Na sequência da feliz notícia de que a capital portuguesa irá acolher em 2025 a conferência mundial de médicos de família, o presidente da Região Europeia da WONCA – co-organizadora do evento em conjunto com a APMGF – Prof. Shlomo Vinker, destaca as características únicas de Lisboa enquanto cidade anfitriã e acredita que a conferência poderá marcar, em definitivo, o regresso das iniciativas científicas em que milhares de médicos de família de todo o globo podem partilhar experiências e conhecimento face a face.
A 25ª Conferência Mundial da WONCA será a primeira a ser concretizada por uma Região da WONCA e uma associação nacional, em parceria… Pensa que esta solução vai comportar desafios extra do ponto de vista logístico e organizacional, ou poderemos encontrar mais valias neste modelo?
Prof. Shlomo Vinker – Na realidade, trata-se de uma grande vantagem o facto de a partir do início do processo a Região Europeia da WONCA e uma associação nacional trabalharem, em conjunto, de uma maneira transparente e colaborativa. Desta forma, podemos maximizar os pontos fortes dos dois lados. A Região Europeia da WONCA trouxe para o projeto o seu principal parceiro em termos de organização profissional de congressos, a Guarant, que está a ajudar-nos com todo o background operacional e suporte financeiro, o que nos permite afirmar que não existe qualquer risco financeiro associado à organização da conferência. Por outro lado, a Associação Portuguesa oferece-nos a estabilidade em Portugal e em Lisboa, graças à sua experiência e familiaridade dos procedimentos e escolhas locais, à semelhança do que acontece com o Executive Board da Região Europeia da WONCA e com a Guarant, no panorama internacional. Creio que a Região Europeia da WONCA também conseguirá trazer para a equação a sua experiência e reconhecida capacidade de desenhar comités organizadores e científicos internacionais capazes de dar um excelente contributo para uma grande conferência. Estou seguro, em suma, que a junção de forças resultará numa conferência com elevado nível científico e organizacional.
Por que motivo, na sua opinião, Lisboa foi considerada a cidade ideal para a conferência?
Pessoalmente gosto muito de Lisboa, que oferece ótimo tempo e grande hospitalidade e da qual guardo boas memórias, formadas durante a Conferência Europeia da WONCA que aí se realizou, há alguns anos atrás. A cidade é um local esplêndido e muito atrativo quer para os colegas europeus, quer para participantes oriundos da América Latina e de muitas outras geografias.
O estado do desenvolvimento dos cuidados de saúde primários em Portugal, assim como o rico historial da MGF e da APMGF neste país, desempenharam algum papel na vossa vontade de avançar com a parceria organizativa?
Acreditamos que trazer a conferência mundial de médicos de família a Lisboa vai fortalecer a Medicina Familiar portuguesa em geral e a Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, em particular. Além do mais, os médicos de família portugueses são bem conhecidos pelo seu elevado grau de comprometimento e participação em conferências internacionais da WONCA, pelo que sentimos que existe uma boa e forte base a partir da qual podemos construir um excelente evento.
Quais são as suas expetativas para a conferência, em termos de número de delegados e de submissões científicas? Os organizadores estão preparar formatos inovadores para as diferentes sessões?
Esperamos alguns milhares de participantes e desejamos, de forma ardente, o regresso a um período de muito êxito nos eventos europeus e mundiais da Medicina Familiar. Queremos, em acréscimo, dar a oportunidade aos participantes de visitar unidades dedicadas à Medicina Familiar não apenas em Portugal, mas também noutros países europeus. Por fim, vamos ainda considerar formas de idealizar o formato certo que possibilite aos participantes juntarem-se a nós quer numa dimensão física, quer do ponto de vista virtual.
O programa científico está numa fase embrionária, na medida em que 2025 não se perfila ainda no horizonte… contudo existem já temas (clínicos e sócio-profissionais) que na sua ótica serão seguramente enfatizados?
De facto, como menciona é ainda muito cedo para entrarmos em detalhes acerca dos tópicos que merecerão destaque. Porém, estou convencido que matérias como o uso de novas tecnologias, a Inteligência Artificial (AI) que poderá facilitar o nosso trabalho, a Telemedicina e a Medicina à distância focada em comunidades remotas estarão na linha da frente. Tópicos como a qualidade e a equidade no acesso a cuidados, a investigação, a educação, capacitação e prevenção em Medicina Familiar serão igualmente dominantes. É óbvio que tudo isto decorrerá em paralelo com atualizações e palestras focadas no estado da arte.
A pandemia forçou os médicos de família a repensarem e reorganizarem a sua prestação de cuidados, perante as restrições de acesso e contacto. Julga que algumas destas mudanças ocorridas (aperfeiçoamento da relação médico/doente no espaço virtual, teleprescrição, etc.) vieram para ficar e marcarão a agenda da 25ª Conferência Mundial da WONCA?
Antes de mais, vamos esperar que tenhamos superado a pandemia em 2025, ou inclusive mais cedo. Após quase dois anos de pandemia, torna-se evidente que estas alterações e novas práticas devem ser avaliadas uma a uma e incorporadas de modo cauteloso. Algumas delas aumentaram o burnout entre os profissionais, a carga de trabalho sobre os mesmos e a procura por parte dos utentes, enquanto outras conduziram a resultados favoráveis, pelo que merecem ser adotadas. Assim – presumindo que em 2025 teremos ultrapassado a pandemia – a avaliação rigorosa destas transformações fará com certeza parte da nossa agenda.
O que consideraria um balanço positivo para a 25ª Conferência Mundial da WONCA?
Numa lógica organizacional – a presença de um elevado número de participantes, que se revelem muito satisfeitos no fim com o conteúdo científico e todos os pormenores da organização da conferência. Já na perspetiva exclusiva da Região Europeia da WONCA – o reconhecimento de que o nosso organismo se mostrou competente na tarefa de trazer valor acrescentado aos seus membros na Europa e aos médicos de família espalhados pelo mundo.