Baixa atratividade das vagas de MGF só pode ser contornada com estratégia multifatorial

O vice-presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF), António Luz Pereira, frisou na SIC Noticias que a fraca adesão às vagas para recém-especialistas de Medicina Geral e Familiar (MGF) disponibilizadas pelo Ministério da Saúde (MS) resulta de “um problema complexo, que exige soluções concertadas, em várias áreas”. A clarificação surge após se ter tornado público que 168 vagas das 459 colocadas a concurso recentemente pelo MS para a área de MGF ficaram por preencher, bem como o reconhecimento por parte de Marta Temido de que é necessário apostar na melhoria das condições de trabalho dos profissionais para aumentar a atratividade das ofertas no serviço público. É importante ressalvar que uma porção considerável de vagas que ficaram por preencher neste último concurso se situam na região de Lisboa e Vale do Tejo, já claramente penalizada em termos de utentes sem médico de família (MF).

Para reverter a atual situação e de acordo com o dirigente da APMGF em primeiro lugar é fundamental olhar para as dificuldades que têm afetado a carreira médica, o ingresso e a progressão na mesma: “todos sabemos das demoras que afetam estes concursos. Os recém-especialistas agora em causa fizeram exame em abril deste ano e chegados a agosto o seu processo não está concluído. Depois, passados cinco anos de carreira, era suposto os profissionais poderem fazer um concurso no sentido de passar para a categoria seguinte e, atualmente, verificamos que o concurso de 2017 ainda está a decorrer!”.

Por outro lado, António Luz Pereira relembrou aquela que tem sido uma batalha incansável da APMGF na procura de melhor prestação de cuidados por parte dos MF portugueses e que tem grande influência na captação de «sangue novo»: “temos de ter a noção de que as listas dos MF em Portugal têm demasiadas pessoas. Os utentes têm grandes dificuldades em marcar consulta precisamente porque temos listas grandes, que não olham a outros critérios, nomeadamente os relacionados com a complexidade dos doentes”. O vice-presidente da Associação relembrou ainda as múltiplas razões não vinculadas ao rendimento que podem justificar a falta de atratividade de muitas vagas colocadas a concurso, como sejam a escassez de outros profissionais nas unidades de colocação (enfermeiros, administrativos, psicólogos, terapeutas, etc.), ou as debilidades infraestruturais dos cuidados de saúde primários (CSP), “já que grande parte das instalações dos CSP não foi construída para este efeito”, sendo comum o aproveitamento de “edifícios adaptados, com materiais (computadores, impressoras e outros) não adequados para a nossa prática clínica. Tudo isto é posto na balança, na altura em que surgem estes concursos”.

Em acréscimo, António Luz Pereira garantiu que a tutela poderia aumentar as probabilidades de fixar MF em áreas carenciadas se apostasse a fundo na reforma dos CSP: “uma das hipóteses passaria pelo aumento das Unidades de Saúde Familiar (USF) em Modelo B, que têm uma remuneração associada ao desempenho, atualmente mais localizadas na zona norte do país. Se houvesse um maior incentivo à abertura deste tipo de unidades nas áreas mais carenciadas de MF poderíamos assistir a uma melhoria do panorama”. O dirigente associativo recordou que em 2020 não se verificou a abertura de qualquer USF em Modelo B – apesar de existirem candidaturas – e que subsiste a promessa de 2021 abrirem 20 unidades deste tipo, apesar de tal número não cobrir todas as equipas de saúde que têm condições para dar o salto de Modelo A para Modelo B. “Caso todas as unidades que reunissem condições, relativamente ao seu desempenho e qualidade de prestação de cuidados, para se tornarem Modelo B o pudessem fazer, poderíamos alargar o Modelo a todo o país e assim contribuir para uma maior taxa de adesão dos recém-especialistas”.

Face às limitações atrás descritas, que são reais e históricas, António Luz Pereira considera natural que muitos jovens MF se sintam desmotivados com o SNS e optem pela via internacional quando planeiam o seu futuro: “vivemos uma época em que estamos muito próximos de outros países, a pouco mais de uma hora de avião de Inglaterra, França ou Suíça. Assim, muitas vezes quando os profissionais chegam a uma fase de escolhas, quando têm de mudar o seu local de trabalho, preferem ir para o estrangeiro devido às condições ali oferecidas, não só monetárias, mas também ao nível de instalações”.

 

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