Em entrevista à rádio Antena 1 e ao Negócios, o bastonário da Ordem dos Médicos (OM) avisou os responsáveis políticos da área da saúde que chegou o momento de pensar na pausa da classe médica portuguesa, exausta com a carga excessiva de trabalho desencadeada nos últimos meses pela pandemia de COVID-19: “muita coisa aconteceu nestes meses, muito mais do que aquilo que as pessoas imaginam. Não vamos falar de suicídios, porque não o podemos fazer publicamente, mas poderíamos falar. Há muita coisa complicada que aconteceu neste período e espero que a Senhora Ministra da Saúde esteja a par de tudo”.
Assim, segundo Miguel Guimarães é mesmo fundamental garantir que os médicos podem fazer uma pausa nas próximas semanas para recarregar baterias, ou o resultado poderá ser grave: “não parar pode ter consequências desastrosas, em termos de saúde mental, por um lado, mas também daquilo que são as dimensões do burnout e do sofrimento ético. Ou seja, a pessoa querer continuar a dar o melhor de si e a trabalhar, saber que se não o fizer irá prejudicar o serviço – algo que em última instância tem implicações sobre os próprios doentes – mas sabendo também que não está em condições”.
O bastonário da OM sublinhou ainda nesta entrevista que para uma recuperação eficiente de toda a atividade assistencial que foi colocada em suspenso pelo SARS-CoV-2 só existe uma solução possível, que passa por um programa excecional colocado em marcha no SNS: “se não formos mais além do programa do SIGIC, se não tivermos um programa verdadeiramente excecional (algo que acontece durante três, quatro ou cinco meses e depois para, com as coisas a voltarem à dita normalidade), torna-se evidente que muitos doentes vão perder a oportunidade de tratamento”.