Escola de Primavera 2021 mostrou que o desafio de formação virtual pode ser ganho!

A Escola de Primavera de Medicina Geral e Familiar (MGF) 2021, organizada pela APMGF e realizada exclusivamente no espaço virtual entre abril e junho deste ano, conseguiu uma excelente adesão da parte dos internos de MGF e médicos de família portugueses, contando com 255 participantes inscritos. Um dos grandes marcos foi o curso «Atividade Física e Nutrição em Contexto de Pandemia», que envolveu 106 participantes e se dividiu por quatro módulos dedicados à nutrição e orientados pelo Grupo de Estudos de Nutrição e Exercício Físico (GENEF) da APMGF e quatro módulos vocacionados para a atividade física, desenvolvidos por uma equipa de especialistas coordenada por José Luís Themudo Barata, professor auxiliar com agregação da Universidade da Beira Interior (UBI) e regente naquela instituição das Unidades Curriculares de Exercício na Saúde e na Doença e Nutrição e Dietética. Segundo Ana Luís Pereira, do GENEF, o feedback recebido dos participantes deste curso foi muito bom: “transmitiram-nos que este modelo on-line das Escolas acaba por permitir uma maior flexibilidade, neste período tão difícil. Ou seja, os colegas conseguem manter a formação e a atualização clínica, respeitando ao mesmo tempo as regras que agora nos são impostas. De facto, é muito importante durante este longo período pandémico – em especial para quem está em pleno internato – manter a atualização de conhecimentos”. Ana Luís Pereira realça ainda o facto de em 2021 o curso de nutrição e exercício da Escola de Primavera ser mais equilibrado: “nos últimos anos existia sempre uma componente maior relacionada com o exercício e uma abordagem menos intensa da nutrição. Contudo as questões nutricionais estão cada vez mais presentes na consulta do MF e precisamos de desenvolver ferramentas neste campo”.

Por seu turno, José Luís Themudo Barata relembra que as faculdades de medicina no nosso país preparam mal os futuros médicos para lidar com os desafios da atividade física nos seus utentes/doentes, razão pela qual cursos intensivos e de curta duração como este são tão relevantes, sobretudo numa época em que as pessoas se veem empurradas para o imobilismo: “esta necessidade formativa torna-se ainda mais acentuada nos atuais períodos de confinamento, com muitas pessoas trancadas em casa. Neste curso demos exemplos práticos de atividades que podem recomendadas pelos médicos de família e ser realizadas indoor”. O docente da UBI garante ainda que “existem vários estudos de sociedades de ensino médico que mostram que uma abordagem conjunta da nutrição e do exercício físico é mais rentável em termos formativos”, evidência que justifica em toda a linha a filosofia integradora adotada para este curso e que pode ajudar os médicos de família a se tornarem dinamizadores de mudanças no estilo de vida.

Navegar a complexidade em MGF

Estreia de relevo nas Escolas da APMGF foi o curso «Complexidade de Cuidados em MGF». Esta formação, que beneficiou da coordenação científica de Paula Broeiro e coordenação pedagógica de Regina Sequeira Carlos, teve como objetivos partilhar a aprendizagem da gestão da complexidade entre pares formativos e facilitar a construção de planos integrados de cuidados centrados na pessoa, em situações complexas. “Este curso iniciou-se com uma revisão teórica sobre a complexidade de cuidados, mas depois seguiram-se quatro módulos práticos que recorreram sempre à metáfora náutica (coordenadas geográficas da complexidade, navegadores da complexidade – intervenientes envolvidos, como navegamos na complexidade e instrumentos de navegação para chegarmos a bom porto)”, esclarece Paula Broeiro, para quem a lógica basilar por detrás do curso foi a de “dar as ferramentas para que as pessoas ganhem alguma autonomia com vista a gerirem situações para as quais não há uma resposta linear”. Ainda na perspetiva da coordenadora científica do curso, embora o tema da complexidade “não seja hoje muito tradicional nas formações direcionadas aos médicos de família, é algo de muito natural e habitual no seu quotidiano de trabalho”, motivo pelo qual se torna inteiramente legitima uma formação que “utiliza o método reflexivo para enfrentar momentos em que não existem respostas evidentes proporcionadas pelas normas, orientações ou evidências clínicas”.

Curso desenvolvido pelo GED reuniu mais de centena e meia de participantes

O curso «Abordagem Prática Médica da Gestão e Formação na Pessoa com Diabetes» foi o que recolheu o maior número de participantes nesta Escola da Primavera (168). Na ótica de Ângela Neves, coordenadora do Grupo de Estudos em Diabetologia (GED) da APMGF, estrutura responsável pela formação, “a enorme procura por este curso é explicada pela circunstância de diabetes continuar a ser uma das doenças crónicas de maior prevalência. Por outro lado, todos nós sentimos que este grupo de doentes, fruto da pandemia, acabou por ficar um pouco à margem, face aos doentes Covid”. Assim, a coordenadora do GED acredita que muitos colegas “sentiram a necessidade de refrescar e consolidar conhecimentos na área da diabetes”, com especial enfoque na área das terapêuticas injetáveis, “um domínio que atrai sempre muita atenção, até porque a formação a este nível no dia-a-dia nem sempre é aquela que gostaríamos de ter”.

Ângela Neves mostra-se satisfeita pelo facto de organização ter conseguido um programa abrangente e por os formandos “se mostrarem sempre muito interessados e com participação ativa”, resultado para o qual terá também concorrido a decisão de incluir na equipa de formadores profissionais não médicos que garantem outras visões sobre as problemáticas da diabetes (nutricionistas, psicólogos, etc.).

Já relativamente ao curso «Cessação Tabágica», organizado pelo Grupo de Estudos de Doenças Respiratórias (GRESP), tratou-se de uma iniciativa que, segundo o coordenador da grupo, Rui Costa, “faz parte de uma estratégia do GRESP/APMGF para desenvolver educação médica contínua à distância de forma acessível, com o intuito de chegar a um número mais alargado de interessados. O balanço deste curso foi muito positivo, uma vez que esta edição contou com 97 inscritos e o curso de tabagismo foi elaborado com vista a satisfazer a necessidade formativa e educacional na área do tabaco pela Medicina Geral e Familiar”.

Ainda de acordo com Rui Costa, “a temática do tabagismo, com especial ênfase na sua ativa prevenção e cessação, é de elevada importância no âmbito da prática clínica diária na Medicina Geral e Familiar. A relevância desta temática está relacionada com o facto de tabaco constituir o mais grave problema de saúde pública a nível mundial, sendo uma das principais causas evitáveis de morte no mundo”. Para Rui Costa, “o valor curricular deste curso de tabagismo é de elevada relevância e utilidade para a prática diária da MGF, permitindo aos participantes de uma forma cómoda ter acesso a um conjunto significativo de informação, recorrendo a médicos especializados nas diversas temáticas versadas”.

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