As 19ªs Jornadas de MGF dos Açores, organizadas em Angra do Heroísmo pela Delegação Regional dos Açores da APMGF, registaram o maior número de inscritos de sempre no evento: 190. Foram três dias de partilha científica e convívio entre pares, tão necessário para a comunidade de Medicina Familiar do arquipélago açoriano, habitualmente fragmentada entre ilhas.
“Os tempos que atravessamos são de difícil descrição, uma vez que ainda não conseguimos encerrar o ciclo pandémico e somos confrontados, diariamente, com uma guerra em território europeu. Face a estas adversidades, o que podemos visionar é um futuro de verdadeira imprevisibilidade e incerteza, mas ao mesmo tempo desafiador. Estes são conceitos que para nós, médicos de família, podem constituir um real estímulo. Espera-se um incremento de patologias que afetam as nossas comunidades, em particular ao nível do foro mental e também descompensação metabólica. Isto traz-nos um tempo de verdadeira mudança e adaptação para que possamos dar uma resposta adequada a todos, com base científica”, explicou Tatiana Nunes, delegada regional da APMGF dos Açores na abertura dos trabalhos. Para esta dirigente, o sucesso da 19ª edição das Jornadas dos Açores explica-se por múltiplos fatores: “além de termos escolhido uma ilha que não é habitual para estas iniciativas, a Terceira, há que assinalar o facto de termos saído de uma época pandémica, de ser absolutamente necessária atualização médica e de estarmos todos muito desejosos de contacto físico na comunicação interpares. Tudo isto motivou a grande adesão este ano às jornadas”.
Tatiana Nunes recorda que “qualquer encontro que é realizado nos Açores, no âmbito da MGF, é muito importante, devido à nossa insularidade e distância que temos uns dos outros, num cenário composto por nove ilhas, com nove realidades diferentes. É vital o contacto entre profissionais, a partilha de conhecimentos e experiências, mas também a atualização científica, já que não temos grande facilidade de ir a outros eventos formativos. Assim, dentro da Região Autónoma, conseguimos mais facilmente construir esta ação formativa e atingir a referida atualização científica e convívio entre colegas, que é essencial para nos conhecermos”.
Berto Cabral, diretor regional da Saúde, lembrou que a Região Autónoma dos Açores conta no presente com 221 especialistas em MGF e garantiu que é desígnio do governo regional que “todos os açorianos tenham um médico de família, no mais curto espaço de tempo”, embora tenha reconhecido as enormes dificuldades observadas na perseguição deste objetivo: “estamos a realizar grandes esforços e foi nesse sentido que foram alterados os incentivos à fixação de médicos na Região Autónoma dos Açores, com alterações significativas neste domínio contempladas no ultimo orçamento regional. Todavia, não deixamos de sentir preocupação quando existe um número muito baixo de concorrentes face ao número de vagas que são postas a concurso, com exceção de São Miguel, ilha em que vamos tendo já alguns concursos em que os concorrentes superam as vagas. Mais preocupante é ainda constatar, por exemplo, que existem vagas para formação especializada que ficam por preencher”. De acordo com o responsável regional, é motivo de apreensão que “certas ilhas tenham apenas um médico de MGF nos seus quadros, com alguns dos cuidados à população a serem prestados por médicos indiferenciados. Esta é uma realidade que gostaríamos de transformar, a bem da saúde dos açorianos”.
Nestas jornadas, Berto Cabral aproveitou para anunciar que a breve trecho será aprovado um diploma destinado a modificar as regras de pagamento do trabalho médico suplementar, situação que afetará muitos médicos de família, os quais tradicionalmente apoiam em horário não regular as suas unidades ou serviços de urgência e que “se sentem por vezes injustiçados, face àqueles que são prestadores de serviços”. O diretor regional da Saúde prometeu ainda investimento, através de verbas contidas no Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), numa maior interoperabilidade dos sistemas de informação, para que os profissionais possam “desempenhar melhor as funções, melhorando as condições em que os MF exercem a sua atividade e fazendo com que as respostas em saúde sejam mais rápidas”.
Por último, Berto Cabral sublinhou que “o Governo Regional dos Açores e a Direção Regional da Saúde veem com agrado a retoma das Jornadas de MGF nos Açores, passados os mais de dois anos que levamos de pandemia, em que tudo era feito por via digital ou se processava com grandes medidas de contingência, que impediam naturalmente que a formação e a partilha fossem feitas como antes da pandemia”.