38º ENMGF – Investigação na MGF fez um longo trajeto mas precisa ainda de ser estimulada

A investigação foi, durante demasiado tempo, o parente pobre dos cuidados de saúde primários (CSP) e da Medicina Geral e Familiar (MGF), com parcos recursos e tempo atribuídos, subvalorizada por quem tem poderes de decisão e, infelizmente, entendida por muitos como uma atividade acessória, se não mesmo dispensável. Durante o 38º Encontro Nacional de MGF realizar-se-á a mesa-redonda «Investigação em MGF», numa tentativa de contrariar estas tendências, demonstrando ao mesmo tempo que é possível fazer boa investigação entre nós, ao nível dos CSP e protagonizada por médicos de família (MF).

A mesa será moderada por Inês Rosendo (MF na USF Coimbra Centro e assistente da cadeira de MGF da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra) e contará com intervenções de Margarida Gil Conde (investigadora que está a fazer um trabalho sobre o panorama científico nos CSP em Portugal e médica na USF Jardins da Encarnação), Raquel Braga (MF na USF Lagoa/ULS Matosinhos e professora auxiliar convidada no Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar), que explicará como fazer um doutoramento em MGF no nosso país e analisará os trabalhos dos colegas já doutorados e, finalmente, Bruno Heleno (professor auxiliar da NOVA Medical School), o qual dissecará as linhas de investigação de MGF e os seus responsáveis nas várias escolas médicas nacionais. Espera-se, também, a presença na audiência de representantes das várias escolas médicas. Para Inês Rosendo, além de levarem informação atualizada sobre o atual contexto de investigação nos CSP, os colegas podem estabelecer “contactos depois, durante o congresso, e com isso facilitar as redes na investigação e promover a melhoria da qualidade na investigação em MGF”, com consequente incentivo a doutoramentos e formação avançada na área.

“A necessidade de investir nos CSP e principalmente em práticas centradas no doente é globalmente reconhecida. Essa necessidade passa pelo desenvolvimento de infraestruturas de investigação que promovam a sua aproximação à prática clínica e por derrubar o viés de investimento que existe a favor da investigação em biociência. É importante lançar a discussão sobre as possíveis estratégias para o desenvolvimento de investigação em MGF, em Portugal”, assegura Margarida Gil Conde.

Por seu turno, Raquel Braga recorda que a MGF realizou uma “longa e difícil viagem de afirmação, quer em termos políticos, quer em termos científicos e académicos, em que a qualidade da formação pós-graduada possibilitou e assegurou sucessivas gerações de MF com elevadas qualidades humanas e técnico-científicas que, gradualmente, lutaram pela afirmação da especialidade, a introduziram no ensino pré-graduado e que, paulatinamente, têm aberto espaço no meio académico e na consolidação do corpo de conhecimento da especialidade”. Assim, Raquel Braga frisa que “são cada vez mais numerosos os MF e internos de MGF que, a par da prática clínica, ou em exclusivo, pretendem investigar e obter diferenciações académicas. Nesta sessão, pretende-se sintetizar como desenvolver e aceder e um programa doutoral em Portugal e mostrar o que já foi feito pelos especialistas em MGF, até ao presente”.

Já Bruno Heleno reconhece que “a investigação é um dos pilares de uma especialidade médica” e que o contexto no qual os MF trabalham “é inserido nas comunidades, com acesso mais difícil às últimas tecnologias diagnósticas e terapêuticas, com uma porta sempre aberta e sem possibilidade de dar alta aos doentes. Muitos destes aspetos, que fazem parte do dia-a-dia, só podem ser compreendidos por investigação robusta”. O docente da NOVA Medical School acredita que através da sessão em causa será possível “fazer um ponto de situação sobre a investigação académica de MGF. A oficina será útil para os colegas que desejam saber que projetos estão atualmente a decorrer e quem são as pessoas que participam nestes projetos. Será particularmente útil para colegas que gostariam de participar em trabalhos de investigação – sejam pessoas que querem ter uma primeira experiência de investigação e não sabem por onde começar, sejam pessoas que estão a ponderar fazer um doutoramento e gostariam de perceber quais as linhas de investigação existentes”.

 

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