Jornadas do GRESP fecham com justa homenagem a Jaime Correia de Sousa

As 7ªs Jornadas do GRESP, realizadas num momento difícil e de regresso gradual às iniciativas de divulgação e partilha científica com dimensão presencial, resultaram ainda assim num êxito organizacional, com mais de 500 participantes (nas componentes on-line e física). Este foi ainda o momento indicado para homenagear um dos fundadores e impulsionadores iniciais do GRESP, Jaime Correia de Sousa, que recentemente se aposentou das suas atividades clínicas e que em Lisboa relembrou na conferência de encerramento o crescimento e o dinamismo imparável deste grupo de estudos da APMGF, desde a sua fundação há mais de década e meia (e dando sequência a um já existente núcleo de doenças respiratórias). “O GRESP é hoje uma referência incontornável no panorama nacional, mas também internacional, na medida em que somos um dos grupos mais ativos dentro do International Primary Care Respiratory Group (IPCRG)”, sublinhou o professor afiliado da Escola de Medicina da Universidade do Minho e histórico membro do GRESP, que na cerimónia de encerramento do evento foi presenteado com a oferta de uma caricatura e uma sentida salva de palmas.

Ao elencar as qualidades de Jaime Correia de Sousa, o coordenador do GRESP Rui Costa destacou a sua “energia e dinamismo” e as “marcas que deixa para o futuro”. a propósito destas 7ªs Jornadas, Rui Costa considerou que o evento conteve “um programa educacional de elevada qualidade e excelência” e que o GRESP deu continuidade nesta iniciativa à filosofia de trabalho árduo seguida no último ano – particularmente complicado face às limitações da pandemia – com o grupo a “manter-se ativo e a produzir cientificamente produtos de qualidade que vão ficar para a posteridade”.

O subdiretor-geral da Saúde, Rui Portugal, aproveitou a sua presença no encerramento do evento para agradecer a dedicação dos médicos de família durante a pandemia, “a resiliência em estarem na primeira linha e no apoio às populações que servem, quer de forma presencial, quer de forma remota. O sucesso que possamos ter, mesmo que seja temporário neste momento, é um sucesso que vos devemos em grande medida”. Rui Portugal lembrou, em complemento, que o novo referencial de outono/inverno está prestes a ser lançado pela DGS e que assim “uma nova etapa de transição nos espera a todos”.

Já Nuno Jacinto, presidente da APMGF, declarou um sentimento de orgulho por todo o trabalho desenvolvido pelo GRESP e as suas referências individuais: “é um privilégio e um orgulho estar aqui e associar-me à homenagem ao Prof. Jaime Correia de Sousa, deixando-lhe um sincero obrigado por tudo aquilo que fez pela MGF, pelo GRESP e pela APMGF. Continuamos a contar com o seu contributo durante muito tempo (…) o segundo grande orgulho prende-se com estas sétimas jornadas do GRESP, um evento que cresceu e tem um enorme peso no panorama cientifico nacional, além de muita importância na vida associativa, representando aquilo que consideramos ser o objetivo da nossa atividade e da atividade dos grupos de estudos”. No entendimento de Nuno Jacinto, “ter um evento nesta altura com mais de 500 participantes, com esta qualidade ao nível do programa científico e dos palestrantes – perdoem-me a imodéstia – não é para todos”.

Próximo inverno promete ser duro em termos de infeções respiratórias

Praticamente terminado o longo período de isolamento social e restrições de circulação, que em muito contribuiu para queda abrupta de um sem número de infeções respiratórias, o inverno que se avizinha tem as condições ideais para o ressurgimento em grande escala de um conjunto de doenças respiratórias, com potenciais consequências graves para a saúde pública. Para Filipe Froes, pneumologista do Centro Hospitalar Lisboa Norte e coordenador do Gabinete de Crise Covid-19 da Ordem dos Médicos, os exemplos começam desde logo com o vírus sincicial respiratório (VSR) e o influenza: “o VSR não esperou pelo outono e começou a aparecer ainda em finais do Verão, chegou antes do costume e com mais força. Com a gripe a situação é ainda mais curiosa. O início da pandemia praticamente aboliu a circulação do vírus influenza, o que gerou menor estimulação antigénica, menor imunidade individual e coletiva, menor vigilância epidemiológica e maior risco de discordâncias antigénicas das vacinas. Isto significa que corremos o risco de neste inverno termos mais gripe, gripe mais grave e menor eficácia vacinal”. Por outro lado, o pneumologista lembrou estudos já realizados no âmbito internacional que nos mostram que existe “um aumento do risco de mortalidade em 2,27 vezes por co-infeção com o vírus influenza e o SARS-Cov-2, ou seja, a co-infeção por estes dois vírus duplica o risco de morte por comparação com a infeção Covid isolada”. Dados da OMS revelam também que o aumento da morbilidade e mortalidade associadas à tuberculose (TB) é uma realidade presente, face à incapacidade dos sistemas de saúde controlarem populações de risco e fragilizadas, o que significa que a resposta global à Covid-19 fez retroceder anos de progresso na luta contra a TB.

Espirometrias de proximidade são uma meta pela qual vale a pena lutar

Ao abordarem os desafios e oportunidades presentes no diagnóstico da asma, os especialistas concordaram nestas jornadas do GRESP que a rápida disseminação da realização de espirometria de proximidade nos CSP é urgente. Segundo Cristina Bárbara, diretora do Serviço de Pneumologia do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte e diretora da área das Doenças Respiratórias na DGS, a melhor solução passa sempre por ter a capacidade de realizar as espirometrias nos ACeS e respetivas unidades funcionais: “é sempre melhor não depender de outros mas apenas de nós próprios, realizando as espirometrias in loco. Temos de fazer um esforço e é essencial que as pessoas entendam que vão existir inclusive indicadores de contratualização associados à espirometria, sobretudo para a DPOC (falo em específico do indicador 49). À giza disto, os profissionais poderão ter espirometrias nos seus locais de trabalho e obrigatoriamente feitas por técnicos de cardiopneumologia”. Já para os médicos de família que não consigam atingir este nível de autonomização de modo tão rápido nas suas regiões, ou que trabalhem na clínica privada e dependam do recurso a convenções, o coordenador do Centro de Imunoalergologia do Hospital CUF Descobertas e presidente da Associação Portuguesa de Asmáticos, Mário Morais de Almeida, deixa um conselho: “da mesma forma que quando vamos a um restaurante, olhamos para o prato e percebemos que a comida não é aceitável e que não regressaremos, também devemos ter a exigência de olhar para as espirometrias que nos chegam e avaliar a sua qualidade. Temos, aliás, muito a melhorar nos critérios de contratualização da medicina convencionada”.

Para o coordenador do GRESP, Rui Costa, no mundo ideal todas as unidades dos CSP teriam já a capacidade para realizar espirometria de imediato nas suas instalações, mas na ausência desse contexto perfeito, seria importante garantir uma alternativa equilibrada: “se, neste momento, sempre que tivesse um doente com queixas e suspeitas pudesse pedir em tempo útil uma espirometria, para iniciar também em tempo útil a terapêutica, seria excelente. E tempo útil, nesta situação, é uma semana, porque não raras vezes somos procurados por doentes que estão claramente sintomáticos e não podemos esperar mais de uma semana para concretizar um diagnóstico e, a partir daí, iniciar terapêutica”.

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