A Escola de Outono de Medicina Geral e Familiar (MGF) 2021, promovida pela APMGF entre novembro e dezembro deste ano, tem vindo a conhecer um assinalável êxito junto da comunidade de médicos de família (MF) e internos da especialidade, oferecendo através de um programa de formação modular online competências acrescidas em cinco áreas distintas: «Abordagem ao Consumo de Álcool nos Cuidados de Saúde Primários», «ORL», «Mudança de Comportamentos de Saúde e Prevenção: Entrevista Motivacional e Aconselhamento de Resolução de Problemas», «DPOC» e «Atualização em Patologia Cardiovascular». Todas estas dimensões de atuação clínica são fundamentais na prática do MF, motivo pelo qual os cinco cursos foram muito bem acolhidos.
Segundo José Carvalho Teixeira, psiquiatra, psicoterapeuta e coordenador cientifico do curso «Mudança de Comportamentos de Saúde e Prevenção: Entrevista Motivacional e Aconselhamento de Resolução de Problemas», esta formação proporciona “o desenvolvimento de competências comunicacionais e relacionais no âmbito da entrevista motivacional facilitadora de mudança de comportamentos de saúde e, também, da técnica de resolução de problemas com aplicabilidade em MGF. A formação é predominantemente prática, com metodologia ativa centrada nos formandos, recurso a roleplays e focada na transferência das aprendizagens para as situações de trabalho”.
O psicoterapeuta recorda que o curso é “composto por sete sessões live dedicadas à prática de entrevista motivacional facilitadora de mudança de comportamentos de risco para a saúde (alimentares, sedentarismo, tabaco e sexo de risco, entre outros) e de aconselhamento de resolução de problemas pessoais e relacionais (luto, conflitos pessoais e familiares)”, às quais se juntam quatro sessões on-demand reservadas a enquadramentos teóricos. Sobre as sessões práticas, José Carvalho Teixeira sublinha que tiveram “boa recetividade dos formandos, que participaram muito ativamente em várias situações clínicas simuladas”.
Outro dos cursos com bastante procura nesta Escola é o que se encontra focado na abordagem ao consumo excessivo de álcool e no que podem fazer os profissionais dos CSP. “O consumo de álcool constitui um dos cinco principais fatores de risco de doença, incapacidade e morte no mundo. Este tema torna-se particularmente relevante no contexto atual, tendo em conta a evidência que revela uma associação entre o agravamento do consumo de álcool e crises sanitárias tais como a pandemia COVID-19. Paralelamente, os CSP são habitualmente o primeiro ponto de contacto dos doentes com os cuidados de saúde, tornando-se o MF um elemento essencial para o correto rastreio e tratamento dos doentes com problemas ligados ao álcool”, explica Cristina Ribeiro, coordenadora científica do curso e coordenadora do Grupo de Estudos de Comportamentos Aditivos (GEsCAd) da APMGF.
Para esta responsável, o curso “procura responder a uma lacuna identificada no currículo médico pré e pós graduado. Por forma a adaptar o curso ao contexto atual, optou-se por uma versão online, composta por 10 módulos on-demand que exploram áreas relacionadas com o álcool (deteção precoce do consumo de álcool, níveis de risco e técnicas de intervenção breve de base motivacional, assim como temas relacionados com consumos durante a gravidez e nos jovens). De forma integrada, previram-se ainda cinco sessões live, para aplicação de conceitos abordados nas sessões on-demand e em que se treinam competências na intervenção com apresentação e análise de casos clínicos, visualização de vídeos, entrevistas clínicas com objetivo de aplicação de técnicas de intervenção breve, etc. Segundo Cristina Ribeiro, “o curso tem decorrido de uma forma muito positiva e a vertente online, apesar das limitações inerentes, tem permitido a participação de médicos de diferentes âmbitos e localizações geográficas”.
A coordenadora científica do curso «Atualização em Patologia Cardiovascular» e do Grupo de Estudos de Doenças Cardiovasculares da APMGF, Helena Febra, considera que “a pandemia veio aguçar o nosso engenho e contribuiu para o desenvolvimento de novas formas de comunicação e de formação científica. A formação online permitiu que este curso se pudesse realizar, e isso é sem dúvida um motivo de satisfação e uma vantagem clara, relativamente à alternativa da não realização desta formação”.
Ainda assim, Helena Febra constata que se sentem diferenças para o modelo presencial, que num contexto futuro sem restrições merece ser resgatado: “sentimos que a interação e a participação ativa dos formandos é muito importante para formações dinâmicas. E neste modelo, essa participação é mais complexa. Tentámos promovê-la com a apresentação de casos clínicos, com perguntas para resposta por votação e com discussão em salas de chat. No entanto, verificámos que nem sempre todos os formandos estiveram presentes durante toda a formação, o que sem dúvida terá repercussão na aquisição de conhecimentos e competências”.
Na ótica de Helena Oliveira, elemento da equipa de dinamizadores do curso e do Grupo de Doenças Cardiovasculares da APMGF, para os formadores “também tem sido um desafio gravar sessões, sem ter o feedback dos formandos, nem o seu contributo com as intervenções durante as sessões, que permitem ir ao encontro das expectativas e do esclarecimento de dúvidas concretas. Salientamos, no entanto, o apoio precioso da equipa técnica e a forma como tudo está a correr de acordo com o previsto! Pensamos que, no que diz respeito aos meios técnicos, esta formação está a ser um sucesso!”.