O Grupo de Estudos de Gestão em Saúde (GEST) conta-se entre os mais recentes núcleos de trabalho da APMGF e pretende ser um apoio importante para todos os médicos de família portugueses. De facto, num tempo em que os resultados nos cuidados de saúde primários se obtêm quase exclusivamente em contexto de equipa, com desafios evidentes de integração, planeamento e liderança, os profissionais de saúde carecem de aptidões adicionais na dimensão gestionária. Nesta breve entrevista, o elemento da Comissão Coordenadora do GEST, José Pedro Antunes, descreve a génese do Grupo (já presente na webpage da APMGF) e o que este poderá oferecer aos colegas nos meses e anos que se avizinham.
Este Grupo de Estudos surgiu por iniciativa de que profissionais e com que objetivos iniciais em mente?
José Pedro Antunes – O Grupo surgiu através da identificação, por parte de um conjunto de sócios da APMGF, da mais valia que poderia representar um grupo de estudos dedicado a esta temática para todos os médicos de família e, em especial, para os associados.
A prática clínica e a gestão em saúde foram tradicionalmente encaradas como universos diferentes, ainda que paralelos, que teriam de ser ocupados por pessoas com distintos perfis/percursos? Esta é uma visão em definitivo ultrapassada, nos dias que correm?
Na verdade, não me parece que tais vertentes (prática clínica e gestão em saúde) tenham estado alguma vez separadas. As duas sempre mantiveram grande proximidade, até porque uma das funções basilares do médico de família é a visão integradora dos cuidados de saúde, enquanto gestor dos cuidados de saúde primários (CSP). No entanto, ao longo dos anos e muito por causa da reforma e do novo modelo de unidade de saúde familiar (USF), verificou-se de facto uma necessidade crescente dos profissionais obterem qualificações nesta área, algo que torna ainda mais relevante a fundação do nosso grupo de estudos. Como já referi, um médico de família é, por definição, um gestor de recursos. Perante todo o enquadramento histórico e de evolução da especialidade, no presente faz também parte da dinâmica de um médico de família a assunção de um papel não clínico. Ora se estas vertentes não clínicas são fundamentais para o exercício da nossa especialidade, é importante que esteja garantido acompanhamento por parte da APMGF e que existam grupos de estudos no seu interior que se encarreguem de perceber a evolução natural destes saberes e de proporcionar atualização técnico-científica nestes domínios.
Diria, então, que a reforma dos CSP e o modelo USF vieram despertar um maior interesse por matérias associada à gestão em saúde, junto dos médicos de família e futuros médicos de família?
Sim, com a implementação da reforma surgem as equipas multiprofissionais, que por si só constituem modelos de organização mais exigentes, ao nível das capacidades de gestão. Com este modelo, regista-se igualmente uma autonomia organizativa, funcional e técnica, autonomia essa que se faz acompanhar por um leque de responsabilidades inerentes aos médicos de família. Todo o funcionamento das USF passa a exigir competências específicas, por exemplo em termos de negociação e contratualização, gestão de conflitos, ou marketing em saúde das próprias unidades. Estes papéis, a partir deste momento desempenhados quer pelo coordenador, quer pelos membros do Conselho Técnico da USF, requerem um conjunto de conhecimentos que nos currículos pré-graduados e pós-graduados não se encontram presentes ou não satisfazem as necessidades sentidas. Perante estas falências formativas, julgo que a colaboração da APMGF e do GEST se torna ainda mais relevante e imprescindível.
Que iniciativas foram já desenvolvidas pelo vosso Grupo desde a fundação e que propostas pretendem dinamizar a curto prazo?
A primeira grande ação foi sobretudo a definição do modus operandi, das dinâmicas internas e do regulamento que determina o nosso funcionamento, uma tarefa que tem sido partilhada por todo o grupo. Já contamos com onze elementos, todos com uma participação ativa e realizamos reuniões com uma regularidade mensal. Por outro lado, já tivemos a oportunidade de emitir, em cooperação com a Direção Nacional da APMGF, um parecer relacionado com estas matérias de gestão em saúde e lançámos, no decurso do último Encontro Nacional de MGF, um questionário relacionado com as necessidades formativas dos sócios neste campo. Durante o 39º Encontro Nacional também promovemos um workshop sobre negociação.
Em termos futuros, queremos aprofundar o conhecimento sobre as necessidades formativas e de investigação dos associados, para que munidos desses dados possamos desenvolver atividades, facilitar o acesso a informação científica de relevo, estabelecer parcerias com instituições nacionais e internacionais, potenciar as competências na área da gestão de saúde e fomentar a partilha e discussão interpares.
Há abertura, da vossa parte, para projetos colaborativos com outros grupos de estudo da APMGF e, se sim, em que âmbito se poderiam concretizar?
A área de abrangência do GEST é transversal às temáticas sobre as quais se debruçam os demais grupos de estudo da APMGF. Assim, estaremos sempre recetivos a fomentar o conhecimento no âmbito da gestão direcionada a qualquer área que seja abordada pelos restantes grupos, em parceria, porque somos de facto um grupo aberto. Para nós, o trabalho em rede ou networking é muito significativo, não somente com entidades externas que estão para além da APMGF, mas também internamente, porque é do interesse de todos manter essa harmonia e desenvolver trabalho colaborativo. Afinal de contas, é objetivo comum e valorizado de todos os grupos concretizar a atualização cientifica dos sócios e contribuir para o desenvolvimento da nossa especialidade, algo que resultará em melhor prestação de cuidados de saúde e maior satisfação das populações.