Para a presidente do Conselho Fiscal da APMGF, Ana Luís Pereira, é fundamental nesta época repleta de obstáculos que o “trabalho necessário, mas muitas vezes invisível, dos Médicos de Família seja reconhecido pelo Ministério da Saúde”.
Dificilmente os novos órgãos sociais da APMGF poderiam ter entrado em funções numa fase mais crítica e delicada para os MF portugueses e os CSP no nosso país, devido à pandemia e às limitações socioprofissionais que esta introduziu. Sente que há mais desafios para superar neste momento histórico?
Ana Luís Pereira – Os novos órgãos sociais da APMGF tomaram posse num ano difícil e cheio de desafios e superações. Os Médicos de Família têm desempenhado múltiplas tarefas na gestão da pandemia de COVID19, com o consequente desgaste profissional e pessoal. A pandemia de COVID19 mostrou, mais uma vez, a importância dos cuidados de saúde primários (CSP) e em particular dos Médicos de Família para uma resposta rápida, consistente e comunitária dos serviços de saúde. No entanto, precisamos que o trabalho necessário, mas muitas vezes invisível, dos Médicos de Família seja reconhecido pelo Ministério da Saúde. Há um longo caminho a percorrer no estabelecimento de práticas de trabalho que valorizem e dignifiquem os CSP, assim como o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional.
Que balanço faz da aposta crescente que a APMGF tem realizado ao nível dos eventos on-line?
A aposta da APMGF na formação em formato digital foi muito importante, particularmente neste período de pandemia, uma vez que permitiu a manutenção da eventos formativos da Associação mesmo com todas as condicionantes. Os eventos online apresentam uma participação significativa dos colegas e com elevados níveis de satisfação. A formação em formato online traz várias vantagens, no entanto não substitui os eventos de formação presenciais. No futuro, teremos o desafio de manter este processo de digitalização e conciliar com atividades presenciais, podendo desta forma chegar a colegas com diferentes perfis e necessidades formativas.
Em termos pessoais, a sua atividade profissional é multifacetada, dividindo-se entre a clínica privada, gestão de uma empresa especializada em cuidados ao domicílio e até de uma plataforma digital vocacionada para a literacia em saúde. Uma vez que cada vez mais especialistas de MGF adotam percursos pouco ortodoxos, como o seu, será importante a APMGF fazer uma reflexão de fundo para responder às necessidades de todos os MF?
O percurso curricular como Médica de Família permitiu-me desenvolver diversas competências, e assim desenvolver a minha atividade profissional em diferentes contextos. Cada vez mais encontramos colegas que optaram por seguir a sua carreira em contextos diferentes do tradicional. Esta diversidade é enriquecedora para a especialidade de MGF e a APMGF terá que refletir sobre a melhor maneira de chegar às necessidades de todos os Médicos de Família, independentemente da sua atividade profissional se centrar na atividade no Centro de Saúde do Sistema Nacional, numa clínica privada, na investigação, na universidade ou numa empresa.
Enquanto jovem médica de família, como encara o futuro da especialidade na próxima década?
Nos próximos anos vamos assistir a uma digitalização crescente dos cuidados de saúde. A especialidade de Medicina Geral e Familiar, com a sua avaliação centrada na pessoa, no seu contexto social e familiar, encontra-se numa posição central para mitigar os efeitos indesejados da implementação massiva deste tipo de tecnologias. O contacto humano é um dos pilares fundamentais da nossa consulta e será, na minha opinião, um dos aspetos diferenciadores da nossa especialidade.
Projetando já o final do mandato destes órgãos sociais, em 2023, quais seriam os três grandes objetivos que gostaria que fossem atingidos até lá?
Três reforços. Em primeiro lugar, o reforço da inclusão de todos os Médicos de Família nas atividades associativas, temos vindo a trabalhar neste sentido, promovendo uma Associação cada vez mais próxima dos sócios. Até ao final deste mandato esperamos ter uma Associação ainda mais dinâmica, com delegações regionais e grupos de estudos participativos, e em que todos os sócios se consigam de alguma forma integrar. Em segundo, o reforço da qualidade técnico-científica da Associação, através de formação de qualidade, que responda às necessidades dos sócios, colaboração e/ou desenvolvimento de projetos de investigação centrados nas atividades dos Médicos de Família e divulgação e promoção do trabalho científico desenvolvido pela Associação. Por último, o reforço das estruturas de apoio ao desenvolvimento profissional e combate ao burnout na Associação, fortalecendo as redes de apoio existentes para ajudar os colegas.