Durante dois dias a cidade de Évora recebeu as 31ªs Jornadas de MGF, organizadas pela Delegação Distrital de Évora da APMGF, um evento que contou com 115 inscritos. A iniciativa de atualização científica, que havia sido interrompida em 2020 devido à pandemia provocada pelo SARS-CoV-2, conheceu pois uma retoma definitiva e um regresso à partilha de saber e de experiências em contacto presencial, algo de muito importante numa região em que a distância geográfica entre profissionais é um fator de inegável importância e em que faz todo o sentido contar com um fórum anual capaz de combater tal dispersão.
“Estávamos todos muito expectantes. Tivemos praticamente dois anos sem jornadas de MGF no Alentejo. A «engrenagem» tinha parado um pouco, mas este recomeçar mostrou que existia uma grande vontade de arregaçar as mangas, muitas ideias e iniciativas para concretizar. A prova disto mesmo é que montámos estas jornadas em aproximadamente dois meses, quando por hábito essa preparação era mais demorada”, recorda Maria Helena Gonçalves, delegada distrital da APMGF em Évora e membro da comissão organizadora das jornadas. A dirigente garante, ainda, “que as pessoas que se movimentaram pelos nossos espaços mostraram sempre um grande empenho em estar presentes, em conversar com colegas com quem não estavam há muito tempo”.
O primeiro dia de trabalhos ficou marcado por mesas redondas de enorme utilidade para a atividade do médico de família, sobre temáticas como a Medicina Forense, a Proctologia Prática, ou os riscos e benefícios das novas dietas. Já o dia 27 ficou essencialmente reservado para discutir as repercussões da Covid-19 nas equipas dos cuidados de saúde primários e nos utentes e o recomeço imposto pela pandemia, um assunto abordado em conferência por Eugénia Brito Raimundo, especialista em motivação organizacional e teambuilding. “Por um lado, mantivemos os nossos temas eminentemente clínicos, como é tradicional das Jornadas de Évora. Por outro, pensámos que seria importante um segundo dia de reflexão, para perceber de que forma a Covid (que nos obrigou a reorganizar e reaprender) pesou nos utentes e nos profissionais (ao nível laboral, familiar, etc.) e as lições que tiramos desta fase difícil para o futuro. Fechámos as jornadas com chave de ouro, através de uma sessão dedicada ao recomeço das atividades e da nossa vida enquanto médicos de família, afinal aquilo que somos na realidade e que nunca esquecemos de ser, mesmo nos momentos mais difíceis”.
Valorização do médico de família… em standby
No arranque destas históricas jornadas, o presidente da APMGF reiterou que o poder político anda desatento e teima em não conceder aos médicos de família as condições de trabalho desejáveis para cumprir bem a sua missão: “chega de palavras bonitas, parem de nos considerar como representativos de coisas importantes, a base, o centro do sistema de saúde, ou algo de similar. Está na altura de passar às ações. Esta pandemia mostrou que estivemos sempre ao lado dos nossos doentes, não parámos em momento algum, apenas executámos tarefas diferentes que nos foram pedidas. Por isso, nunca como hoje foi tão urgente realçar a importância do médico de família”. Nuno Jacinto defendeu que os médicos de família portugueses necessitam, sem mais delongas, de reconhecimento e valorização reais: “o grande desafio para os próximos anos é o de valorizar os médicos de família, dar-lhes boas condições de trabalho e a possibilidade de serem médicos de família por inteiro, de voltar ao centro da Saúde e não apenas ao centro de saúde”.