O 22º Encontro de Medicina Geral e Familiar (MGF) do Alto Minho, iniciativa promovida nos dias 2 e 3 de junho pela Delegação Distrital de Viana do Castelo da APMGF, em colaboração com o Centro de Saúde de Melgaço e o Núcleo de Internos de Direção de Internato Ricardo Jorge, decorreu na Escola Superior de Desporto e Lazer de Melgaço – Instituto Politécnico de Viana do Castelo – e acolheu 112 inscritos. Sob o lema «Cuidar, do primeiro ao último dia», este encontro mostrou que o desejo de atualização científica permanece bem vivo no Alto Minho e apesar da distância até ao município mais a norte de Portugal muitos não quiseram perder a oportunidade de dar um salto até Melgaço, com vista a partilharem boas práticas em Medicina Geral e Familiar (MGF).
As temáticas em foco nas conferências, mesa-redondas e workshops do 22º Encontro do Alto Minho variaram entre o doente complexo em CSP, os cuidados em fim de vida, os sistemas de monitorização das unidades de saúde, o testamento vital, a gestão do risco cardiovascular, a preparação para a parentalidade, as diferenças entre MGF rural e MGF urbana ou a felicidade no dia-a-dia do médico de família (MF), esta última merecedora de uma interessante conferência de abertura proferida por Isabel Marques, especialista em Farmácia Comunitária, diplomada em Naturopatia e Homeopatia e treinadora certificada de high performance.
Para Sofia Azevedo, delegada distrital da APMGF em Viana do Castelo e membro da Comissão Organizadora e Científica do Encontro do Alto Minho, a importância de dar continuidade a este fórum anual ficou mais vincada após a pandemia: “o facto de termos estado tão afastados durante estes últimos dois anos faz-nos sentir ainda mais a necessidade de nos juntarmos, trocarmos ideias e partilharmos conhecimentos. Estes momentos são extremamente importantes para que consigamos manter a nossa qualidade em termos de trabalho e formação e também para nos sentirmos realizados, como pessoas e médicos”. Sobre a circunstância de a organização ter optado por dar à felicidade no local de trabalho um papel de relevo no programa, desde logo como pano de fundo da conferência de abertura, a delegada distrital da APMGF em Viana do Castelo considera que a escolha foi de certa forma óbvia: “escolhemos a Dra. Isabel Marques, alguém com conhecimentos na área e que nos veio trazer uma perspetiva diferente sobre a nossa forma de olhar a felicidade. Se não estivermos bem, não vamos ser capazes de cuidar bem. Quanto melhor nos sentirmos enquanto profissionais e pessoas, melhores seremos capazes de cuidar daqueles que nos procuram. Com uma carga de trabalho tão intensa nos últimos tempos e com a dificuldade registada em retomar as nossas atividades, é muito importante conservarmos esta perceção de que se não cuidarmos de nós, não conseguiremos cuidar dos outros”.
Na abertura do encontro, o presidente do Conselho de Administração da Unidade Local de Saúde do Alto Minho (ULSAM), António Franklim Ramos, sublinhou o facto de a integração entre níveis de cuidados e a proximidade entre hospitais e CSP terem dado passos de gigante na região, nos últimos anos, favorecendo em muito o quotidiano dos MF: “recordo-me que, há alguns atrás, existia uma grande carência ao nível informático e dos sistemas de informação, um problema que hoje está, em parte, ultrapassado. Mas só em parte, porque em termos de software há muito para fazer e seria desejável que o Ministério da Saúde pensasse em ter um registo clínico único para o utente, algo que seria uma mais valia para todos e que evitaria que andássemos a sair de um sistema para entrar noutro”. Tal cenário colocaria de lado aquilo que o presidente da ULSAM classifica como “clausuras ou clusters”, trocados em definitivo por uma real “partilha de informação”.
O vice-presidente da APMGF, António Pereira, aproveitou o arranque dos trabalhos para frisar que o Encontro de MGF do Alto Minho “é exemplar, porque consegue congregar na organização a autarquia local, a ULSAM, a Delegação Distrital da APMGF, os representantes dos CSP da localidade onde se realiza e os médicos internos (força de futuro da MGF que assim é integrada, desde cedo, na concretização destes eventos)”. O dirigente associativo explicou ainda que os médicos de família portugueses já sentiam saudades de se reunirem desta forma, “sem máscaras, com a possibilidade de conviverem, falarem e trocarem experiências, algo que contribuirá também para que possamos cuidar dos nossos utentes ao longo de toda vida, no nosso consultório, focados na melhoria do seu estado de saúde”.