MF podem lançar-se nas mais invulgares «aventuras» com boas hipóteses de sucesso

Médicos de família com percursos de eleição (e de certa forma pouco ortodoxos para aquilo que se esperaria de um especialista de MGF) revelaram hoje no 19º ENIJMF os riscos que assumiram e as decisões invulgares que tomaram e que lhes permitiram realizar um caminho diferente na especialidade. Assim, no debate «Medicina Geral e Familiar: orgulho e preconceito», João Coucelo (médico interno de MGF na UCSP Vila do Bispo com formação e experiência em Emergência Médica e Medicina de Catástrofe) explicou que sempre associou a MGF, a Medicina que os tios praticavam, com o mundo da emergência: “acredito que na MGF cada colega deve procurar uma área de especialização. Não vejo nisto nenhum complexo ou conflito com o nome e os princípios da especialidade, em particular se estivermos a falar de áreas de intervenção onde não existam atualmente especialidades clínicas que cubram completamente as necessidades, como é o caso da emergência”.

Outra trajetória invulgar é a de David Rodrigues, hoje vice-presidente de conteúdos médicos na UpHill, mas que já foi médico de família numa unidade de saúde familiar e docente numa escola médica. “O meu percurso foi tudo menos linear, facto que me dá até algum orgulho”, atesta David Rodrigues. Embora admita que passou por momentos de indefinição e muitos altos e baixos, este colega afirma que nunca se manteve afastado de dois “componentes vincados da MGF: a abrangência e a incerteza. Isto é algo que causa muita angústia aos internos e jovens médicos de família no início de carreira, mas é ao mesmo tempo aquilo que mais me atrai na MGF. Hoje, é-me extremamente útil saber lidar com qualquer tema médico e conseguir reduzir a incerteza, reconhecendo que ela vai sempre existir”.

Ana Luísa Neves (Associate Director/Advanced Research Fellow do Institute of Global Health Innovation – Imperial College London), tem feito uma carreira internacional na área académica e de investigação, depois de ter falhado a entrada em Cardiologia e de se ter apaixonado pela MGF durante o internato que realizou no Norte de Portugal. O seu sucesso resultou de um conjunto de iniciativas da sua parte, mas também de supostos retrocessos que a levaram a um lugar que atualmente não trocaria por nada: “todas as coisas que correm mal podem também ser oportunidades e devemos abraçar o que nos acontece no sentido de crescermos enquanto profissionais”. Para Ana Luísa Neves, qualquer que seja o objetivo que os jovens MF tracem para si, o mais importante “é não perder o foco naquilo que desejamos para nós mas, ao mesmo tempo, não perder a perceção do que se passa à nossa volta e descobrir outras oportunidades que estão lá”.

Clara Jasmins (médica interna de MGF na USF Venda Nova), a moderadora deste debate, relembrou a este propósito a importância de os profissionais de saúde saberem “reinventar-se perante aquilo que às vezes pensam que não correu tão bem, mas que afinal sai «melhor do que a encomenda»”.

Já Victor Ramos, decano da MGF nacional e atual diretor da Escola de Saúde e Desenvolvimento Humano da Universidade de Évora, reviu os marcos mais importantes da especialidade nas últimas quatro décadas em Portugal e aproveitou para deixar um conselho aos colegas mais novos, que possam estar a considerar uma mudança de carreira invulgar: “por vezes, é importante sermos capazes de abrir mão de uma posição securizante mas atrofiante, não nos agarrarmos a modelos rígidos, uniformes e amuralhados, no sentido de darmos um salto em direção ao futuro”.

 

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