3º Encontro Anual de Diabetologia – Programa
Após quase dois anos de uma disrupção sem paralelo na gestão das doenças crónicas, com o regresso gradual dos diabéticos aos cuidados prestados pelas habituais equipas de saúde que os acompanham, torna-se fundamental repensar a atenção dada a estes doentes nos cuidados de saúde primários, algo que será um dos objetivos primordiais do 3º Encontro Anual de Diabetologia, a organizar pelo Grupo de Estudos em Diabetologia (GED) da APMGF, no dia 13 de novembro.
“Uma das grandes novidades para o Encontro deste ano passa pela necessidade que temos de nos adaptar a uma nova forma de fazer consultas. Obviamente que a consulta presencial será sempre o pilar da MGF e da relação médico-doente, que muito prezamos, mas com a pandemia percebemos que além dos cuidados presenciais podemos desenvolver cuidados à distância e através de teleconsultas, inclusive como forma de aumentar a acessibilidade. De facto, uma teleconsulta pode ser algo de muito útil, em situações pontuais, para realizar vigilâncias intermédias e perceber se as coisas correm bem com o doente, fazer ajustes de dose de insulina ou de medicação, corrigir erros de alimentação ou esclarecer dúvidas. Por outro lado, permitem que familiares que de outra forma não estariam na consulta possam ter contacto com a equipa de saúde”, sublinha Ângela Neves, coordenadora do GED e membro da comissão científica e organizadora do evento. Do ponto de vista da revisão terapêutica – e apesar de não se terem verificado grandes alterações no panorama farmacológico da diabetes nos últimos dois anos – pouco antes do início da pandemia registaram-se introduções de novas soluções de tratamento e algumas modificações nas normas de orientação clínica que convém ainda consolidar e que, por isso mesmo, vão ser alvo de atenção neste Encontro.
Falando a propósito da sessão «Organizar serviços centrados na pessoa com diabetes», Ângela Neves antevê que esta será uma oportunidade de ouro para analisar as potencialidades que os MF devem explorar na personalização dos seus cuidados ao doente diabético: “no início do tratamento da diabetes, tínhamos muito poucas armas terapêuticas e não conseguíamos fazer personalização absolutamente nenhuma (isto levando em consideração que personalização de cuidados nesta área divide-se em duas partes; acesso a cuidados e personalização da terapêutica instituída). Hoje em dia, a medicação disponível para a diabetes envolve muitos dos ramos fisiopatológicos da doença e a personalização pode intervir aí. Isto é, se conhecermos bem o doente sabemos com exatidão qual o ramo fisiopatológico que está mais afetado e, desta forma, conseguimos propor uma terapêutica mais personalizada, que vai ao encontro do que o doente mais necessita, o que nos garantirá em princípio melhores resultados clínicos”.
Interessante será com toda a certeza também a sessão «Médicos no papel de doente», já que acordo com a coordenadora GED a mesma conseguirá oferecer aos participantes no Encontro uma perspetiva única e dupla sobre a doença: “temos a nítida perceção de que nós, médicos, não nos conseguimos empatizar totalmente com os utentes, sobretudo na gestão das doenças crónicas. Ou seja, apesar de tratarmos muito bem dos nossos doentes diabéticos em geral, não raras vezes temos dificuldade em perceber o que se passa do outro lado, o que implica a doença crónica, o que falta e aborrece mais ao utente. Esta mesa está relacionada exatamente com esta dinâmica, com a necessidade de percebermos o que o outro lado se apresenta como mais difícil. Assim, vamos ter nesta mesa interativa, como convidados, médicos que também têm a visão do doente. Pessoas que para além de saberem tudo sobre a doença, do ponto de vista técnico e clínico, nos possam explicar em acréscimo porque é tão difícil enquanto doentes cumprirem o que foi definido e o que falha, para que possamos em última análise transpor tais conhecimentos para a relação com os nossos doentes, aprender a comunicar melhor com eles e descortinar as razões para eventuais insucessos terapêuticos”.