteger a si e aos outros”, indicando medidas relevantes como as subordinadas à etiqueta respiratória (usar lenços descartáveis, tossir para a prega do cotovelo, praticar distanciamento social, etc.), ou a regularidade da higienização das mãos.
Já sobre a atuação dos especialistas de Medicina Geral e Familiar (MGF), nesta fase em que não há casos confirmados de infeção no nosso país, mas diversos focos significativos de contágio na Europa, Ricardo Mexia é perentório: “é fundamental que os médicos de família (MF), na sua atividade diária, expliquem aos seus doentes pelos diversos canais que têm à sua disposição que perante uma suspeita a primeira atitude não deve passar por deslocarem-se ao MF, mas sim ligar para a Linha SNS 24. É isto que devem recomendar, sobretudo aos utentes que regressando de outras regiões ligam para marcar consulta”. Quando o doente já está no centro de saúde, para fazer uma consulta agendada ou outro qualquer procedimento, a “orientação técnica da DGS é muito clara. O primeiro profissional que identifique que se trata de um caso suspeito deve ter à disposição uma máscara cirúrgica para dar ao utente e cada unidade deverá reservar um espaço onde esta pessoa deverá permanecer, enquanto for validada a sua situação clínica junto da linha de apoio ao médico”, acrescenta o presidente da ANMSP.
A este propósito, Ricardo Mexia acrescenta a imperiosidade de cada unidade de saúde, antes do surgimento de qualquer eventual caso suspeito, garantir as condições mínimas de resposta, isto é, “identificar qual a sala para a qual são encaminhadas as pessoas e garantir que todos sabem onde estão localizados os equipamentos de proteção individual e as máscaras cirúrgicas, os quais devem estar num local de fácil acesso, para uma utilização célere”.
A comunidade de Saúde Pública tem seguido com natural atenção o desenrolar dos acontecimentos em redor do COVID-19 e, segundo Ricardo Mexia, apesar de ser extremamente difícil prever como decorrerá a evolução do contágio em termos mundiais, é essencial tomar medidas que permitam conter a infeção da forma mais eficaz possível em território nacional, se e quando aparecerem casos confirmados: “se há uma semana atrás nos dissessem que se passaria algo como aquilo a que assistimos em Itália, com a dimensão já conhecida, não encararíamos tal panorama como provável. Portugal, até agora, não teve casos importados, mas é muito possível que venha a acontecer em breve. O mais importante é continuarmos o nosso trabalho para evitar que haja cadeias de transmissão mantidas em Portugal. Ou seja, a nossa expectativa é a de conseguirmos gerir a situação sem um avolumar significativo de casos, evitando um cenário em que de repente transitamos de meia dúzia de casos para várias centenas, como sucedeu em Itália”.