A Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF) está a desenvolver para 2022 e 2023 um plano de formação e atualização técnico-científica centrado nas necessidades e anseios definidos pelos seus associados, através de questionário difundido e respondido até janeiro deste ano. O referido questionário de «Avaliação das Necessidades Formativas dos Associados» produziu dados muito relevantes, como por exemplo uma dispersão significativa em torno do modelo formativo ideal. Assim, 36,4% dos associados indicaram que davam primazia a formações on-line, enquanto 32% dos inquiridos inclina-se para formação presencial e 31,6% para um formato híbrido. De acordo com Susete Simões, vice-presidente da APMGF, “o modelo on-line veio para ficar e a APMGF está a adaptar-se a esta tendência. No entanto, é curioso verificar que mesmo assim (e apesar das vantagens que este modelo apresenta) uma boa percentagem de colegas continua a preferir o figurino presencial. Nesse sentido, a nossa estratégia passa por manter as três opções da forma mais integrada possível”. A dirigente frisa que, num futuro próximo, a APMGF optará pois por manter o modelo presencial nas Escolas de Primavera e Outono, nos Encontros e Congressos Nacionais e na maioria das jornadas distritais/regionais e dos grupos de estudo. “Em paralelo, vamos explorar a vertente on-line através de webinars temáticos, curtos e práticos, que desejamos realizar com regularidade (e cujo calendário divulgaremos aquando do 39º Encontro Nacional), ao mesmo tempo que desenvolveremos também a nossa plataforma de e-learning com maior intensidade”, explica Susete Simões.
Relativamente aos horários mais apreciados para a formação, o inquérito mostrou que 44,6% dos inquiridos deseja que esta se concretize nos dias de semana e em horário laboral – aproveitando o direito a dias de comissão gratuita de serviço. Em oposição, 33,8% dos colegas que responderam ao questionário preferem formação aos fins de semana, 19,7% em pós-laboral de segunda a sexta-feira e 1,9% em períodos não especificados. “Com esta vontade dos associados em mente, o que pretendemos é privilegiar os dias úteis de semana para os eventos presenciais e reservar os sábados de manhã, em princípio, para os webinars. Para a formação concretizada através da plataforma de e-learning, vamos ainda ter de perceber qual será a melhor calendarização a implementar”, acrescenta a vice-presidente da APMGF.
Gestão da prática clínica no topo da lista de prioridades
Convidados a enunciar as áreas em que gostariam de receber formação por parte da APMGF, os inquiridos listaram temáticas clínicas e não clínicas, à cabeça das quais se destacou a gestão da prática clínica, seguida dos temas da saúde mental, doenças cardiovasculares, pneumologia, dermatologia e doenças músculo-esqueléticas. Para Susete Simões, os resultados da auscultação aqui não foram propriamente surpreendentes: “o que nos foi transmitido reforça, de alguma forma, a visão que todos temos da atual realidade do MF. Com a pandemia, não há dia na nossa rotina em que não surjam múltiplas situações relacionadas com distúrbios de saúde mental, em consequência do isolamento, do medo e de tudo aquilo que de negativo se foi vivendo nos últimos tempos”. Relativamente à gestão da prática clínica, a vice-presidente da APMGF acredita que as carências formativas mencionadas se devem em grande medida aos constrangimentos desencadeados pelo combate a esta doença e às transformações operadas nos serviços de saúde: “a gestão dos utentes no pós-pandemia, com recurso a teleconsulta, foi uma das situações mais afloradas pelos colegas nesta área. Sentimos todos que as recentes formas de relacionamento com a população vieram para ficar, representam uma mudança no nosso paradigma de trabalho. Mas é preciso perceber como vamos conseguir enquadrar estas novas formas de interação, num quotidiano marcado por enormes listas de utentes e por todas as respostas diárias que nos são exigidas. É, na realidade, essencial contar com formação que nos ajude a gerir melhor a nossa agenda, facto que em si mesmo irá contribuir para a prevenção do burnout entre os profissionais e possibilitar que as equipas se adaptem ao novo modo de atuação dos cuidados de saúde primários”.
Os participantes na sondagem tiveram ainda a possibilidade de deixar, em texto livre, várias sugestões para aperfeiçoar a oferta formativa da APMGF. Neste domínio, realce para os pedidos de formação com créditos estandardizados, a apetência por formações de curta duração e o alerta para que se descentralizem ainda mais os cursos, jornadas e eventos, com vista a cobrir áreas do país menos servidas tradicionalmente. A este propósito, Susete Simões salienta que “a postura da APMGF tem sido a de colocar os seus eventos nas mais diversas zonas do país, garantindo acessibilidade aos participantes, mas sempre com a consciência de que as iniciativas terão de ser sustentáveis. Dito isto, a nossa ideia é claramente a de alargar a formação fora dos grandes centros populacionais, não só por via das jornadas das delegações, mas de outras iniciativas, como aconteceu recentemente com cursos focados na análise de guidelines e de evidência clínica. Infelizmente, nem sempre estas ações têm tido a adesão que gostaríamos, mas a nossa política é a de continuar a investir nesta dimensão, em benefício dos colegas que trabalham em zonas menos densamente povoadas e desde que as condições logísticas locais o permitam”.