A MGF possui mais um doutorado entre as suas hostes. Conceição Balsinha, médica de família e investigadora do Comprehensive Health Research Center (CHRC) realizou no passado dia 21 de março, no Auditório Professor Doutor Manuel Machado Macedo da NOVA Medical School – NMS – (Universidade Nova de Lisboa), as suas provas de doutoramento em Medicina, na especialidade de Investigação Clínica, com a tese «Users and Health Professionals’ Perspectives Regarding Portuguese Primary Care Services: A Focus on Dementia».
O júri das provas foi presidido por Fernando Xavier (NMS) e integrou como restantes elementos Ana Verdelho (Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa), Paula Broeiro (Escola de Saúde Pública e Desenvolvimento Humano da Universidade de Évora), Maria Teresa Correia (Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa), Manuel Gonçalves Pereira (NMS) e Bruno Heleno (NMS).
A tese defendida – que se baseou em três estudos qualitativos, envolvendo unidades de cuidados primários da área metropolitana de Lisboa – pretendeu “contribuir para a compreensão de como são prestados os cuidados na demência em cuidados primários”. Descreveu também “as experiências e as perspetivas dos médicos de família, das pessoas com demência e dos seus familiares cuidadores sobre o papel atual daqueles profissionais na prestação de cuidados na demência e as questões que influenciam este papel” e explorou “os cuidados na demência no contexto de consultas envolvendo tríades” e “as barreiras à implementação da Estratégia Portuguesa para a Demência nas equipas de cuidados de saúde primários”. Em dois dos estudos foram realizadas entrevistas semi-estruturadas face a face com dez médicos de família, oito enfermeiros, quatro assistentes sociais, oito pessoas com demência e dez familiares cuidadores. No terceiro estudo analisaram-se as consultas com as tríades envolvendo os mesmos médicos de família, pessoas com demência e seus familiares cuidadores. Os resultados destes estudos indiciam que “o exercício da prática clínica dos médicos de família na prestação de cuidados na demência era feita de forma isolada nas equipas de cuidados primários”.
Segundo Conceição Balsinha, “as principais conclusões do nosso estudo confirmam que as equipas de CSP não parecem estar preparadas para cumprir os requisitos da Estratégia Portuguesa para a Demência. É necessário envolver diferentes profissionais dos CSP (e.g. enfermeiros) nos cuidados prestados na demência. Estes profissionais precisam de ter competências na área da demência e precisam ter papéis melhor definidos. Para os CSP poderem fazer melhor o seu papel, também são necessários mais recursos na comunidade específicos para a demência”.
A médica de família garante que a demência, a área de investigação que escolheu para realizar o seu doutoramento, foi uma opção que surgiu “em certa medida por acaso. No entanto, este tema é relevante uma vez que se trata de uma área pouco estudada nos CSP no nosso país e também porque está a ser discutida a implementação da Estratégia Portuguesa para a Demência”. Do ponto de vista da mais valia que o seu trabalho pode representar em termos de conhecimento para os decisores em saúde e de orientações para as carteiras de serviços das unidades, Conceição Balsinha frisa que os dados recolhidos pela equipa de investigadores “sugerem que as pessoas com demência e as suas famílias têm um acesso limitado aos cuidados de que necessitam, na área da demência, nos CSP”.