Nuno Jacinto explica na SIC Notícias motivos que justificam afastamento da meta de um MF para todos os portugueses

Em declarações proferidas à SIC Notícias, o presidente da APMGF explicou as principais razões que concorreram para que 168 vagas das 459 colocadas a concurso recentemente pelo Ministério da Saúde (MS) para a área de Medicina Geral e Familiar MGF tenham ficado por preencher, a começar pela desconexão que vigora entre o panorama da formação pós-graduada e o início de carreira dos recém-especialistas: “os mapas de vagas para colocação dos recém-especialistas, dos mais novos MF, são completamente desencontrados dos mapas de vagas do Internato, onde os médicos fizeram a sua formação. Assim, é pedido a estes colegas que, já com a sua vida familiar estável e a vida profissional organizada, façam uma mudança de várias centenas de quilómetros, de um momento para outro, para irem ocupar uma vaga que precisa deles. Isto é um fenómeno que tem de ser rapidamente alterado”. O presidente da APMGF considera mesmo que “a distribuição de vagas no internato de MGF tem de, logo à entrada, ser pensada em função dos locais onde vamos precisar de MF daqui a quatro ou cinco anos”.

Nuno Jacinto apontou como outra das razões fundamentais para o afastamento dos jovens especialistas do SNS uma certa sensação de abandono à sorte, em geografias desfavoráveis: “os colegas, quando se veem na iminência de escolher uma destas vagas, têm a perspetiva de que não vão poder sair daquele local durante os próximos tempos, se calhar durante as próximas décadas, isto porque não há concursos de mobilidade e a carreira médica está estagnada, sem indícios de progressão”.

O dirigente associativo relembrou ainda as “listas de utentes demasiado grandes dos MF, que impossibilitam um trabalho de qualidade, bem como o acesso aos cuidados de saúde que os nossos utentes merecem. Também isto desanima os colegas, porque sabem que não vão ser capazes de fazer o trabalho da forma para a qual foram treinados e dar uma resposta adequada”. A este propósito, Nuno Jacinto sublinhou que a APMGF tem alertado de forma insistente a tutela para tal problemática, inclusive propondo uma nova métrica para as listas, que parece estar arquivada algures numa gaveta do MS: “no presente, as listas de utentes são formadas de um modo quase fixo e nos últimos anos ficámos presos aos 1900 utentes para cada MF, o que é claramente excessivo. A APMGF tem desenvolvido um trabalho muito grande nesta área e defendemos que o número de utentes deve ser adaptado ao contexto de exercício, já que não é a mesma coisa ser MF em Évora, Bragança, Almada, Mourão ou Faro. O nosso trabalho foi até já publicado, mas infelizmente não avançou e a única ponderação atual nas listas está relacionada com a idade dos utentes, algo que se revela claramente insuficiente (…) Há muito tempo que defendemos que não pode existir um número padrão”. Por último, o presidente da APMGF acredita que determinadas carências crónicas do SNS, como “deficientes instalações, faltas de equipamento clínico ou informático e de recursos humanos”, sejam fatores que possam reduzir a atratividade do SNS aos olhos dos jovens especialistas.

Em última análise, todas estas condicionantes contribuem para que aproximadamente um milhão de portugueses esteja hoje sem um MF atribuído, de acordo com as estimativas da Associação. “A tendência é para que este problema se agrave, porque as aposentações vão continuar e cada vez mais colegas vão sair do SNS, muitos deles até precocemente, devido a exaustão e cansaço”, elucida Nuno Jacinto. O presidente da APMGF destaca, aliás, o facto de o país estar hoje a afastar-se de uma bandeira importante do governo socialista, a de dar um MF a todos os portugueses: “se fizermos as contas de forma grosseira e chegarmos à conclusão que uma lista de MF terá à volta de 1500, 1700 utentes, então estaremos a falar de 700 a 800 MF que neste momento estão em falta em Portugal. Ora como vimos agora, cerca de 160 colegas não aceitaram as vagas apresentadas a concurso. Assim, em vez de estarmos a caminhar no sentido decrescente – com cada vez menos portugueses sem MF – verificamos que esse número cada vez aumenta mais, o que significa que estamos a divergir do objetivo que todos gostaríamos de concretizar”.

 

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