A sessão «Hot Topics em Pediatria», programada para o 39º Encontro Nacional de MGF no dia 2 de abril, a partir das 10h00, será moderada por Carina Peixoto Ferreira (membro da Direção Nacional da APMGF) e contará com intervenções de Marta Rios (assistente hospitalar de Pediatria no Centro Materno-Infantil do Norte do Centro Hospitalar e Universitário do Porto – CMIN/CHUP) sobre a prática do co-sleeping e bed-sharing, de José Boavida Fernandes (pediatra especialista em Neurodesenvolvimento no Hospital Pediátrico de Coimbra), que abordará a Perturbação de Oposição e Desafio, de Joana Lorenzo (assistente hospitalar de Pediatria do Centro Hospitalar de Entre o Douro e Vouga) cuja comunicação incidirá sobre os riscos da exposição a ecrãs e de Nuno Ferreira (assistente hospitalar de Pediatria no Centro Hospitalar Tâmega e Sousa) que trará à sessão conhecimento e experiência relativos à atividade física na infância e adolescência.
Perigos espreitam no sono e na vigília
A partilha do sono em família é uma tendência em crescimento em muitos locais do mundo ocidental e Portugal não é exceção. Consubstancia-se geralmente em duas formas: bed-sharing (em que os pais partilham a mesma cama com os filhos) e co-sleeping (através da qual adultos e crianças partilham o mesmo quarto, embora a criança e os pais durmam em camas separadas).
Para que lado pende a balança, quando avaliados os riscos e os benefícios em partilhar a cama ou o quarto com os pais? Existe uma idade recomendada para deixarem o quarto dos pais? Como podemos esclarecer os pais que querem partilhar o quarto ou a cama com os seus filhos? Estas são questões fundamentais que neste contexto importa colocar e que Marta Rios procurará analisar em Aveiro.
“As crianças aprendem a dormir por volta dos seis meses de idade. Devem ser ajudadas a adormecer de forma independente do adulto, o que contribui para a sua autonomia e segurança ao longo da vida. Ensinar a criança a dormir de forma independente, não é equivalente a negar colo ou mimo. O colo e o mimo devem ser dados, mas não como «muleta» para adormecer. As crianças que ficam dependentes do adulto para dormir têm um risco aumentado de insónia crónica”, avança desde já a pediatra do CMIN/CHUP. Marta Rios relembra ainda que “nos primeiros meses de vida, a partilha da cama com os pais facilita a amamentação, mas aumenta o risco de morte súbita”.
Já Joana Lorenzo garante que o convívio regular das crianças com ecrãs, embora incontornável no presente, não representa necessariamente um mal absoluto: “a exposição aos media e às redes sociais é inevitável no mundo atual, pois a globalização e urbanização das sociedades tem sido acompanhada de crescimento do mundo digital. Neste sentido, as crianças e adolescentes são moldadas por esta exposição; cabe aos profissionais de saúde conhecerem os seus riscos e benefícios, de forma a poderem aconselhar os pais da melhor forma”.
POD ou não POD…
A Perturbação de Oposição e Desafio (POD) enquadra-se nas Perturbações Disruptivas do Controlo dos Impulsos e do Comportamento e nem sempre é de fácil diagnóstico. “Constitui um problema que tem vindo a crescer e a preocupar cada vez mais as famílias, os profissionais de saúde e do ensino, bem como a sociedade em geral. Não há causa clara. No entanto, a maioria dos especialistas acredita que uma combinação de fatores de risco biológicos, psicológicos e sociais desempenha um papel no desenvolvimento da POD”, assegura José Boavida Fernandes.
De acordo com o especialista do Hospital Pediátrico de Coimbra, “a POD surge associada à PHDA (Perturbação de Hiperatividade com Défice de Atenção), pelo que, nestes casos, se deve intervir ao nível do tratamento desta problemática, o que irá melhorar o comportamento da criança e o seu relacionamento interpessoal. A intervenção terá que ser feita, quer com a criança, quer com a família. Com a família é essencial fazer uma «reeducação», explicando-lhes como estabelecer limites claros e bem definidos, estabelecer regras e saber negociar comportamentos, bem como não esquecer o reforço positivo de comportamentos assertivos”.
Com a criança, José Boavida Fernandes defende tem de ser trabalhado “o autocontrolo, ensinando-lhe a pensar antes de agir, a ponderar antes de responder e a evitar confrontos. Podem, também, trabalhar-se competências sociais para melhorar a interação das crianças com os pares e com os adultos. Quanto mais cedo se intervir, melhores serão os resultados!”.