Lisboa, 1 de outubro de 2020 – Os médicos de família portugueses continuam, tal como sempre estiveram, empenhados em proporcionar os melhores e mais adequados cuidados de saúde a todos os seus utentes. A pandemia que atravessamos obrigou a uma profunda reorganização dos Cuidados de Saúde Primários e trouxe consigo uma multiplicidade de novas tarefas. Os médicos de família estiveram, estão e continuarão a estar na primeira linha do combate a esta pandemia e por isso reorganizaram toda a sua atividade de forma a dar resposta à miríade de novas solicitações com que foram confrontados. Isto sem ter havido qualquer investimento suplementar nos centros de saúde, como foi anunciado recentemente para os hospitais do SNS.
A segurança de todos e de cada um dos utentes é uma preocupação fundamental para nós, razão pela qual nos empenhámos em encontrar alternativas válidas ao atendimento presencial, nomeadamente através do recurso ao telefone, videoconferência ou correio eletrónico. Os médicos de família têm procurado através destas vias alternativas recuperar as consultas que foram sendo desmarcadas ao longo dos últimos meses, garantindo o atendimento presencial sempre que tal é absolutamente necessário.
Ao contrário do que tem sido difundido, os centros de saúde não estão fechados nem nunca estiveram. Os médicos de família que lá trabalham estão sujeitos a uma sobrecarga de tarefas, tendo desde logo a seu cargo o seguimento diário de milhares de suspeitos ou confirmados para a Covid-19. Para além desta hercúlea tarefa, dão ainda apoio a situações de surtos em ERPI’s, realizam incontáveis contactos telefónicos com os seus utentes, respondem a dezenas de e-mails por dia, garantem a resposta à doença aguda e a vigilância de grupos de risco. Toda esta intensa atividade é exercida num contexto de um claríssimo desinvestimento nos Cuidados de Saúde Primários e nas suas unidades funcionais, muitas vezes pautado pela mais que evidente escassez de recursos humanos, de equipamentos e de recursos materiais. Gostaríamos de relembrar, por outro lado, que previamente à pandemia os médicos de família já estavam assoberbados com listas de utentes desproporcionadas e elevada pressão assistencial, condicionantes que implicavam desde logo uma gestão complexa do tempo e da agenda clínica, contexto agora seriamente agravado em fase pandémica.
Aos médicos de família são ainda atribuídas múltiplas tarefas burocráticas e administrativas inapropriadas, que ou são desnecessárias ou poderiam ser realizadas por outros grupos profissionais. Urge implementar medidas de simplificação e abolição de atos administrativos desnecessários ou dispensáveis no contexto de pandemia e de estado de contingência, de modo a permitir que os médicos de família tenham tempo para realizar a sua principal missão: promover e cuidar da saúde dos seus utentes, em todas as suas dimensões.
Os médicos de família portugueses estão profundamente preocupados com a situação que previsivelmente se viverá na época de outono/inverno que agora se inicia e consideram como prioritária a preparação criteriosa da resposta aos doentes com doença respiratória aguda. Os médicos de família, de forma abnegada e dedicada, continuarão sempre a exercer o seu trabalho em prol da saúde das populações em geral e de cada utente em particular.
A APMGF solicitou audiência à Senhora Ministra da Saúde no passado dia 7 de setembro para abordar todas as dificuldades sentidas nos centros de saúde. Até à data não obtivemos resposta a este pedido, pelo que nos mantemos apreensivos quanto às condições de acessibilidade a cuidados de saúde.