A carreira médica, alicerce central do Serviço Nacional de Saúde e dos seus sucessos históricos, está seriamente ameaçada de extinção e parece colher pouco mais do que indiferença por parte da tutela. Na sessão “Carreira Médica – avançar é preciso!”, os participantes concordaram em uníssono sobre a importância de todas entidades que representam os médicos congregarem esforços para defender a carreira e elevá-la.
“Vivemos uma situação de alta complexidade, ainda para mais com a pandemia, com uma enorme agressividade e pressão por parte dos doentes”, explicou Jorge Roque da Cunha (secretário-geral do SIM). O sindicalista lembrou que o Ministério da Saúde impõe cada vez mais encargos aos médicos – e aos médicos de família em particular – que não fazem parte do seu perfil e das responsabilidades associadas à carreira, ao mesmo tempo que o governo se entretém a denegrir publicamente a imagem dos médicos de família: “apelo a uma melhor organização da nossa parte, de todos os médicos, porque só desta forma seremos capazes de desmontar esta campanha indigna e cobarde que o governo desencadeou com o apoio dos seus assessores de comunicação”.
O desejo de união foi também partilhado por Rosa Ribeiro (Comissão Executiva da FNAM): “temos de estar todos juntos (Ordem, sindicatos e associações) e depende de nós a decisão de revitalizar a carreira médica, que está hoje um pouco esquecida. É importante que possamos tomar nas nossas mãos o nosso destino e o da nossa carreira”.
Rosa Ribeiro lembrou que a carreira médica tem vindo a ser desestruturada por sucessivos governos (desde os tempos de Leonor Beleza) e que um dos mais recentes ataques assumiu a forma do Sistema Integrado de Gestão e Avaliação do Desempenho na Administração Pública (SIADAP): “o SIADAP não serve para nada. Pode ser aplicado aos secretários clínicos e outros profissionais, de forma muito retorcida, mas tem revelado as suas enormes dificuldades na aplicação aos médicos. Temos de pugnar para que a nossa avaliação seja feita com base na qualidade do trabalho clínico e não na quantidade de atos”.
Rui Nogueira, presidente da APMGF, mostrou-se sobretudo preocupado com os caminhos que a carreira médica venha a trilhar: “é importante que a carreira médica seja atrativa e realista, que olhemos para a frente e adaptemos a estrutura da carreira aos novos tempos. Que me perdoem os passadistas, mas é indispensável que ela seja útil e efetiva, que nos deixe tranquilidade para evoluir, a cada ano que passa”. O presidente da APMGF acrescentou nesta sessão que “a APMGF valoriza a carreira médica, a carreira médica que os MF vierem a valorizar”.