A Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF) acolheu na sua sede uma delegação do Bloco de Esquerda (BE) no dia 19 de novembro, com o intuito de partilhar com aquela força política algumas das preocupações atuais dos médicos de família portugueses, que no presente trabalham num contexto muito difícil e desafiante, face às crescentes necessidades associadas à pandemia de COVID-19 e à manutenção da atividade assistencial não-COVID. Nesta reunião participaram o presidente da APMGF, Rui Nogueira, bem como o vice-presidente Arquimínio Eliseu. Da parte do BE marcaram presença a coordenadora nacional do Bloco (Catarina Martins) e o deputado à Assembleia da República Moisés Ferreira. Este encontro surge num momento importante, já que decorrem ainda reuniões entre as forças partidárias que poderão introduzir alterações, em sede de especialidade, ao Orçamento de Estado para 2021.
“Temos olhado muito para os casos de internamento e para os cuidados intensivos – e bem, porque nos dizem alguma coisa da capacidade do sistema de saúde – mas é bom não esquecer que os médicos de família acompanham 96% das pessoas que estão infetadas com este vírus (…) temos no presente uma situação muito complicada para os médicos de família, que são essenciais na ligação aos doentes e que para estes compreendam o isolamento em que têm de ficar (…) para avaliar os sintomas dos doentes e detetar quando estes se agravam”, referiu Catarina Martins aos jornalistas, no final desta reunião.
A coordenadora nacional do BE abordou também algumas das propostas concretas analisadas neste encontro e que poderão fazer sentido implementar a curto e médio prazo, de modo a garantir que o SNS dá a melhor resolução aos problemas dos utentes: “em primeiro lugar, não podemos desistir de contratar ao setor privado os médicos de família que saíram do SNS e para isso é claramente necessário incentivos, sobretudo ao nível das condições de trabalho (…) em segundo lugar, é preciso aliviar estes médicos de procedimentos burocráticos que não têm nenhum sentido (…) fazer uma coisa tão simples como colocar centrais telefónicas capazes nos centros de saúde e, não menos importante, alterar os critérios sobre o que se faz no âmbito da atividade não-COVID. Neste momento, existem atividades que permanecem e que não são essenciais. Alguém só poder renovar a carta de condução aos 61 anos não constitui um problema de segurança para o país, mas pelo contrário, manter o rastreio de cancros ou o contacto com pessoas vulneráveis com doenças crónicas é fundamental”. A bloquista deixou também o alerta de que “tem faltado planeamento nos CSP” em Portugal e sublinhou que os médicos de família são uma peça chave não apenas para o controlo da pandemia, mas também para melhorar a saúde de todos os cidadãos afetados por outras patologias.
Por seu turno, Rui Nogueira explicou aos representantes do BE que é imprescindível nesta fase dar a volta ao texto e encontrar uma nova estratégia para a atuação dos CSP: “a resposta organizada que temos está muito baseada nos fundamentos que vigoravam na primeira vaga da pandemia. Mas agora constatamos que a resposta a esta segunda vaga – face à sua dimensão e à cronologia invernal – tem de ser diferente ou tornar-se-á inútil”. Por outro lado, o presidente da APMGF deixou bem claro à delegação partidária que a Associação está preocupada com a lentidão e reatividade das estratégias definidas pela tutela: “o anúncio de medidas é sempre reativo e não pró-ativo. Pensar em medidas que são gizadas hoje e devem entrar em vigor daqui a uma semana não nos ajuda (…) quando se está a falar de estado de emergência devemos estar perante medidas extremas e excecionais, é certo, mas que têm de ter um efeito imediato e serem efetivas. Ou seja, carecem de celeridade!”.