O livro «O Barão Trepador», do escritor Italo Calvino, será o centro de todos os debates na próxima sessão do Clube de Leitura APMGF, programada para o dia 21 de Junho, a partir das 21h00. A participação no Clube de Leitura está sujeita a inscrição prévia, é gratuita para os sócios da APMGF e tem um custo de 35 euros para não sócios (valor que permite participar no ciclo integral de oito sessões). No final do ciclo, todos os participantes do Clube de Leitura que tenham assistido às sessões em direto receberão um diploma de participação entregue pela APMGF.
O médico de família dinamizador da sessão e responsável pela escolha da obra a analisar no dia 21 é José Falcão Tavares, colega que desde há longa data manifesta um especial interesse por campos como a Medicina Narrativa e que aqui nos deixa uma breve introdução a este romance fantasioso de meados do século XX.
Italo Calvino nasceu em Cuba em 1923 e morreu em Siena (Itália) em 1985, por hemorragia cerebral. Esta obra, O Barão Trepador, publicada em 1957, faz parte de uma trilogia chamada Os Meus Antepassados, em que se incluem O Visconde Cortado ao Meio e O Cavaleiro Inexistente.
Possui um forte cunho autobiográfico. Onde se lê D´Ombrosa poderá ler-se San Remo, cidade fundada pelos romanos na Ligúria, entre a Toscânia e a Riviera Francesa. Escolhi este livro porque permite visitar o Ciclo de Vida Familiar, verificar numa família disfuncional as várias dimensões de uma família, reconhecer o lugar que o adolescente ocupa numa família. O motivo mais forte para a escolha não foi nenhum destes. O Barão Trepador possui o perfume nostálgico da infância e é uma poderosa alegoria sobre o mundo a partir da vida de um rapaz aventureiro, Cosimo.
A escolha dos nomes dos personagens é útil para compreendermos o que é uma alegoria (trocar b por a). Cosimo, para ele próprio, é um nome de velho, quer dizer Cosme. Italo Calvino foi buscar a sua etimologia ao grego, Cosimo quer dizer Cosmo ou Mundo.
Por isso, este rapaz que subiu para uma árvore e nunca mais desceu se correspondia com o filósofo Voltaire. Foi este quem disse para Biaggio, o irmão mais novo de Cosimo, que é o narrador do livro: “Antes era somente a Natureza que criava fenómenos vivos, agora é a Razão”.
Foi em 1966 que Michel Foucault, nove anos depois de ser publicado O Barão Trepador, publicou As Palavras e as Coisas. Aqui, ele escreveu que “o homem nasce no século XVIII”. Foi então que o homem se viu como diferente dos outros seres, isto é, dotado de Razão. O homem, sabemos nós, terá nascido em 15 de Junho de 1767. “Lembro-me como se fosse hoje”, contou Biaggio. E subiu para cima de uma árvore.